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AM: Indígenas dizem que evangélicos tentam convencer aldeias a não tomar vacina

Profissional de saúde e policial militar conversam com indígena no Amazonas  - Bruno Kelly/Reuters
Profissional de saúde e policial militar conversam com indígena no Amazonas Imagem: Bruno Kelly/Reuters

Anthony Boadle

De Brasília

11/02/2021 20h53

Equipes de profissionais de saúde que estão trabalhando na campanha de vacinação contra o coronavírus em aldeias indígenas remotas na Amazônia brasileira encontram resistência feroz em algumas comunidades onde missionários evangélicos estão provocando o medo em relação à vacina, dizem defensores e líderes tribais.

Na reserva de São Francisco, no estado do Amazonas, o povo Jamamadi expulsou profissionais de saúde com arcos e flechas em visita neste mês, disse Claudemir da Silva, líder Apurinã que representa comunidades indígenas do rio Purus, afluente do Xingú.

"Não é em todas as aldeias que têm missionários ou igrejas evangélicas com pastores que estão fazendo a cabeça dos indígenas para não tomar vacina com essas histórias de que tem chip, que vai virar jacaré, umas desculpas doidas", disse o líder por telefone.

Isso acrescenta aos temores de que a covid-19 pode assolar a população indígena brasileira de mais de 800 mil pessoas, cujos hábitos de vida em moradias comunais e acesso à saúde muitas vezes precário as tornam uma prioridade no programa nacional de imunização.

Líderes indígenas culpam o presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus apoiadores mais calorosos na comunidade evangélica por alimentarem o ceticismo em relação às vacinas contra o coronavírus, apesar do elevado número de mortes no país, que só fica atrás dos Estados Unidos.

"São várias comunidades que estão sendo influenciadas por esse fundamentalismo religioso de missionários que através de suas pregações estão colocando os indígenas contra a vacina", afirma Dinamam Tuxá, líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), maior organização indígena do país.

A Associação Brasileira de Antropologia denunciou grupos religiosos não especificados em nota na terça-feira por espalharem teorias da conspiração falsas para "sabotar" a vacinação dos povos indígenas.

Muitos dos pastores das igrejas brasileiras urbanas estão pedindo que seus seguidores sejam vacinados, mas missionários em territórios remotos parecem não ter recebido a mensagem.

"Tem alguns pastores, infelizmente, são aqueles que não tem sabedoria e ficam passando essa desinformação a nossos irmãos", disse o pastor Mário Jorge Conceição, da igreja Assembleia de Deus Tradicional em Manaus.

A agência indígena de saúde Sesai disse à Reuters em nota que está trabalhando para conscientizar sobre a importância da imunização contra o coronavírus.

Bolsonaro já minimizou a gravidade do vírus e se recusou a tomar a vacina. Ele desfez principalmente do imunizante mais disponível no país atualmente, fabricado pela chinesa Sinovac Biotech, citando dúvidas sobre suas origens.

Em evento em dezembro, o presidente criticou a Pfizer ao afirmar que a empresa se recusou a assumir a responsabilidade por possíveis efeitos colaterais em negociações com seu governo.

"Se você virar jacaré, o problema é seu. Se você virar o super-homem, ou nascer barba em mulher ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso", disse Bolsonaro.