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Fortes chuvas deixam indígenas novamente desabrigados em Minas Gerais

Em 2019, o leito do rio Paraopeba e suas margens foram tomados pela lama que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG) - Gaspar Nóbrega/SOS Mata Atlântica
Em 2019, o leito do rio Paraopeba e suas margens foram tomados pela lama que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG) Imagem: Gaspar Nóbrega/SOS Mata Atlântica

Leonardo Benassatto

12/01/2022 21h15

Três anos atrás, o colapso da barragem de rejeitos de uma mina em Brumadinho (MG) forçou uma pequena comunidade indígena de Minas Gerais a mudar suas casas para um terreno mais alto. Agora, o rio Paraopeba encheu devido à chuva e inundou a nova aldeia, deixando-os novamente desabrigados.

Cerca de 50 indígenas da comunidade Pataxó Hãhãhãe tiveram de se abrigar em uma escola, depois que suas casas na aldeia de Naô Xohã foram tomadas pelas águas lamacentas do rio, contaminadas com rejeitos.

"Nós perdemos casas, perdemos banheiros, perdemos nosso posto médico, perdemos móveis. Nossa comunidade está toda alagada", disse nesta quarta-feira o cacique Sucupira Pataxó-Hãhãhãe. "O sentimento é muito triste, coração partido! Ver essa aldeia desse jeito, se fosse por mim eu nem aqui retornava, meu coração está sangrando."

"Não tem como voltar porque o minério contaminou (o rio), a água é contaminada e está dentro das nossas casas, dentro de nossos quintais. Não tem mais como a gente viver naquele local. Nós temos muitas crianças", acrescentou.

As fortes chuvas atingiram a região de Minas Gerais de forma implacável nas últimas duas semanas, fazendo com que barragens transbordassem e inundassem cidades e estradas. Mais de 20 pessoas morreram.

Em janeiro de 2019, uma barragem se rompeu em uma mina perto de Brumadinho de propriedade da Vale, liberando um fluxo de lama que soterrou casas e comunidades, matando 270 pessoas.

Nenhum Pataxó-Hãhãhãe morreu no desastre. Mas por quilômetros seu modo de vida tornou-se insustentável nas margens de um rio poluído onde eles se banhavam, lavavam suas roupas e pescavam a principal fonte de alimento.

A comunidade tinha à época 80 moradores, que tiveram de se mudar para um terreno mais seguro a 30 metros de distância do rio. Agora, até mesmo esse novo local está debaixo d'água.

"Tristeza né? Muita tristeza", disse Marina Pataxó-Hãhãhãe, olhando para seu quintal inundado.