Como a guerra na Ucrânia muda o comércio de armas no mundo; pior para Putin

A guerra na Ucrânia está tendo um impacto significativo no comércio global de armas, e em mais de um sentido. O think tank Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo, o Sipri, comparou o período de 2019 a 2023 com o período de 2014 a 2018 e identificou várias mudanças, algumas delas dramáticas.

Por exemplo, o volume do comércio global de armas diminuiu 3,3% em relação a 2014-18. No entanto, as importações de armas pela Europa quase dobraram, principalmente devido à guerra na Ucrânia. A maioria das armas compradas pela Europa, 55%, veio dos EUA. Isso representa 20 pontos percentuais a mais do que no período de 2014 a 2018, um sinal claro de que a Europa se tornou ainda mais dependente dos Estados Unidos.

EUA ampliam liderança

E principalmente devido ao aumento das exportações para a Europa, os EUA conseguiram aumentar em 17% suas exportações globais de armas. De um modo geral, a participação dos EUA no comércio internacional de armas aumentou significativamente, de 34% para 42%. Os EUA forneceram equipamentos de defesa a 107 países em todo o mundo, mais do que em qualquer período anterior de cinco anos. Também nesse ponto ele são líderes isolados.

"Os EUA expandiram seu papel global como fornecedor de armas, e esse é um aspecto importante de sua política externa", escreve o analista Mathew George, do Sipri. Ele ressalta que isso está acontecendo num momento em que "o domínio econômico e geopolítico dos EUA está sendo desafiado por algumas economias emergentes".

Ucrânia foi o maior importador em 2023

Não é de se admirar que, entre os países europeus, a Ucrânia tenha aumentado drasticamente suas importações de armas. Se no período de 2014-18 o país ainda era um importador pequeno, em parte porque produzia muitas armas e, portanto, não dependia muito de importações, no período de 2019-23 (a guerra de agressão russa começou em 2022), a Ucrânia se tornou o quarto maior importador do mundo, depois da Índia, da Arábia Saudita e do Catar. Um aumento de cerca de 6.600%.

Se for considerado apenas o ano de 2023, a Ucrânia foi até mesmo o maior importador de armas do mundo. No entanto, o termo "importador" é um tanto enganoso, pois as entregas para a Ucrânia não sobretudo doações de equipamentos de defesa, e não vendas.

Os principais fornecedores de armas para a Ucrânia no período de 2019 a 2023 foram os EUA, com uma participação de 39%, seguidos pela Alemanha (14%) e pela Polônia (13%).

A Rússia fica para atrás

Os cinco maiores exportadores de armas do mundo continuam sendo EUA, França, Rússia, China e Alemanha. No entanto, a ordem mudou em comparação com 2014-18, e isso também está relacionado à guerra na Ucrânia.

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A França tomou o segundo lugar da Rússia. Enquanto as exportações russas caíram 53%, as francesas cresceram 47%. O número de países que recebem equipamentos de defesa russos também caiu drasticamente. Se, em 2019, 31 países receberam armas de Moscou, em 2023 foram apenas 12, sendo a Índia e a China, de longe, os mais importantes.

Esses são os dois países que, também em outros produtos, como petróleo e gás, não têm qualquer inibição para continuar negociando com a Rússia. "Em outros casos, os EUA e os países europeus exerceram pressão sobre os possíveis compradores de armas russas", explica Pieter Wezeman, um dos autores do relatório. Ele menciona o exemplo do Egito, que queria comprar caças russos, foi pressionado pelos EUA a não fazê-lo e agora está recorrendo à França para comprar caças.

Submarino é sucesso de exportação alemão

A Alemanha continua em quinto lugar na lista dos maiores exportadores. A principal região compradora foi o Oriente Médio. No entanto, as exportações de armas da Alemanha caíram 14%. "No entanto, o declínio é relativo porque o período de cinco anos anterior foi excepcionalmente bem-sucedido devido a algumas grandes encomendas, especialmente de submarinos", diz Wezeman.

Isoladamente, o ano de 2023 foi particularmente bom para o setor de defesa alemão. "É claro que isso tem que ver com o envio de armas para a Ucrânia", diz Wezeman. "Mas também, por exemplo, com a exportação de submarinos para Cingapura e de fragatas e corvetas para Israel e Egito."

Estratégia francesa de independência

Wezeman explica a ascensão francesa da seguinte forma: "A França adota uma política de soberania estratégica. Ou seja: quer dispor de poder militar sempre que necessário, sem depender das armas de outros países. Para isso, precisa de uma indústria bélica. Para mantê-la, precisa de exportações, caso contrário ela seria muito cara."

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Em especial nos últimos dez anos o setor de exportações militares da França foi muito bem-sucedido. O avião de caça Rafale está vendendo bem, assim como os submarinos e as fragatas dos estaleiros franceses. O maior cliente do Rafale foi a Índia, que tem comprado tanto da Rússia quanto dos países ocidentais.

Queda nas importações africanas

Enquanto a Europa quase dobrou suas importações de armas, as da África caíram pela metade. Em todas as outras regiões do mundo, as mudanças foram mínimas. No caso da África, o declínio se deve principalmente à redução significativa das importações pelos dois principais compradores: a Argélia importou 77% menos equipamentos de defesa, e o Marrocos, 46% menos.

O fornecedor de armas mais importante da África é a Rússia, seguida pelos EUA e pela China. Portanto, a África continua sendo uma região que compra muitas armas russas e onde a Rússia continua expandindo sua presença militar.

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