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Rejeição de Bagdá ao referendo deixa Curdistão iraquiano isolado em 2017

27/12/2017 20h39

Yasser Yunis.

Erbil (Iraque), 27 dez (EFE).- A região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque, ficou praticamente isolada devido às sanções impostas pelo governo central em represália ao referendo de independência organizado pelas autoridades curdas, mesmo com a rejeição da comunidade internacional.

No fim de julho, o governo curdo marcou a consulta de autodeterminação para 25 de setembro, mas até o último momento não se sabia se o votação aconteceria ou não por causa das contínuas pressões das potências ocidentais, que temiam que esta votação pudesse "desestabilizar" a unidade do Iraque. O primeiro-ministro Haider al-Abadi manifestou rejeição ao referendo e qualificou a ação de "anticonstitucional e ilegítima". Além dele, alguns opositores curdos mostraram oposição à consulta, porque consideravam que o momento não era oportuno.

O próprio Partido Movimento da Mudança (Goran) do Curdistão pediu a mudança da data do referendo de independência, um passo que, na opinião do grupo, "foi feito sem criar um ambiente político adequado, sem levar em conta as situações política, econômica, social e de segurança".

O governo dos Estados Unidos, país que lidera a coalisão internacional contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, foi um dos que mais se envolveu, pois o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, pediu diretamente ao presidente do Curdistão iraquiano, Masoud Barzani, que adiasse a votação. Barzani, que acabaria renunciando ao cargo um mês depois da consulta, alegou que o povo curdo "decidiu tomar outro caminho" após as tentativas fracassadas de conviver com os iraquianos.

Israel foi o único país que apoiou a realização do referendo. Já Irã e Turquia, vizinhos do Curdistão iraquiano e com população curda própria, repudiaram completamente o movimento e o governo iraniano mandou, inclusive, fechar o espaço aéreo um dia antes da votação.

O dia da consulta foi vivido como uma comemoração em Erbil - capital do Curdistão -, e em Sulaymaniyah - reduto opositor -, assim como em outros territórios disputados entre Bagdá e Erbil e que eram controlados naquele momento pelas Peshmergas - forças militares curdas -, como a província produtora de petróleo Kirkuk, principal foco das tensões.

A Comissão Eleitoral do Curdistão iraquiano anunciou 48 horas depois do referendo que 92,73% dos eleitores disseram "sim" à independência. Dos pouco mais de 3 milhões que compareceram às urnas, 7,27% optaram pelo "não". Foram registrados 1,21% de votos nulos numa consulta que contou com a participação de 72,16% dos eleitores residente no Curdistão e no exterior.

Pouco depois começaram as sanções de Bagdá contra esse território. A primeira delas foi a suspensão dos voos internacionais com origem ou destino à região autônoma. Essa medida está em vigor até hoje.

As sanções continuaram e o Banco Central do Iraque suspendeu as transferências bancárias às províncias que estão sob o guarda-chuva do Curdistão. Em 11 de outubro, a Justiça iraquiana emitiu uma ordem de prisão contra Barzani e os membros do Alto Comitê para o Referendo.

Também em resposta à consulta, o Executivo em Bagdá lançou em 16 de outubro uma campanha militar para recuperar o controle das áreas disputadas, em primeiro lugar Kirkuk, rica em petróleo. Dois dias depois, os militares iraquianos anunciaram o fim da breve e bem-sucedida operação com a qual recuperaram a maior parte das áreas das províncias de Kirkuk, Diyala e Nínive controladas pelas tropas curdas, e ocupadas após a invasão do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) no Iraque, em 2014.

A partir daí, o Curdistão começou a relaxar o discurso e inclusive afirmou em novembro que "respeita" a disposição do Tribunal Supremo que diz que a Constituição estabelece a união do Iraque e não permite divisão do território.

Em várias ocasiões, o Curdistão pediu diálogo com o governo e solicitou que a comunidade internacional pressione para que as sanções impostas sejam suspensas, embora ainda não exista qualquer resultado.