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Muro de Trump profanaria túmulos e locais sagrados de tribo milenar

1.fev.2019 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de uma reunião para discutir o tráfico de pessoas no sul da fronteira - Olivier Douliery/EFE
1.fev.2019 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de uma reunião para discutir o tráfico de pessoas no sul da fronteira Imagem: Olivier Douliery/EFE

05/02/2019 10h01

O muro que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deseja construir na fronteira com o México profanaria sepulturas, lugares sagrados e poderia acabar com costumes centenários na reserva dos Tohono O'odham, conforme uma denúncia da própria tribo indígena, que alega que será dividida em duas se o projeto se concretizar.

Há mais de um século, os Tohono O'odham possuem no estado do Arizona um território que se estende por mais de 100 quilômetros da fronteira com o México, onde vivem 2 mil de seus 34 mil membros, que cruzam constantemente para o outro lado de uma linha que, para eles, é imaginária.

"Por muitos anos mantivemos uma comunicação, os membros viajam e retornam para visitar família e amigos, participam da cultura e de práticas religiosas. Por esta e muitas outras razões nos opomos a um muro na fronteira", disse à Agência Efe Verlon M. José, vice-presidente dos Tohono O'odham.

A postura de rejeição é firme entre os membros da tribo desde que o presidente americano, Donald Trump, anunciou o desejo de construir um "grande muro" que, como eles alegam, afetaria suas tradições e o meio ambiente em uma área que foi ocupada por seus antepassados, os Hohokam, há milhares de anos no deserto de Sonora.

A situação se complica diante da possibilidade de que, em breve, o governante declare uma emergência nacional que lhe permita utilizar fundos militares na construção do muro sem a necessidade de chegar a um acordo com a oposição no Congresso para aprovar uma verba orçamentária.

Atualmente, cerca de 1,1 mil quilômetros da fronteira entre EUA e México contam com algum tipo de barreira, e o governo Trump quer acrescentar outros 1,5 mil quilômetros, incluindo partes do território onde vive esta nação indígena.

Nesta área do deserto do Arizona há locais arqueológicos e túmulos "ao longo da fronteira", muitos dos quais, explica José, são ainda desconhecidos.

Também existem lugares nesta reserva do tamanho do estado de Connecticut que são mantidos em segredo para proteger estes locais "sagrados" da presença de turistas.

O vice-líder dos Tohono O'odham garante que os terrenos desta nação não estão à venda e que a responsabilidade da tribo é proteger a terra à qual pertencem.

"Cada animal, cada pedaço de pedra é sagrado, tudo tem um propósito neste mundo, e quando começamos a brincar com a mãe natureza, acontecem coisas", advertiu.

Para a tribo, o tema da construção de um muro na fronteira é "maior que a nação de Tohono Odham" e, inclusive do que os próprios Estados Unidos e México.

O muro aumentaria um problema que existe há anos, com membros que vivem no México que são deportados quando, para eles, simplesmente estão em seu território. Além disso, fiscais alfandegários apreendem mercadoria quando na verdade trata-se de matérias-primas e bens essenciais para sua economia, cultura e religião.

Além disso, a tribo acredita que os muros não são completamente efetivos, porque, atualmente, nas áreas onde há barreiras de ferro ou cercas, as mesmas são superadas com certa facilidade por imigrantes e traficantes de pessoas e drogas.

"O ambiente geral da nação na fronteira com o México já inclui muitas barreiras naturais, caraterísticas geográficas que tornam o muro não funcional em muitos lugares", alegou.

Por isso, José disse que a tribo permanecerá unida para tentar evitar a construção e exigir o que é correto "não só para as gerações de hoje, também para as que passaram e as que vêm depois".

Um dos pontos fundamentais de sua recusa ao muro é o impacto ambiental que traria ao dividir as terras tradicionais da tribo e impedir a migração animal. "Não podemos interromper a mãe natureza", disse o líder indígena.

Para expressar a oposição à construção do muro em seu território, José viajou em várias ocasiões a Washington para se reunir com integrantes do governo Trump.

"Estamos na linha de frente da segurança de fronteira. Fazemos isso por mais de 160 anos", afirmou José sobre o principal motivo alegado pelo atual governo para construir o muro, que, na sua opinião "não é a resposta".

Segundo os indígenas, por meio de cooperação com o governo, o uso de mais monitoramento e tecnologia pode melhorar a segurança de fronteira em seu território.

"Nos associamos com muitas outras agências para discutir estas situações da fronteira e podemos dizer que as detenções caíram, o contrabando e o tráfico humano. Não estamos dizendo que não ocorrem, ainda acontecem, da mesma forma que em toda a fronteira com os Estados Unidos", assegura.