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É necessário agir contra qualquer "sopro" de anti-semitismo, diz Papa Francisco

23/09/2018 12h09

Por Philip Pullella

KAUNAS, Lituânia (Reuters) - O Papa Francisco disse neste domingo que a sociedade deve estar atenta para "qualquer sopro" que sinalize o ressurgimento do anti-semitismo, pedindo que as novas gerações aprendam os horrores do Holocausto. 

O pontífice fez seu apelo em Kaunas, a segunda maior cidade da Lituânia, no 75º aniversário da destruição do gueto de Vilnius, capital lituana, durante a segunda guerra mundial. Dezenas de milhares de judeus foram mortos ou deportados durante os dois anos de opressão nazista que culminaram nos dias 23 e 24 de setembro de 1943. 

"O povo judeu sofreu insultos e punições cruéis", disse Francisco a uma multidão de 100 mil pessoas em uma missa a céu aberto. 

"Vamos pedir ao Senhor o dom do discernimento para detectar em qualquer momento qualquer semente daquela atitude perniciosa, qualquer sopro daquilo que pode manchar os corações de gerações que não passaram por aquele tempo", disse. 

Francisco, que iria visitar o monumento às vítimas do gueto no segundo dia de uma visita de quatro dias aos países Bálticos, usou o aniversário da ocasião para fazer um apelo mais amplo para além da Lituânia, disse um assessor do Papa. 

Relatos de atos anti-semitas aumentaram na Europa, coincidindo com a ocorrência e o aumento de partidos populistas de extrema-direita. 

Em maio, a Alemanha reportou 1.504 ofensas anti-semitas em 2017, após 1.468 em 2016. No mês passado, milhares de alemães vestindo chapéus de esqueletos participaram de protestos em apoio à comunidade judaica. 

A França foi chocada em março pelo assassinato de um sobrevivente do holocausto em um ataque supostamente anti-semita, e o principal partido de oposição britânico, o Trabalhista, está envolvido em uma disputa relacionada ao anti-semitismo. 

Mais de 200 mil judeus lituanos foram assassinados pelos nazistas, que foram auxiliados por parte da população local. A comunidade judaica do país hoje em dia se restringe a 3 mil pessoas. 

Na homília da Missa, o Papa se dirigiu aos que colaboraram com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial ou com as autoridades comunistas no período entre 1944 e 1991, quando a Lituânia integrou a União Soviética. 

"As gerações anteriores ainda possuem as cicatrizes do período da ocupação, a angústia dos que foram deportados, a incerteza sobre aqueles que nunca retornaram, a vergonha daqueles que foram informantes e traidores", disse. 

Na tarde de domingo, Francisco visitou o Museu de Ocupações e Lutas pela Liberdade, uma ex-prisão soviética da KGB em Vilnius, onde centenas foram assassinados e de onde milhares, incluindo muitos padres, foram deportados para a Sibéria. 

Em Riga, o pontífice deve homenagear os heróis da independência da Letônia no Monumento à Liberdade, e dirigir um serviço ecumênico na catedral Luterana da cidade. 

Em Tallinn, na Estônia, ele celebrará uma missa na Praça da Liberdade, onde ocorriam antigos desfiles militares soviéticos e que hoje é local de homenagem aos deportados pelos soviéticos. 

(Reportagem adicional de Michelle Martin em Berlim e Andrius Sytas em Vilnius)