Governos latino-americanos apoiam México após prisão na embaixada no Equador
Por Alexandra Valencia
QUITO (Reuters) - Governos latino-americanos, incluindo o Brasil, solidarizaram-se com o México neste sábado, depois de a sua embaixada no Equador ter sido invadida para prender, sob indícios de corrupção, um polêmico político a quem foi concedido asilo pelas autoridades mexicanas.
A prisão de Jorge Glas, ex-vice-presidente do Equador, na noite de sexta-feira, desencadeou uma rápida suspensão das relações com Quito pela Cidade do México, com o governo do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador classificando a incursão diplomática incomum e a prisão como um ato "autoritário" e uma violação do direito internacional e da soberania do México.
Neste sábado, quatro governos de esquerda da América Latina – Brasil, Colômbia, Venezuela e Cuba – criticaram a prisão de Glas, que procurava refúgio na embaixada desde dezembro.
Ele pôde ser visto em vídeos que circulam nas redes sociais sendo levado por um comboio policial ao aeroporto da capital Quito, acompanhado por soldados fortemente armados. Ele então embarcou em um avião a caminho de um centro de detenção em Guayaquil, a maior cidade do país andino.
Fotos nas redes sociais, incluindo uma publicada pelo ministro das Relações Exteriores de Cuba, mostraram o que parecia ser o muro da embaixada sendo escalado por policiais ou soldados armados. A Reuters não conseguiu confirmar imediatamente a autenticidade das fotos.
O governo do Brasil condenou a ação do Equador como uma "clara violação" das normas internacionais que proíbem tal ataque a uma embaixada estrangeira, em um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do país.
A ação do Equador contra a embaixada deve “ser objeto de enérgico repúdio, qualquer que seja a justificativa para sua realização”, segundo o comunicado, que enfatizou a solidariedade de Brasília com o México.
"VIOLAÇÕES GRAVES"
Numa entrevista à emissora local Milenio na manhã de sábado, a principal diplomata do México, Alicia Barcena, expressou choque com a incursão do Equador na embaixada do país, localizada no distrito financeiro de Quito, acrescentando que alguns funcionários da embaixada ficaram feridos na operação.
Ela disse que Glas obteve asilo após uma análise exaustiva das circunstâncias que rodearam as acusações que enfrenta.
O Ministério das Relações Exteriores mexicano anunciou que apresentará uma queixa ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas por “graves violações do direito internacional”.
Também no sábado, a Organização dos Estados Americanos (OEA), com sede em Washington, emitiu um apelo ao diálogo para resolver a crescente disputa entre o Equador e o México, acrescentando em um comunicado que uma sessão do conselho permanente do órgão será convocada para discutir a necessidade de "cumprimento estrito dos tratados internacionais, incluindo aqueles que garantem o direito ao asilo".
O presidente colombiano, Gustavo Petro, por sua vez, argumentou em um post no X que a América Latina “deve manter vivos os preceitos do direito internacional em meio à barbárie que avança no mundo”.
O governo de Petro observou que buscará proteções legais de direitos humanos para Glas, agora detido, de acordo com um comunicado separado.
Newsletter
DE OLHO NO MUNDO
Os principais acontecimentos internacionais e uma curadoria do melhor da imprensa mundial, de segunda a sexta no seu email.
Quero receberGlas, condenado duas vezes por corrupção, estava escondido na embaixada em Quito desde que pediu asilo político em dezembro, pedido que o México atendeu na sexta-feira.
As autoridades equatorianas solicitaram, sem sucesso, permissão do México para entrar na embaixada e prender Glas.
Em 2017, Glas, o ex-segundo em comando do ex-presidente Rafael Correa, também de esquerda, foi condenado a seis anos de prisão depois de ser considerado culpado de aceitar subornos da construtora brasileira Odebrecht em troca de lhe conceder contratos governamentais.
Ao enfrentar um novo mandado de prisão por acusações distintas de corrupção, Glas alegou ser vítima de perseguição política, o que o governo do Equador negou.
Deixe seu comentário