A odisseia dos sírios que se curam nos hospitais do inimigo israelense
Laura Fernández Palomo.
Nahariya (Israel), 7 mar (EFE).- No bunker subterrâneo de um hospital no norte de Israel dezenas de sírios feridos na guerra são atendidos por médicos israelenses antes de voltar a sua terra natal, onde terão que ocultar sua passagem por um país considerado inimigo.
Hamza (nome fictício por segurança) ficou ferido de bala perto de Damasco, segundo explicou a um grupo de jornalistas este sírio de 31 anos com a perna imobilizada e sentado na cadeira de rodas com a qual passeia pelo refúgio habilitado para casos de conflito no Centro Médico Galileia, na cidade litorânea de Nahariya.
Neste local, e com vigilância permanente do exército israelense, hoje recebem tratamento os sírios como ocorre em outros hospitais do norte que atenderam cerca de 3.000 pacientes desde que começaram a prestar assistência há quatro anos, confirmou à Agência Efe uma porta-voz militar.
Israel e Síria estão tecnicamente em guerra, embora a área das Colinas de Golã, ocupadas desde 1967 e anexadas pelas autoridades israelenses em 1981, onde residem comunidades drusas sírias, tenha se mantido em relativa calma sob um tácito pacto de não agressão.
Desde que começou o conflito na vizinha Síria ocasionalmente caem projéteis em Israel, a maioria de fogo perdido, embora tenham ocorrido disparos propositais dos quais o exército acusa o regime de Bashar al Assad e responde com bombardeios.
Uma vez recuperados nos hospitais israelenses, os sírios retornarão a seu país vestidos "com roupa comprada na Jordânia" e os médicos apagarão "qualquer sinal de sua passagem por Israel", inclusive nas próteses que utilizam para reconstruir os ferimentos da guerra, assegurou Eyal Sela, diretor de otorrinolaringologia e cirurgia de face e pescoço desse centro hospitalar.
Sela se emociona quando lembra de seu último paciente, Majid, de quem reconstruiu as feições do rosto, destroçado pela artilharia, com um molde de titânio.
"A última coisa que viu antes de ser trazido para cá foi como disparavam contra seus filhos", relatou compungido, destacando que a relação médico-paciente desmonta os estereótipos de países inimigos: "Conversamos, nos conectamos como pessoas, embora tenhamos sido educados como rivais", comentou.
A direção do Centro Médico Galileia impede que se faça imagens do rosto de Hamza e dos demais pacientes. Todos os achados pela Efe eram homens em idade de combater, embora Sharon Mann, do departamento de relações públicas do hospital, tenha sustentado que a maioria dos que atendem são mulheres e crianças.
Os soldados que se misturam com o pessoal médico evitam que os sírios deem informação de sua procedência e de como foram transferidos até o país e pedem aos jornalistas para evitar todo dado que lhes identifique.
Israel, que oficialmente não tomou parte no conflito sírio, assegura que esta assistência responde a "razões humanitárias", embora os sírios das Colinas de Golã, a 80 quilômetros do hospital, considerem que se trata de uma ajuda encoberta dos grupos armados da oposição.
"Estão curando também os terroristas. Israel toma, sim, partido na guerra síria", opinou o druso residente em Golã, Shalan Marzouk, abertamente simpatizante do regime sírio que utiliza sua mesma narrativa.
O xeque Hussam Nasser, da vila ocupada de Bukata, lhe referenda e acredita que o apoio israelense aos rebeldes procura evitar que o grupo libanês Hezbollah, que luta na Síria junto a Assad, se posicione perto da fronteira.
Nasser e Marzouk argumentam que a maioria da população do Golã tem famílias residindo nas áreas sob controle oficial da Síria e, por isso, se opõe ao tratamento de combatentes rebeldes.
Este teria sido o motivo pelo qual, em uma noite de junho de 2015, uma centena de drusos desta região atacou uma ambulância militar israelense que transportava feridos sírios perto da vila de Magdel Shams, em um incidente que provocou a morte de um deles.
Um oficial do exército, que pediu anonimato, mostrou com o dedo a divisa com a Síria que se estende a apenas um quilômetro, para indicar a passagem por onde diz que recuperam o que assegura que são "civis feridos".
"Os soldados israelenses os atendem e uma equipe médica os auxilia. Quando é necessário os transferem aos hospitais", explicou com o barulho de disparos de fundo das batalhas que são travadas a pouca distância.
Nahariya (Israel), 7 mar (EFE).- No bunker subterrâneo de um hospital no norte de Israel dezenas de sírios feridos na guerra são atendidos por médicos israelenses antes de voltar a sua terra natal, onde terão que ocultar sua passagem por um país considerado inimigo.
Hamza (nome fictício por segurança) ficou ferido de bala perto de Damasco, segundo explicou a um grupo de jornalistas este sírio de 31 anos com a perna imobilizada e sentado na cadeira de rodas com a qual passeia pelo refúgio habilitado para casos de conflito no Centro Médico Galileia, na cidade litorânea de Nahariya.
Neste local, e com vigilância permanente do exército israelense, hoje recebem tratamento os sírios como ocorre em outros hospitais do norte que atenderam cerca de 3.000 pacientes desde que começaram a prestar assistência há quatro anos, confirmou à Agência Efe uma porta-voz militar.
Israel e Síria estão tecnicamente em guerra, embora a área das Colinas de Golã, ocupadas desde 1967 e anexadas pelas autoridades israelenses em 1981, onde residem comunidades drusas sírias, tenha se mantido em relativa calma sob um tácito pacto de não agressão.
Desde que começou o conflito na vizinha Síria ocasionalmente caem projéteis em Israel, a maioria de fogo perdido, embora tenham ocorrido disparos propositais dos quais o exército acusa o regime de Bashar al Assad e responde com bombardeios.
Uma vez recuperados nos hospitais israelenses, os sírios retornarão a seu país vestidos "com roupa comprada na Jordânia" e os médicos apagarão "qualquer sinal de sua passagem por Israel", inclusive nas próteses que utilizam para reconstruir os ferimentos da guerra, assegurou Eyal Sela, diretor de otorrinolaringologia e cirurgia de face e pescoço desse centro hospitalar.
Sela se emociona quando lembra de seu último paciente, Majid, de quem reconstruiu as feições do rosto, destroçado pela artilharia, com um molde de titânio.
"A última coisa que viu antes de ser trazido para cá foi como disparavam contra seus filhos", relatou compungido, destacando que a relação médico-paciente desmonta os estereótipos de países inimigos: "Conversamos, nos conectamos como pessoas, embora tenhamos sido educados como rivais", comentou.
A direção do Centro Médico Galileia impede que se faça imagens do rosto de Hamza e dos demais pacientes. Todos os achados pela Efe eram homens em idade de combater, embora Sharon Mann, do departamento de relações públicas do hospital, tenha sustentado que a maioria dos que atendem são mulheres e crianças.
Os soldados que se misturam com o pessoal médico evitam que os sírios deem informação de sua procedência e de como foram transferidos até o país e pedem aos jornalistas para evitar todo dado que lhes identifique.
Israel, que oficialmente não tomou parte no conflito sírio, assegura que esta assistência responde a "razões humanitárias", embora os sírios das Colinas de Golã, a 80 quilômetros do hospital, considerem que se trata de uma ajuda encoberta dos grupos armados da oposição.
"Estão curando também os terroristas. Israel toma, sim, partido na guerra síria", opinou o druso residente em Golã, Shalan Marzouk, abertamente simpatizante do regime sírio que utiliza sua mesma narrativa.
O xeque Hussam Nasser, da vila ocupada de Bukata, lhe referenda e acredita que o apoio israelense aos rebeldes procura evitar que o grupo libanês Hezbollah, que luta na Síria junto a Assad, se posicione perto da fronteira.
Nasser e Marzouk argumentam que a maioria da população do Golã tem famílias residindo nas áreas sob controle oficial da Síria e, por isso, se opõe ao tratamento de combatentes rebeldes.
Este teria sido o motivo pelo qual, em uma noite de junho de 2015, uma centena de drusos desta região atacou uma ambulância militar israelense que transportava feridos sírios perto da vila de Magdel Shams, em um incidente que provocou a morte de um deles.
Um oficial do exército, que pediu anonimato, mostrou com o dedo a divisa com a Síria que se estende a apenas um quilômetro, para indicar a passagem por onde diz que recuperam o que assegura que são "civis feridos".
"Os soldados israelenses os atendem e uma equipe médica os auxilia. Quando é necessário os transferem aos hospitais", explicou com o barulho de disparos de fundo das batalhas que são travadas a pouca distância.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.