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Afeganistão pede explicações após Trump dizer que poderia acabar com o país

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Kevin Lamarque/Reuters
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Imagem: Kevin Lamarque/Reuters

Em Cabul

23/07/2019 09h46

O governo afegão pediu explicações hoje ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, depois que este disse ontem que poderia acabar com a guerra no Afeganistão "apagando o país da face da terra", uma opção que descartou pouco depois.

"Dada a relação (...) entre o Afeganistão e os Estados Unidos, o governo do Afeganistão solicita ao presidente americano um esclarecimento e explicações pelos seus comentários", afirmou o escritório do presidente afegão, Ashraf Ghani, em comunicado.

O governo afegão se refere às declarações feitas na segunda-feira por Trump em Washington durante um encontro com o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, nas quais disse que "poderia ganhar" a guerra afegã "em uma semana", embora isso significasse "matar 10 milhões de pessoas", razão pela qual esclareceu que não optaria "por essa via".

"O Afeganistão poderia ser apagado da face da terra", garantiu Trump durante o encontro com seu homólogo do Paquistão, um país que tem um papel-chave no processo de paz afegão devido à suposta influência de Islamabad sobre os talibãs.

O governo afegão ressaltou, no entanto, que, durante a longa história do Afeganistão, o país sempre conseguiu resolver as crises por si só e "nunca permitiu e nunca permitirá que uma potência estrangeira determine seu futuro".

"O Afeganistão permanecerá digno e firme no cenário político global", ressaltou o escritório de Ghani.

Os comentários de Trump desencadearam uma onda de críticas no Afeganistão, inclusive as de vários políticos afegãos.

Rahmatullah Nabil, candidato presidencial e antigo chefe da principal agência de inteligência do país, a NDS, afirmou no Twitter que "como resposta aos insultos ao Afeganistão de Trump", os líderes afegãos e os talibãs deveriam deixar de lado o "egoísmo" e alcançar a paz "sem a mediação" dos Estados Unidos.

Além disso, diante da apocalíptica imagem do massacre "de milhões" para acabar com a guerra, Nabil pediu aos EUA alternativas como "eliminar de 15 a 30 líderes talibãs" que se escondem no Paquistão e pôr em uma lista negra "de 15 a 30 generais paquistaneses".

Em meio a esta polêmica, o enviado especial americano para a reconciliação do Afeganistão, Zalmay Khalilzad, anunciou em mensagem no Twitter que chegaria hoje a Cabul, para uma visita centrada em "alcançar uma paz duradoura que ponha fim à guerra".

Em uma tentativa de acalmar os ânimos, Khalilzad fez outra leitura das palavras de Trump, já, que segundo ele, o presidente americano "reiterou" ao primeiro-ministro paquistanês que "não existe uma solução militar razoável à guerra no Afeganistão e que a paz deve ser alcançada pela via política".

Após a visita a Cabul, o enviado especial americano viajará para Doha, onde iniciará a oitava rodada de negociações com os talibãs, centradas até agora na retirada das tropas internacionais, a principal reivindicação dos insurgentes.