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Trump alterna entre frieza de cálculo e impulsividade em ataques à imprensa

17/08/2018 06h03

Beatriz Pascual Macías.

Washington, 17 ago (EFE).- Como apresentador de reality show e como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump mantém uma relação de amor e ódio com a imprensa, considerada por ele como "inimiga do povo", mas também usada para mobilizar sua base eleitoral.

Trump ampliou os ataques aos veículos de imprensa nos últimos meses em uma tentativa calculada de mobilizar os eleitores republicanos das regiões rurais para as eleições legislativas que serão disputadas em novembro.

Embora tente dosar o tom das críticas, Trump costuma perder o controle quando vê algo que o irrita na televisão, pega o celular e usa o Twitter para responder com uma avalanche de mensagens as críticas dos "veículos de 'fake news'" que considera injustas.

Outros antes de Trump adotaram estratégia similar. O ex-presidente Richard Nixon questionou a credibilidade do "The Washington Post", jornal que revelou e insistiu na cobertura do escândalo do Watergate, caso que provocaria sua renúncia em 1974.

Já George H. W. Bush, durante a campanha para a reeleição em 1992, utilizou a seguinte mensagem: "Irrite a imprensa, reeleja Bush".

No entanto, nenhum presidente dedicou tanto tempo a combater a imprensa quanto Trump. Todos os dias, de 8h às 11h, o polêmico empresário reserva sua agenda para o que chama de "tempo executivo", usado por ele para ficar no Twitter e assistir seus programas de televisão favoritos, como o "Fox & Friends", da emissora "Fox News".

Às vezes, Trump liga para o canal para dar sua versão dos fatos.

O jornalista Michael D'Antonio, que publicou em 2015 uma biografia de Trump, explicou que o presidente tem uma relação de codependência com a imprensa: ele precisa da aprovação dos jornalistas, que, por sua vez, recorrem a ele para ganhar audiência.

"É um dos homens de negócio de maior sucesso e um homem que muitos dos americanos amam odiar", disse D'Antonio.

Segundo o jornalista, Trump começou a buscar a atenção da imprensa na década de 1970 e conseguiu atrair os jornalistas com seus sucessos e fiascos imobiliários e com aparições na televisão. Ter comandado a versão original do programa "O Aprendiz" o tornou famoso nacionalmente.

O empresário quebrou os parâmetros tradicionais da retórica política e levou para a Casa Branca as piores práticas dos realities. Críticos do republicano afirmam que ele criou no governo o "Donald Trump Show", caracterizado por declarações que buscam constantemente a confrontação, o insulto e a autopromoção.

E no show particular, Trump colocou a imprensa como seu principal arqui-inimigo, atacando mais os jornalistas do que a oposição. As táticas variam das críticas individuais até a convocar os eleitores a cantar "fake news" para os profissionais em comícios.

O editor do "The New York Times", A. G. Sulzberger, reuniu-se em julho com Trump para explicar que a linguagem usada pelo presidente era perigosa e que obrigou o jornal a colocar seguranças armados nos escritórios devido ao aumento das ameaças aos jornalistas.

A resposta de Trump foi mais insultos, mais confronto e reiterar no Twitter que a imprensa é "inimiga do povo".

Os novos ataques provocaram uma reação conjunta. Mais de 300 jornais publicaram editoriais nas quais comparam Trump a um "charlatão" e alertam sobre o efeito contagioso que sua retórica contra os jornalistas pode ter em outras partes do mundo.