Polícia investiga ligações de pesca ilegal com desaparecimento de jornalista e indigenista na Amazônia
Por Gabriel Stargardter
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os investigadores que apuram o desaparecimento de um jornalista britânico e de um indigenista na floresta amazônica estão se concentrando nas pessoas envolvidas com a pesca ilegal e a caça irregular em terras indígenas, disseram três policiais à Reuters.
Dois dos agentes são delegados da polícia do Amazonas diretamente envolvidos no caso, enquanto o outro é uma autoridade graduada da Polícia Federal que está acompanhando de perto o caso. Eles solicitaram o anonimato para que pudessem discutir uma investigação em andamento.
"A principal hipótese criminal, até o momento, é que os envolvidos (e a motivação) tenham relação com atividades de pesca e caça ilegal na terra indígena", disse o policial federal.
Testemunhas disseram ter visto Dom Phillips, um jornalista freelancer que já atuou para o Guardian e para o Washington Post, no domingo. Phillips estava viajando nas profundezas de uma parte perigosa da floresta amazônica com Bruno Pereira, um ex-funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O desaparecimento de ambos ecoou globalmente, com políticos, celebridades, jornalistas e ativistas apelando ao governo do presidente Jair Bolsonaro para intensificar seus esforços para encontrá-los.
Os dois homens estavam em uma viagem de reportagem no Vale do Javari, uma área remota da selva na fronteira com o Peru e a Colômbia que abriga o maior número de indígenas não contatados do mundo. A região atrai traficantes de cocaína, assim como caçadores e pescadores ilegais.
Pescadores e caçadores viajam às profundezas do Vale do Javari, próximo à fronteira com o Peru, para encontrar espécies protegidas, como o pirarucu, que são vendidos em mercados regionais em cidades próximas como Tabatinga. Em 2019, Maxciel Pereira, que trabalhou com a Funai no combate à pesca ilegal no Vale do Javari, foi morto a tiros em Tabatinga.
Como ex-funcionário da Funai na reserva indígena javari, Bruno Pereira frequentemente entrava em conflito com pescadores que saqueavam estoques pesqueiros protegidos e viajava pela região com uma arma. Ele também havia recebido recentemente uma carta ameaçadora de um pescador, disse a polícia à Reuters.
A polícia na cidade de Atalaia do Norte interrogou vários pescadores como testemunhas e prendeu um deles, um pescador local chamado Amarildo da Costa, conhecido localmente como "Pelado". Ele foi acusado de posse ilegal de munição restrita. A polícia disse que ele foi uma das últimas pessoas a ver os dois homens.
Nesta quinta-feira, a Polícia Federal disse em nota que um especialista forense da corporação, ao lado de peritos da polícia local, estavam analisando a lancha apreendida com Da Costa em busca de "um possível material genético".
O comunicado disse que eles estavam usando Luminol, que identifica traços de sangue, para investigar "a possibilidade da existência de vestígios de amostra biológica e digitais deixadas na lancha, tanto pelo suspeito quanto pelos tripulantes".
A autoridade graduada da Polícia Federal e um dos delegados da polícia do Amazonas disse que Da Costa era suspeito de envolvimento com a pesca ilegal. O delegado disse que Da Costa e vários outros pescadores locais ouvidos pela polícia como testemunhas trabalharam para um homem conhecido como "Colômbia", um grande comprador de peixe e caça capturados na reserva. A Reuters não foi capaz de determinar o nome formal do comprador, nem de contatá-lo.
O advogado de Da Costa, Davi Oliveira, disse que seu cliente não estava envolvido no desaparecimento de Phillips e Pereira, e só estava envolvido na pesca legal. Oliveira disse que não sabia se Da Costa trabalhava para o homem conhecido como "Colômbia".
Dois moradores em Atalaia do Norte disseram à Reuters que "Colômbia" mora do outro lado da fronteira com o Peru.
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