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Eleitores protestam no nordeste da RD do Congo após exclusão das eleições

27/12/2018 10h24

Kinshasa, 27 dez (EFE).- Dezenas de pessoas realizam protestos nesta quinta-feira nas ruas de duas cidades principais do nordeste da República Democrática do Congo, Beni e Goma, contra a decisão da Comissão Eleitoral (CENI) de excluir 1,2 milhão de eleitores desta região e do oeste do país das eleições do próximo domingo.

A atividade comercial está paralisada em Beni que, junto com Butembo, são as duas cidades da província do Kivu do Norte (nordeste) onde a CENI adiou ontem as eleições devido ao surto de ebola.

"Não há atividades e os jovens estão atualmente em uma avenida principal (...). A situação é confusa. O povo protesta por seus direitos civis e políticos", disse à Agência Efe o presidente da sociedade civil de Beni, Kizito Hangi.

Dezenas de pessoas, organizadas pela sociedade civil e o grupo ativista Lutte pour le Changement (LUCHA), estão protestando nas ruas contra dessa decisão.

Os manifestantes queimaram pneus e ergueram barricadas, enquanto a polícia e o exército interviram para dispersar os protestos com uso de munição real e bombas de gás lacrimogêneo.

Os protestos são uma resposta à resolução tomada pela CENI ontem de adiar o pleito até março de 2019 nos distritos de Beni e Butembo pela epidemia de ebola que deixou 356 mortes, e na cidade de Yumbi, no oeste do país, devido aos confrontos étnicos registrados em meados deste mês, nos quais morreram cerca de 50 pessoas.

Uma organização da sociedade civil de Kivu do Norte classificou hoje a decisão da CENI de política e discriminatória.

"A coordenação provincial da sociedade civil assinalou que, apesar dos contratempos (o ebola e a insegurança), as corridas, os cultos, os jogos, as reuniões, as marchas continuam acontecendo", afirmou a organização em um comunicado no qual tacharam de "desculpas" os argumentos apresentados pela CENI.

Já o principal partido da oposição pacífica, a União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), que ontem aceitou a decisão da CENI, classificou hoje a resolução como uma manobra.

"É uma manobra do presidente da CENI, Corneille Nangaa, para eternizar (o presidente Joseph) Kabila no poder", disse o porta-voz do partido do candidato Félix Tshisekedi, Augustin Kabuya, em uma conversa telefônica com a Agência Efe.

A decisão de ontem foi um novo revés para a imagem das eleições, que vêm sendo adiadas desde 2016 e deveriam representar a primeira transferência pacífica de poderes da história do maior país da África Subsaariana.

Kabila - que sucedeu seu pai Laurent-Désiré Kabila no poder após seu assassinato em 2001 - encerrou seu mandato e a Constituição do país o proíbe de concorrer a um terceiro período consecutivo.

Como motivo dos adiamentos, a CENI vinha argumentando impossibilidade técnica de realizar o pleito.

O último adiamento, de fato, foi anunciado na semana passada, após o incêndio em um armazém de material eleitoral, já que, na realidade, a votação do dia 30 estava prevista para 23 de dezembro.

Desde 2016, a oposição vinha clamando contra o que considera uma estratégia de Kabila para prolongar sua estadia no poder, mas aceitou esse último adiamento sob a condição de que o dia 30 seria a "linha vermelha" para, finalmente, realizar o pleito. EFE