Brasil deve propor cúpula sobre Amazônia em 2023 se Lula vencer, diz Amorim
Por Flavia Marreiro e Brad Haynes
SÃO PAULO (Reuters) - Se eleito, Luiz Inácio Lula da Silva deve propor a realização de uma cúpula de nações da floresta amazônica no primeiro semestre de 2023, para a qual seriam convidados também países desenvolvidos interessados em sua conservação, disse à Reuters Celso Amorim, o principal assessor de política externa do candidato petista.
A reunião, defende o ex-chanceler Amorim, daria um peso político inédito à Organização Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que existe desde 1978, e reúne Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além do Brasil.
"Se o presidente (Lula) me perguntasse uma proposta, eu diria: 'Se a gente puder, vamos fazer uma cúpula. E não vamos ficar limitados a eles (países do tratado). Vamos convidar como observadores ou associados os outros países da América do Sul, por exemplo, e alguns países desenvolvidos", disse Amorim.
A França, por causa da Guiana Francesa, seria um "convidado óbvio" para o fórum, acrescentou o diplomata brasileiro, que foi chanceler de Lula entre 2003 e 2010.
A formulação de Amorim é mais uma sinalização da campanha petista de que o reposicionamento global do Brasil na questão ambiental e da crise climática será uma prioridade da agenda externa em um eventual novo governo Lula, num contexto em que a o desmatamento na Amazônica está no maior nível em 15 anos.
Como a Reuters revelou em setembro, conselheiros de Lula articulam a criação de um grupo formado por Brasil, Indonésia e Congo --o BIC-- para atuar na próxima Conferência das Partes sobre o Clima (COP27), no Egito, em caso de eleição do petista, com o objetivo de pressionar os países ricos por financiamento para proteção das florestas e pela definição de detalhes sobre o mercado de carbono global.
Lula tem buscado reforçar suas credenciais verdes ante um histórico misto dos governos do PT na matéria. Houve queda no desmatamento da Amazônia nos primeiros anos com a então ministra Marina Silva, que voltou a apoiar Lula na campanha depois de anos de afastamento, mas a gestão petista também foi criticada por obras como a hidrelétrica de Belo Monte, que levou uma crise humanitária e ambiental para o coração da floresta.
VENEZUELA
Para o ex-chanceler Amorim, tanto fórum panamazômico como o BIC são exemplos de "integração de geometria variável" para lidar com a emergência climática que Lula, à diferença de Bolsonaro, terá "legitimidade" para propor.
Segundo o diplomata, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica deve ser "o trampolim" para tratar as questões da maior floresta tropical do mundo.
A iniciativa reforça o Pacto de Letícia, um compromisso firmado em 2019, na cidade de Letícia, na Colômbia, para intensificar as ações coordenadas na Amazônia. Sete dos oito países da OTCA assinaram o pacto, mas não a Venezuela, em meio à crise política e ao reconhecimento do líder oposicionista Juan Guaidó como autoridade venezuelana pelos países integrantes.
Amorim defendeu enfaticamente a participação venezuelana na OTCA revitalizada que ele está propondo. Atualmente, o país governado por Nicolás Maduro, um histórico aliado de líderes petistas, não tem relações formais com o Brasil, mas as reatou com a Colômbia após a eleição de Gustavo Petro, de esquerda.
Questionado sobre como um futuro governo Lula se posicionaria sobre as violações de direitos humanos e perseguição a adversários na Venezuela e Nicarágua, documentadas pela ONU, Amorim afirmou que será "construindo pontes e não destruindo possibilidade de diálogo".
"O que nós pudermos fazer a favor da democracia de maneira respeitosa, não intervencionista, não arrogante, nós faremos", disse o diplomata.
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