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Ucrânia anuncia primeiro julgamento de soldado russo por crime de guerra

Área de escola atingida em Novhorod-Siversky, cidade no norte da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia - Reprodução/Facebook/StratcomCentreUA
Área de escola atingida em Novhorod-Siversky, cidade no norte da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia Imagem: Reprodução/Facebook/StratcomCentreUA

12/05/2022 12h06

O Ministério Público ucraniano disse que deu início ao julgamento de Vadim Shishimarin, um militar russo de 21 anos acusado de matar um civil desarmado de 62 anos em 28 de fevereiro, apenas alguns dias após o início da invasão russa na Ucrânia.

Shishimarin teria atirado da janela de um carro roubado, enquanto fugia com outros quatro soldados a bordo do veículo. "O homem morreu no local a apenas algumas dezenas de metros de sua casa", disse um comunicado do gabinete da procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova.

Juntamente com outro quatro soldados, ele queria fugir no carro após sua caravana de tanques ter sido atacada no norte da Ucrânia. O civil de 62 anos teria testemunhado o roubo do automóvel quando estava andando de bicicleta perto de sua casa no povoado de Chupakhivka. Segundo fontes ucranianas, ele não estava armado.

Conforme os investigadores ucranianos, o suspeito disparou por ordem de outro membro do exército russo, para evitar que o homem denunciasse os soldados.

A promotoria de Kiev não compartilhou detalhes de como o soldado foi preso na Ucrânia ou o que aconteceu com os outros de seu grupo. A data do julgamento também não foi especificada. Shishimarin pode ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado.

Volodimir Iavorski, do Centro para as Liberdades Civis, disse que o grupo ucraniano de direitos humanos acompanhará de perto o julgamento para garantir que ele seja justo. "É muito difícil observar todas as regras, normas e neutralidade dos procedimentos judiciais em tempo de guerra", disse.

'A escala de assassinatos ilegais é chocante'


A invasão russa provocou um êxodo de quase seis milhões de civis, muitos dos quais relatam casos de tortura, violência sexual e destruição indiscriminada. O escritório da procuradora-geral Venediktova disse que recebeu relatos de mais de 10 mil supostos crimes de guerra, com 622 suspeitos identificados.

Milhares de corpos foram achados em povoados nos arredores da capital ucraniana, Kiev, nos últimos dias, com muitos dos assassinatos possivelmente representando crimes de guerra em meio à invasão russa, de acordo com a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

"A escala de assassinatos ilegais, incluindo indícios de execuções sumárias em áreas ao norte de Kiev, é chocante", disse Bachelet ao Conselho de Direitos Humanos, com sede em Genebra, por meio de videoconferência.

O conselho tem agendado para hoje um encontro extraordinário em que pode ser lançada uma decisão sobre uma investigação oficial a respeito dos eventos que ocorreram em Kiev e outras regiões em fevereiro e março, enquanto as tropas russas ocupavam as áreas. Investigadores da ONU estão coletando na Ucrânia provas de crimes de guerra.

Nesta terça-feira, a Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU afirmou que o número de mortes de civis nas 11 semanas da guerra na Ucrânia supera em milhares a contagem oficial de mortos das Nações Unidas.

Segundo a contagem oficial, o total de civis mortos desde o início da invasão russa no país seria de 3.381. A equipe da ONU, que inclui 55 observadores na Ucrânia, afirma que a maioria das mortes foi causada por armas explosivas de impacto amplo, como mísseis provenientes de ataques aéreos.