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Participação no governo Temer é o maior obstáculo para candidatura de Meirelles, diz analista

29/05/2018 23h00

Lançado como pré-candidato do partido a presidente, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o MDB precisa ter nome na disputa nacional. Meirelles entra na briga tendo de vencer muitas desconfianças, e a primeira é se distanciar da imagem de Temer. Ele aparece nas pesquisas com 1% das intenções de voto e, mesmo com um tempo considerável de propaganda no rádio e na TV, ainda precisa provar que tem chances reais, que seu nome pode colar no eleitor.

Raquel Miúra, correspondente da RFI em Brasília

Os desafios são vários: conquistar apoio no próprio partido, popularizar o discurso árido focado na economia, e, principalmente se distanciar da imagem do presidente Michel Temer.

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que os adversários vão explorar a ligação de Meirelles com um governo de baixíssima popularidade. "Ele tem menos votos hoje do que a popularidade do próprio governo Temer. Então o primeiro obstáculo é vencer o desconhecimento. Ele tem muito pouco tempo se tornar um nome conhecido. O segundo e mais importante ponto é a sua participação no governo Temer, que será cobrado por outros candidatos, diz o analista.

Para ele, o quadro lembra a disputa eleição de 1989: É um governo sem apoio popular, que responde a várias acusações. Uma situação que lembra a de José Sarney, quando o PMDB, hoje MDB, lançou Ulisses Guimarães, que era popular, mas teve menos de 5% dos votos.

Henrique Meirelles sabe que o MDB não é um partido homogêneo, ao contrário. E para angariar apoio de seus pares tem dito que a campanha de 2018 vai ser disputada por todo mundo e pode ser interessante aos candidatos do partido ter um nome na disputa nacional.

Meirelles afirma também que sua história se encaixa bem em vários discursos, dos mais ligados ao ex-presidente Lula aos entusiastas do Estado mínimo. Ele foi presidente do Banco Central no governo do petista, inclusive na época de grande crescimento. Também conduziu a equipe econômica de Temer, que estabeleceu o teto de gastos públicos e aprovou também a reforma trabalhista. Meirelles também reforça que teve uma trajetória de sucesso fora da política, porque foi presidente do Banco de Boston, nos Estados Unidos.

Bancando a própria campanha

Esse fator é considerado relevante porque Meirelles se aposentou com um gordo vencimento em dólar e, no MDB, a disputa interna por dinheiro na campanha é grande. Nos últimos anos, a política que garantiu ao partido influência e muitos cargos foi investir na eleição para deputado e senador, formando uma bancada forte. Sendo rico, Meirelles tem condições de financiar sua própria campanha e não vai disputar recursos com seus correligionários.

No evento que lançou o ex-ministro da Fazenda como pré-candidato, Michel Temer falou sobre divisão do PMDB e pediu unidade. "Temos que aproveitar a campanha eleitoral para mostrar a unidade do MDB. Pode haver divergência, que será resolvida na convenção nacional, mas vamos acabar com essa história de dizer 'eu vou para tal caminho', 'eu não apoio o Meirelles', 'eu não apoio tal nome'. Isso não pode, então saia do partido! Nós temos que ter unidade absoluta, pois o Brasil não permite mais isso", declarou.

Futuras alianças parecem complicadas

O MDB também lançou o documento "Encontro como Futuro," um balanço das ações dos últimos dois anos do governo federal e uma defesa da continuidade das reformas iniciadas por Temer. Ao lançar Meirelles como pré-candidato, o MDB recuou no nome de Michel Temer. Nos bastidores, alguns políticos do partido diziam que seria muito complicado subir no palanque ao lado do presidente, diante da impopularidade dele e das acusações contra Temer e ministros fortes do seu governo.

A questão hoje é se a sigla vai mesmo com Meirelles até fim, e, nesse caso, como ficará a política de alianças. O MDB quer apoio de outros partidos de centro, mas sabe que isso depende do desempenho do ex-ministro. Muitos partidos que apoiam o governo estão lá por causa de cargos e espaço, ou seja, são fisiológicos e não entram numa canoa furada. Como na centro-direita nenhum candidato deslanchou pra valer, a briga está aberta. Mas Meirelles larga bem atrás, por exemplo, de Geraldo Alckmin (PSDB).

O ex-ministro, no entanto, diz que encomendou estudos mostrando que ele pode ser tornar competitivo em várias faixas do eleitorado. Sobre reformas nada populares que ele conduziu, já tem um discurso pronto. "O MDB, o governo, teve a coragem de promover as mudanças que o país precisava; coragem de enfrentar os tabus que outros governos não tiveram, coragem para na hora mais difícil e dura fazer um remédio adequado, embora difícil", declarou. As convenções partidárias que vão confirmar mesmo as candidaturas devem ocorrer entre o fim de julho e início de agosto.