África tem pior semana desde início da pandemia da covid-19, diz OMS
"A África acaba de marcar a semana de pandemia mais terrível até agora. Mas o pior ainda está por vir, já que a terceira onda continua ganhando terreno e velocidade", alertou o diretor regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti, em uma conferência de imprensa virtual.
O continente enfrenta uma preocupante terceira onda que já começou em pelo menos 23 dos 55 Estados-membros da União Africana (UA) - como Quênia, Moçambique, Namíbia e Uganda-, e em 13 deles os dados revelam que é "mais grave" do que a anterior.
"Vemos claramente como a variante (delta, muito contagiosa e surgida na Índia) está guiando a terceira onda no continente e sabemos que é transmitida em excesso em relação às demais", disse o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC África), John Nkengasong.
Da África do Sul, o professor brasileiro Túlio de Oliveira, diretor da Kwazulu-Natal Research Innovation and Sequencing Platform (KRISP), que coordena as análises genéticas do vírus no país, alertou que a variante delta, presente em 15 países africanos, "começa a dominar todas as infecções na África".
"À medida que aumenta a prevalência da variante delta, temos um crescimento muito rápido dos casos (...) e um aumento da mortalidade", sublinhou o cientista.
A terceira onda é agravada pela escassez de vacinas no continente, onde chegaram 70,4 milhões de doses e 53,3 milhões foram aplicadas.
Isso significa que apenas 1,19% de uma população continental de cerca de 1,3 bilhão de habitantes recebeu o esquema de vacinação completo, de acordo com os últimos dados publicados pelo CDC África.
"Se deixarmos os países para trás na vacinação, a única coisa que faremos é dar ao vírus mais oportunidades de evoluir e de surgir variantes", afirmou o brasileiro.
COVAX FORNECERÁ 520 MILHÕES DE DOSES PARA ÁFRICA
O Covax, programa promovido pela OMS para garantir o acesso global e equitativo aos medicamentos que constituem a principal fonte de vacinas para a África, pretende fornecer este ano 520 milhões de doses ao continente, revelou hoje a sua diretora-gerente, Aurelia Nguyen.
A distribuição de vacinas no continente por meio da Covax parou no final de março, quando o Instituto Serum, na Índia - principal fornecedor de medicamentos da AstraZeneca para o programa da OMS - suspendeu a exportação de vacinas após o início de uma nova e mortal onda da pandemia no gigante asiático.
A partir da mesma semana, porém, o mecanismo retomará os embarques de vacinas para diversos países africanos enquanto espera o produtor indiano retomar as exportações "no final deste ano", embora também busque diversificar as fontes de abastecimento, segundo Nguyen.
A África atingiu outro obstáculo na semana passada, quando o entrou em vigor o certificado digital covid da União Europeia, que inclui vacinas aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês): Pfizer/BioNTech, Moderna, Janssen e AstraZeneca, mas não a Covishield, a versão indiana desta última e a mais utilizada no continente.
A UA assinou um acordo em março com a Janssen para reservar 220 milhões de doses de vacinas - está aplicada apenas uma vez -, com opção de adicionar mais 180 milhões em 2022, cujos primeiros carregamentos devem começar nesta semana, disse Nkengasong.
A meta da União Africana é vacinar pelo menos 60% da população do continente (cerca de 750 milhões de pessoas ou toda a população adulta) até o final de 2022.
Até agora, a África registrou mais de 5,7 milhões de casos, dos quais pouco mais de 148,7 mil terminaram em mortes e pouco mais de 5 milhões de pessoas se recuperaram. EFE
lbg/phg
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