Polícia colombiana lançou projéteis de tanques em protestos, denuncia ONG
A polícia lançou "múltiplos projéteis" de tanques em pessoas que se manifestam na Colômbia há nove dias e que protestam contra a brutalidade policial. Isso já deixou 37 mortos, denunciou a HRW (Human Rights Watch) ontem.
"Com testemunhas oculares e verificação digital de vídeos, temos corroborado a utilização de tanques com vários lançadores de projéteis dirigidos a manifestantes. É uma arma perigosa e indiscriminada", disse o diretor da HRW para as Américas, José Miguel Vivanco, em mensagem publicada em redes sociais.
Vivanco, que pediu para o Ministério da Defesa "dar explicações" sobre o uso desta arma, publicou um vídeo em que os agentes podem ser vistos atirando projéteis de um tanque contra um grupo de manifestantes em Bogotá.
O representante da organização disse nesta quarta-feira que a HRW recebeu 31 relatórios de mortes durante as manifestações, dos quais conseguiu corroborar 11, o mesmo número de mortes confirmado pela Procuradoria-Geral da Colômbia.
"Os protestos dos últimos anos na Colômbia levantam enormes dúvidas sobre se a polícia - e especialmente o Esmad (Esquadrão Móvel Antidistúrbios) - é capaz de respeitar plenamente os direitos humanos nestas circunstâncias", acrescentou Vivanco.
Uso excessivo da força
Esta denúncia se soma à que foi feita na terça-feira passada pela Anistia Internacional (AI), que pediu às autoridades colombianas o "fim da repressão das manifestações" e solicitou ao governo que "cesse a militarização das cidades", implementada sob a figura da "assistência militar".
Também exigiu que "os direitos humanos sejam garantidos como o centro de qualquer proposta de política pública", incluindo a reforma tributária proposta após a retirada do projeto inicial, que desencadeou os protestos.
O Corpo de Verificação Digital da AI encontrou, através de material audiovisual, "o uso excessivo e desnecessário da força por parte das forças de segurança no controle das manifestações".
"As autoridades colombianas devem investigar pronta, independente e imparcialmente todas as denúncias de uso excessivo e desnecessário da força contra manifestantes, o que deixou dezenas de pessoas mortas e feridas, detenções arbitrárias, atos de tortura e violência sexual, e relatos de pessoas desaparecidas", disse a diretora da AI para as Américas, Erika Guevara.
Ataques contra a missão médica
Segundo o Ministério da Saúde, dos 189 ataques contra a missão médica ocorridos neste ano, 126 ocorreram desde 28 de abril, quando começaram as manifestações, que foram motivadas por uma reforma fiscal da qual o governo já desistiu.
"Desses relatórios, 64 correspondem a ameaças e lesões diretas contra trabalhadores da saúde e 62 contra ambulâncias, as suas tripulações e, por vezes, contra os próprios doentes", disse Luis Fernando Correa, chefe do gabinete de Gestão Territorial, Emergências e Catástrofes do Ministério da Saúde.
Correa também denunciou a existência de "restrições" ao trânsito de medicamentos e equipamento, como no caso de caminhões que transportam oxigênio.
Os departamentos mais afetados são Valle del Cauca, com 58 casos - e cuja capital Cali tem sido o principal foco de violência nas manifestações - e Norte de Santander (que faz fronteira com a Venezuela), com 37.
"O setor da saúde pede respeito, empatia e apoio dos manifestantes e dos seus líderes para com os trabalhadores da saúde. Sem a livre circulação de pacientes, fornecimentos e medicamentos, o sistema de saúde ficará sem a capacidade de resposta requerida pelos usuários em meio a uma pandemia como a atual", concluiu.
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