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Istambul tem dia de grandes protestos contra decisão de Trump sobre Jerusalém

08/12/2017 14h37

Ilya O. Topper

Istambul, 8 dez (EFE).- Mais de dez mil pessoas se manifestaram nesta sexta-feira em Istambul contra a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e transferir desde Tel Aviv para a Cidade Sagrada a embaixada americana.

A manifestação começou após a oração de sexta-feira na mesquita de Satih, no centro histórico de Istambul, e se dirigiu para o parque Saraçhane, a poucos metros de distância, onde foram pronunciados vários discursos.

"EUA assassinos, Trump terrorista", dizia um grande cartaz.

Também eram muitos os cartazes com lemas de ordem como "EUA fora do Oriente Próximo" ou "que Saladino volte", junto da frase mil vezes repetida Alahu Akbar (Deus é grande).

A marcha foi convocada pela IHH, uma ONG turca de ideologia islamita, conhecida por seu trabalho humanitário tanto dentro como fora da Turquia e seus programas de apoio a refugiados e deslocados sírios.

A IHH também foi a entidade que em 2010 fretou o navio "Mavi Marmara", o maior da Frota "da Liberdade" que tentou romper o bloqueio israelense à Faixa de Gaza, e que foi atacado por militares de Israel que mataram dez ativistas turcos.

O incidente provocou um grave conflito diplomático entre Turquia e Israel, tradicionalmente bons aliados, e que recuperaram relações plenas no ano passado, após o pagamento de compensações pelos ativistas mortos e feridos.

A Turquia também negociou certa facilidade de acesso a Gaza para enviar ajuda humanitária e a boa sintonia com Israel parecia recuperada até que voltou a ser rompida com o anúncio de Trump de levar a embaixada a Jerusalém.

O Governo turco lembrou nestes dias que as Nações Unidas não reconhecem a anexação do Jerusalém Leste por Israel em 1980, e em consequência pede a não instalação de embaixadas na cidade até que o conflito seja resolvido.

Os Estados Unidos são o primeiro país que rompem com este consenso internacional.

Todos os partidos turcos se somaram ao protesto por motivos de direito internacional, e vários grupos da esquerda turca também realizaram hoje manifestações contra a decisão de Trump.

Contudo, a maior congregação foi a de Fatih, de pronunciado caráter islamita, na qual deixaram em evidência o caráter sagrado de Jerusalém para os muçulmanos, que a consideram sua terceira cidade santa após Meca e Medina e lembram que nos primeiros anos do Islã, inclusive foi o ponto fixado para a oração.

As ambições do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de se apresentar como um líder islâmico universal preocupado com o conforto dos muçulmanos em todo o mundo, serviram para que muitos manifestantes sublinhassem a responsabilidade da Turquia com Jerusalém, como causa internacional islâmica.

Embora a manifestação tenham se desenvolvido em sintonia com a postura do Governo, e com escassas medidas de segurança, as autoridades tomaram desde ontem grandes precauções para evitar qualquer agressão contra as legações americana e israelense em Ancara e Istambul.

O porta-voz do Governo turco, Bekir Bozdag, sublinhou hoje uma vez mais que a transferência da embaixada americana em Israel "acarretará todos os tipos de crise, caos e combates".

"Condenamos o Governo de Trump por ser a causa dos fatos que acontecem hoje na Cisjordânia. O responsável em primeiro grau do caos e dos combates vividos hoje e pelos quais virão é o Governo dos Estados Unidos", sublinhou Bozdag

Erdogan internacionalizou os esforços para responder ao gesto do Trump e se reunirá no dia 11 em Ancara com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Na quarta-feira acontecerá em Istambul uma cúpula extraordinária de líderes da Organização pela Cooperação Islâmica (OIC), que reúne 57 países de maioria muçulmana.