O ultradireitista que virou fenômeno eleitoral na Argentina
Sem experiência política, economista Javier Milei tenta conquistar espaço abusando da retórica agressiva contra elites políticas e a esquerda. Ele também se mostra satisfeito ao ser comparado a Bolsonaro e Trump.Sem experiência política, um professor de economia que exibe retórica agressiva e provocativa contra a classe política e a esquerda tenta romper a velha polarização partidária argentina.
Javier Milei, de 50 anos, é o líder do Liberdade Avança, um partido que se pinta como "libertário", mas que exibe paralelos com movimentos da extrema direita mundial, como o trumpismo e o bolsonarismo.
Juntamente com outras pequenas legendas que se dizem libertárias e políticos de extrema direita, o partido fundou uma lista para os próximos pleitos parlamentares, em 14 de novembro. Nas pré-eleições de setembro - uma peculiaridade do sistema eleitoral da Argentina - o Liberdade alcançou 13% dos votos, o suficiente para estar em todas as cédulas no pleito de novembro e alçando Milei a líder da terceira força política de Buenos Aires. Os planos do grupo, porém, são mais ambiciosos e incluem disputar a Presidência em 2023.
Seu eleitorado é principalmente de jovens, muitos dos quais parecem ter se entusiasmado com a aparência pouco convencional de Milei e a retórica agressiva do economista contra o establishment argentino. Antigo cantor de uma banda de rock, Milei com frequência se apresenta de jaqueta de couro em comícios nos quais os participantes gritam slogans como "Estão com medo, os esquerdistas estão com medo". Os cabelos densos, sempre desgrenhados e apontando em todas as direções, lhe valeram o apelido "Peluca" (Peruca).
Com Bolsonaro e Trump contra o socialismo
Não é só o estilo anticonvencional que suscita comparações com o ex-presidente americano Donald Trump ou seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro. Para Javier Milei, o paralelo não poderia ser mais lógico: "Nossa linha comum é a luta contra o comunismo, contra o socialismo", pontifica.
Com Trump ele tem em comum, além disso, o passado de personalidade da TV. Só que não num reality-show, mas sim explicando a economia aos argentinos, durante anos, em magazines de notícias e talkshows. Como Trump e Bolsonaro, ele também tenta emplacar sua figura como um outsider contra uma "velha política".
Assim como ocorreu com o presidente brasileiro, seu fãs nas redes sociais produzem memes e vídeos enaltecendo sua figura. Recentemente, Milei realizou lives com o deputado brasileiro Eduardo Bolsonaro. "Não só adoramos deixar os esquerdistas loucos, mas também nos une a liberdade", afirmou o filho do presidente Jair Bolsonaro sobre esses encontros.
As frases de efeito de Milei, muitas vezes recheadas com palavrões, mostram apelo fácil. Num programa de humor, ele explica a seu dublê satírico:
"O direitista não te deixa ir para a cama com quem quiseres, o esquerdista não te deixa fazer negócios com quem queiras. O libertário não liga nem com quem fazes negócios, nem com quem vais para a cama."
Em outras ocasiões, apela para a agressividade. "Classe política de merda, bandida, parasitária, jamais irei contra a propriedade privada, contra a liberdade, aumentar um imposto", disse num comício.
Milei também vem se beneficiando da queda de popularidade do presidente, da má administração da pandemia e do persistente mau desempenho econômico do país, além dos rotineiros casos de corrupção que envolvem a classe política argentina.
Libertário?
Alguns dos argumentos de Milei seguem a doutrina econômica da Escola Austríaca, cujos principais representantes são o economista Ludwig von Mises, o ganhador do Prêmio Nobel Friedrich von Hayek e o anarco-capitalista americano Murray Rothbard. Sua ideia central é que um Estado mínimo é o melhor para o povo.
Mas o autoproclamado libertarianismo de Milei mostra contradições e é apontado por críticos como uma mera roupagem para esconder sua natureza de extrema direita.
Por um lado, Milei defende ideias tradicionais dessa corrente, como a oposição à arrecadação de impostos e benefícios sociais, que seriam antissociais por colocar os cidadãos na dependência do Estado e dos políticos que fazem promessas. O grupo político de Milei também defende pautas como a flexibilização do armamento pela população, o casamento igualitário e a legalização das drogas.
Mas o libertarianismo para por aí. Milei e seus apoiadores são contra o aborto e mostram sintonia com ultradireitistas que tentam pintar um retrato falso da ditadura do país. Eles se opõem, por exemplo, aos processos judiciais contra torturadores do regime, afirmando que o mesmo não ocorre com ex-guerrilheiros de esquerda.
Uma das candidatas da lista de Milei é Victoria Villarruel, que dirige uma organização que exige reparações a pessoas que ela considera vítimas da ação de guerrilheiros.
"Não está claro se todos entendem o que defendem. Para alguns, a liberdade é econômica; para outros, é acabar com a esquerda", disse o cientista político Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés, ao jornal O Globo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.