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Um ano depois do fim da proibição, poucas mulheres dirigem na Arábia Saudita

Um treinador saudita ministra aula de direção a uma mulher na capital Riyadh - FAYEZ NURELDINE/AFP
Um treinador saudita ministra aula de direção a uma mulher na capital Riyadh Imagem: FAYEZ NURELDINE/AFP

29/06/2019 06h01

Um ano depois de a Arábia Saudita ter autorizado as mulheres a dirigir, elas continuam sendo minoria em ruas e estradas do reino ultraconservador, onde as poucas autoescolas destinadas às motoristas ficaram superlotadas após a suspensão do veto.

As longas filas de espera para aprender a dirigir e obter a carteira fazem com que ainda sejam poucas as que conduzem o próprio veículo, mas algumas recorrem à aula particular para acelerar o processo e até dirigir sem habilitação. Esse é o caso de Reem K.

A publicitária começou a dirigir em Riad assim que a proibição foi retirada em junho de 2018, sem esperar o documento oficial. Aos 31 anos, ela decidiu usar o carro do marido, enquanto esperava a vez de fazer os trâmites necessários para obter a carteira, que foi marcada para três meses depois da abertura da solicitação.

"Por sorte, nunca fui parada pela polícia", explicou ela à Agência Efe, que conhece outras sauditas que começaram a pegar o carro de parentes enquanto esperam a carteira.

Com a experiência que conseguiu, Reem passou a dar aulas particulares de direção. Começou com algumas amigas e colegas de trabalho, depois surgiram alunas de fora. A novidade rende, inclusive, um lucro extra.

"Cobro 150 riales a hora (o rial saudita e o real têm mais ou menos o mesmo valor). É uma profissão que exerço no meu tempo vago", contou.

A Direção de Tráfego da Arábia Saudita multa com valores de 150 e 300 riales sauditas as pessoas que dirigem sem a documentação. Sem carteira, elas também não podem alugar ou comprar um carro, e isso também limitou o tempo para as mulheres conseguirem o próprio carro. Além disso, o governo só autorizou a abertura de 14 autoescolas femininas, em um país com mais de 32 milhões de habitantes.

Fathi al Said, que trabalha em uma empresa de aluguel de carros, afirmou que poucas mulheres procuram o serviço, porque poucas podem dirigir atualmente. A empresa tem mais de 20 filiais em todo o reino, e em maio deste ano alugou oito carros para representantes do sexo feminino, contra 56 veículos alugados para eles.

"Claramente é uma porcentagem pequena, mas acreditamos que aumentará no futuro à medida que aumente o número de mulheres com habilitação", disse Said, que confia no crescimento de um setor que também comemora a permissão.

Apesar das dificuldades e dos meses de espera, alguns motoristas já aproveitam o fato de finalmente poderem ir e voltar de lugares sem a necessidade do acompanhamento de um homem. Uma delas é Al Anoud al Babtain, uma jovem de Riad, teve que esperar três meses para que conseguir um horário para tramitar os seus papéis.

"A fila é longa e o cartório pede esse tempo por causa da grande demanda", explicou a coordenadora de relações públicas.

Para ela, a autoescola foi muito útil.

"Nunca tinha dirigido sozinha. Foi a minha primeira experiência, as professoras foram hábeis e colaborativas", acrescentou a jovem, de 24 anos.

Na Arábia Saudita, mulheres com mais de 17 anos podem obter a carteira de motorista sem a necessidade da autorização de pai, irmão, marido ou tutor masculino, o que ainda é requerido para outros trâmites administrativos, como viajar para o exterior ou se casar. Porém, apesar de ter liberado a direção feminina e suavizado o sistema de tutela masculina, por exemplo, a vida das mulheres no país ainda é cercada de muitas restrições. EFE

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