Topo

Fotografia em Arles: 1968, o ano em que a América mergulhou no luto

03/07/2018 16h46

O ano de 1968 foi um marco. Mexeu com as estruturas do mundo. Na França, com a sociedade toda em transformação, estudantes fizeram uma revolução e trabalhadores cruzaram os braços em movimentos que marcaram profundamente o país. A América, por sua vez, chorou.

Enviada especial a Arles

Enquanto as barricadas se erguiam pelo mundo e protestos pipocavam por todas as partes, inclusive no Brasil, a América também passou por mudanças em 1968 que deixaram cicatrizes profundas.

No dia 6 de abril, uma das maiores lideranças que os Estados Unidos jamais tiveram, na pessoa de um negro na América racista pregando direitos iguais, foi abatido à queima-roupa. As fotos do prêmio Nobel da Paz Martin Luther King no chão, se esvaindo em sangue e, depois, no caixão, fazem parte do “1968, Que Ano!”, uma retrospectiva fotográfica da época, no Encontros da Fotografia de Arles, no sul da França.

A América já em luto recebe um outro golpe, no dia 5 de junho, tarde da noite, quando Robert Kennedy, senador e candidato declarado à presidência dos Estados Unidos, é também assassinado a sangue-frio. Cinco anos antes, seu irmão, John Kennedy, presidente do país, teve a cabeçada estraçalhada por tiros durante uma visita a Dallas, no Texas.

Homenagens

Bob Kennedy era símbolo da esperança por um país mais igualitário. Prova disso são as imagens feitas por Paul Fusco, que estava no trem que levou o corpo de Kennedy de Nova York a Washington. A viagem, que normalmente durava 4 horas, levou oito. No caminho, Fusco clicou as homenagens, de pessoas que acenavam, mostravam cartazes de adeus, que choravam. A série virou um marco do fotojornalismo.

Quarenta anos depois, o holandês Rein Jelle Terpstra, fascinado pelo livro de fotografias de Fusco sobre a última viagem de Bob Kennedy, desenvolveu um projeto, pedindo contribuições até por vaquinhas pela internet. As fotos de Fusco mostravam pessoas munidas de câmeras e Terpstra resolveu investigar o que essas pessoas fotografaram. Além das imagens de outro ângulo, o evento ganhou testemunhos.

O artista francês Philippe Parreno também mergulhou naquele dia e fez um filme transformando as pessoas das fotos icônicas de Fusco em personagens, silenciosas, respeitosas, à espera do trem que trazia o corpo de RFK.

Os três elementos se juntaram para formar a mostra “The Train”, um dos carros-chefe da 49ª edição do Encontros Fotográficos de Arles, em cartaz até 23 de setembro. Impossível não se emocionar.