Alemanha registra 100 mil mortos por covid-19 em meio ao avanço da pandemia no país
Em meio a avanço da quarta onda da pandemia, país supera triste marca. E por trás de cada uma das mortes contabilizadas há uma história de vida e sofrimento para os que ficam. Kerstin perdeu o pai, de 83 anos, para a covid-19 há um ano. Ele morreu num hospital de Berlim. "Tenho certeza: ele sabia que nós estávamos lá. Apesar de eu só poder acariciar sua testa com a luva de plástico", disse ela à DW.
O pai de Kerstin é uma das mais de 100 mil pessoas que perderam a vida na Alemanha por causa da covid-19. A marca foi superada oficialmente nesta quinta-feira (25/11), após o Instituto Robert Koch (RKI) de controle e prevenção de doenças registrar 351 novas mortes em 24 horas, totalizando 100.119 óbitos desde o início da pandemia.
Kerstin relembra o longo sofrimento do pai. Ela vive em Düsseldorf; e seus pais viviam em Berlim. Quando a família recebeu o chamado de que o pai estava prestes a morrer e que uma última visita seria possível, apesar do risco de contaminação, ela, que é a filha mais velha, não se conteve. "Eu não me importava com nada. Eu queria ao menos me despedir do meu pai."
À noite, ela telefonou para o hospital, pegou o carro e dirigiu ao lado do filho cerca de 600 quilômetros até Berlim. Eles só puderam ficar junto ao leito no hospital por dez minutos, vestindo avental, luvas, touca, óculos de proteção. "Estávamos totalmente envoltos em plástico. Um dia depois, ele fechou os olhos para sempre."
O pai havia se mudado para um lar de idosos em dezembro de 2019, porque a esposa não podia mais cuidar dele. Três meses mais tarde, começou o isolamento por causa da pandemia. Uma vida "como em uma cela solitária", sem contato com os outros moradores da casa. Um calvário do coronavírus", diz Kerstin, "indigno e desumano".
Ele fora hospitalizado por causa de uma tuberculose, mas ainda não tinha o coronavírus. "Ele provavelmente foi contaminado por um médico na clínica", acredita Kerstin. Ao mesmo tempo que lembrar do sofrimento do pai lhe faz chorar, ela sorri ao lembrar de sua alegria de viver.
"Cansados do fardo da pandemia"
Para Kerstin e sua família, a morte do pai e os primeiros dias de luto foram uma jornada dolorosa que durou muito tempo. Para o enterro da urna, havia sido marcada uma data em janeiro, mas "não daria tempo para toda a família se despedir". Por fim, o enterro acabou sendo em maio.
Além dos pacientes e mortos por covid-19 e seus familiares, enfermeiros e médicos também vêm sofrendo imensamente na pandemia, vendo pessoas sendo ligadas a respiradores e sua saúde se deteriorando.
"Todos temos medo de morrer", diz a enfermeira Rita Kremers, de Bad Nauheim. Uma colega dela morreu em decorrência do coronavírus na UTI, seis semanas depois de ser infectada. "Realmente nos afeta quando é alguém que conhecemos que morre", lamenta.
Já houve uma homenagem oficial aos mortos pelo coronavírus na Alemanha. Em meados de abril de 2021, o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, disse em Berlim, numa sala quase vazia devido às restrições de isolamento:
"Estamos cansados do fardo da pandemia e machucados na luta em busca do caminho certo. É também por isso que precisamos de um momento de pausa para refletir", disse Steinmeier, falando sobre a "tragédia humana da pandemia".
"São sempre pessoas"
Para Petra Bahr, bispa protestante em Hannover, cada morte "representa uma história, uma vida abortada". Em entrevista à DW, Bahr chama de "ultrajantes" os números que não param de crescer:
"Praticamente já nos acostumamos a eles e tomamos conhecimento deles com frieza." Mas é importante estar ciente de que "não são números que morrem, são sempre pessoas", diz.
Até agora, o maior número de mortes ocorreu no inverno passado, quando o RKI chegou a computar mais de mil óbitos por dia. No momento, a quantidade de mortes diárias é significativamente menor, embora as infecções sejam muito mais. Nesta quinta-feira, foram registrados 75.961 novos casos de covid-19 em 24 horas, com a marca de 70 mil infecções num dia sendo superada pela primeira vez.
Ao contrário da primeira onda da pandemia, em que a morte de indivíduos foi percebida com muito mais intensidade, agora "as mortes parecem nos interessar cada vez menos", afirma Bahr. E isso embora agora estejam morrendo "grávidas, bebês, mães e jovens pais" - mortes que estão ligadas a "muito mais consequências, com significativamente mais dificuldades e sofrimento e também vidas destruídas".
Historiadores como Dietmar Preissler preveem efeitos de longo prazo da pandemia na Alemanha. Assim como a peste negra na Idade Média ou a gripe espanhola de 1918, a covid-19 também influenciará a sociedade, diz.
Apesar de todo o sofrimento enquanto lamenta os mais de 100 mil mortos, a Alemanha também se prepara para mais um difícil inverno em meio à atual quarta onde de infecções que assola o país.
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