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'Se Bolsonaro ganhar, o futuro da Amazônia será trágico', diz Sônia Guajajara

Sônia Guajajara falou sobre "projeto de destruição ambiental" do presidente Jair Bolsonaro - Divulgação / Mídia Ninja
Sônia Guajajara falou sobre "projeto de destruição ambiental" do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Divulgação / Mídia Ninja

Carlos Meneses

15/08/2022 21h20

A líder indígena Sônia Guajajara, uma das cem personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista "Time", disputará uma vaga no Congresso nas eleições de outubro com uma missão: acabar com o "projeto de destruição ambiental" do presidente Jair Bolsonaro.

"Se Bolsonaro ganhar, o futuro da Amazônia será trágico. A Amazônia vai virar um verdadeiro deserto", alertou Guajajara em entrevista à Agência Efe na qual se mostrou confiante na vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pleito de 2 de outubro.

A campanha mais polarizada da história do Brasil começa oficialmente nesta terça-feira, mas Guajajara já vive semanas de intensa atividade eleitoral devido à sua candidatura a deputada federal por São Paulo pelo PSOL.

Com essa legenda, já fez história em 2018 ao ser a primeira indígena a integrar uma chapa presidencial, como candidata a vice-presidente de Guilherme Boulos.

Frente indígena

Agora, a coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) pretende formar a primeira bancada indígena da história na Câmara dos Deputados.

"Vamos tentar chegar a esse lugar onde se tomam as decisões", disse enfaticamente essa mãe de três filhos.

Atualmente, há apenas uma deputada indígena entre os 513 que compõem a Câmara. Trata-se de Joênia Wapichana, eleita em 2018. Antes dela, houve apenas um caso, há mais de 40 anos, o do cacique xavante Mário Juruna.

"É uma missão muito difícil. Queremos ao menos tentar e mostrar que estamos preocupados com todo esse desmonte (das políticas indígenas), a liberação do garimpo, o desmatamento e a entrega de nossos territórios", enumerou.

Por tudo isso, Guajajara culpa o governo Bolsonaro, "o principal inimigo dos povos indígenas", como ela própria definiu.

"Teria sido melhor se Bolsonaro nos esquecesse, em vez de ficar trabalhando contra nós", declarou.

Perseguição de dentro do Planalto

Guajajara, formada em Letras e Enfermagem, sentiu essa animosidade em sua própria carne.

Em 2020, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general reformado Augusto Heleno, homem de confiança de Bolsonaro, acusou-a nas redes sociais de cometer um "crime contra o país" por "falar mal do Brasil" no exterior.

Marcelo Augusto Xavier da Silva, presidente da Funai, órgão do governo, também tentou abrir um processo contra ela pelo mesmo motivo, embora Guajajara afirme que ele já foi arquivado.

O próprio Bolsonaro também a escolheu como alvo em vários eventos públicos. Somam-se a isso os já habituais "ataques e insultos" que recebe nas redes sociais de apoiadores do presidente.

"Essa perseguição vem do próprio Palácio do Planalto", lamentou.

Razões para o otimismo

Na conversa, Guajajara também comentou que neste ano, pela possibilidade de ser o último de Bolsonaro na presidência, o desmatamento na Amazônia está se acelerando. Ela também teme que o Congresso aprove projetos para "flexibilizar a legislação ambiental" em um contexto de crescente violência.

No entanto, apesar dessa perspectiva sombria, Guajajara acredita que há motivos para otimismo.

Primeiro, ela considera que a sociedade brasileira, especialmente aquela que vive em selvas de concreto como São Paulo, a mesma sociedade que "não se importou em eleger deputados indígenas", está começando a entender que "para ter vida nas cidades, você tem que proteger a floresta".

"Para ter água em São Paulo, tem que ter indígenas protegidos; para respirar, a floresta tem que estar de pé e quem está fazendo isso somos nós", enfatizou.

Já o segundo fator de otimismo para Guajajara é o favoritismo de Lula sobre Bolsonaro nas pesquisas.

A candidata a deputada considera possível, inclusive, uma vitória do ex-presidente (2003-2010) no primeiro turno, "algo necessário para que não haja dúvidas sobre o resultado eleitoral", dadas as suspeitas que Bolsonaro levantou, sem provas, sobre a legitimidade das urnas eletrônicas.

Para a ativista, a volta de Lula ao poder significaria a retomada da agenda de demarcação de terras indígenas, paralisada desde a posse de Bolsonaro em janeiro de 2019, e a possibilidade de acabar com o desmatamento, que disparou nos últimos três anos e meio.

No entanto, ela se disse ciente de que a eventual eleição de Lula não vai resolver todos os problemas de uma só vez. Para isso, é preciso "um Congresso aliado" que se disponha a aprovar propostas para a proteção do meio ambiente. Por isso, quer que a voz dos povos indígenas ressoe no Legislativo a partir de 2023.

"É o nosso momento", declarou.