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Surto de vírus na China expõe perigos do comércio exótico de animais selvagens

Mercados chineses, onde animais selvagens e caçados muitas vezes de maneira ilegal ficam juntos, foram apontados como terreno fértil para doenças - Getty Images via BBC
Mercados chineses, onde animais selvagens e caçados muitas vezes de maneira ilegal ficam juntos, foram apontados como terreno fértil para doenças Imagem: Getty Images via BBC

David Stanway e Sophie Yu

Da Reuters, em Xangai e Pequim

23/01/2020 13h08

Um novo coronavírus que se espalha a partir da cidade chinesa de Wuhan colocou em evidência o pouco regulamentado comércio de animais selvagens da China — impulsionado pela demanda incansável por iguarias e ingredientes exóticos para a medicina tradicional.

Os mercados chineses, onde animais selvagens e caçados muitas vezes de maneira ilegal ficam juntos, foram apontados como um terreno fértil para doenças e uma incubadora onde diversos vírus se desenvolvem e rompem a barreira das espécies para os seres humanos.

Mais de 500 pessoas foram infectadas pelo novo vírus semelhante à gripe que, segundo as autoridades, emergiu de animais silvestres comercializados ilegalmente em um mercado de frutos do mar na cidade central da China. O número de mortos chegou a 17 e deve aumentar.

"A origem do novo coronavírus é a vida selvagem vendida ilegalmente em um mercado de frutos do mar de Wuhan", disse Gao Fu, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.

Pesquisas preliminares sugeriram que, no estágio mais recente de sua evolução, o vírus de Wuhan foi transmitido aos seres humanos por cobras. Mas o consultor médico do governo chinês Zhong Nanshan também identificou texugos e ratos como possíveis fontes.

Conservacionistas e especialistas em saúde há muito denunciam o comércio de animais selvagens por seu impacto na biodiversidade e pelo potencial de disseminação de doenças nos mercados.

"A parte do bem-estar animal é óbvia, mas muito mais oculta é o acúmulo e a mistura de todas essas espécies em uma área muito pequena, com secreções e urina juntas", disse Christian Walzer, diretor executivo da Wildlife Conservation Society em Nova York.

Os mercados úmidos da China já foram responsabilizados por surtos de outras doenças infecciosas na China e no sudeste da Ásia, incluindo o vírus responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que matou quase 800 pessoas em todo o mundo em 2003.

"A outra coisa que se deve considerar é que esses animais estão estressados demais nessas gaiolas, de modo que seus sistemas imunológicos falham muito rapidamente", disse Walzer. "É um sistema perfeito, não poderia ser melhor", declarou Walzer sobre a propensão do mercado a gerar vírus.

Fotografias tiradas no mercado de Wuhan antes de ser fechado no final do ano passado mostraram gaiolas cheias de cobras, porcos-espinhos e raposas. A mídia disse que cerca de 50 tipos de animais selvagens estavam à venda no mercado, incluindo pangolins em extinção.

Desde o início do surto, as autoridades de Wuhan e de outros lugares fecharam mercados, zoológicos e parques florestais, suspenderam o comércio de aves vivas e o comércio e transporte de animais silvestres, embora moradores de algumas áreas tenham dito que as medidas parecem ser amplamente simbólicas.

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