Ex-líder da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen morre aos 96 anos

PARIS (Reuters) - Jean-Marie Le Pen, o fundador do partido francês de extrema direita Frente Nacional, que se aproveitou das preocupações da classe trabalhadora com a imigração e a globalização e construiu uma carreira com base em uma retórica provocativa que muitos consideravam racista e xenófoba, morreu aos 96 anos.

Sua morte foi confirmada pelo partido político de sua filha Marine Le Pen, o Reunião Nacional.

Jean-Marie Le Pen passou a vida lutando, seja como soldado nas guerras coloniais da França, como fundador da Frente Nacional, pelo qual disputou cinco eleições presidenciais, ou em disputas com suas filhas e ex-mulher, muitas vezes conduzidas de forma pública e furiosa.

A controvérsia foi a companhia constante de Le Pen: acusações de racismo e antissemitismo perseguiram a Frente Nacional desde que ele cofundou o partido em 1972.

Ele foi julgado, condenado e multado em 1996 por contestar crimes de guerra após declarar que as câmaras de gás nazistas eram "apenas um detalhe" da história da Segunda Guerra Mundial e que a ocupação nazista da França "não foi especialmente desumana".

Esses comentários provocaram indignação na França, onde a polícia havia reunido milhares de judeus que foram deportados para o campo de extermínio nazista de Auschwitz.

"Eu mantenho isso porque acredito que é a verdade", disse ele em 2015 quando lhe perguntaram se ele se arrependia do comentário sobre a câmara de gás.

Ao comentar a morte de Le Pen, o presidente Emmanuel Macron disse: "Uma figura histórica da extrema direita, ele desempenhou um papel na vida pública de nosso país por quase setenta anos, o que agora cabe à história julgar."

Orador populista e impetuoso, Le Pen ajudou a reescrever os parâmetros da política francesa em uma carreira de 40 anos que, aproveitando as ondas de descontentamento do eleitorado e a insatisfação em relação à imigração e à segurança do emprego, prenunciou a ascensão de Donald Trump à Casa Branca.

Continua após a publicidade

Ele chegou ao segundo turno da eleição presidencial em 2002, mas perdeu de forma esmagadora para Jacques Chirac, pois os eleitores apoiaram um conservador convencional em vez de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez desde que os colaboradores nazistas governaram na década de 1940.

Le Pen era crítico da União Europeia, que ele via como um projeto supranacional que usurpava os poderes dos Estados-nação, provocando o tipo de ressentimento sentido por muitos britânicos que mais tarde votaram pela saída do Reino Unido da UE.

Em 2011, depois de manter um controle pessoal rígido sobre a Frente Nacional, Le Pen foi sucedido como chefe do partido por sua filha Marine, que fez campanha para se livrar da imagem duradoura do partido como antissemita e rebatizá-lo como defensor da classe trabalhadora.

Ela chegou a - e perdeu - dois segundos turnos de eleições presidenciais, mas as pesquisas de opinião a colocam na liderança da próxima eleição, prevista para 2027.

A reformulação da marca do partido não agradou a seu pai, cujas declarações inflamadas e ataques forçaram-na a expulsá-lo do grupo.

(Reportagem de Elizabeth Pineau e Marine Strauss)

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.