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Feminicídio revela aumento da xenofobia contra venezuelanos no Equador

22/01/2019 15h11

Após o assassinato de uma jovem grávida em Ibarra, diante dos olhos de vários policiais que não conseguiram evitá-lo, o Equador endureceu a política de imigração para os venezuelanos, enquanto, na cidade, no norte do país, parte da população expulsou venezuelanos de hotéis, casas e parques onde dormiam.

Com informações da AFP e de Carlos Pizarro, correspondente da RFI em Quito

O assassinato de uma equatoriana grávida no sábado (19) em Ibarra fez com que setores da população expulsassem venezuelanos de hotéis, casas e parques onde dormiam, e exigissem que abandonassem a cidade, principal passagem para o interior do Equador, segundo a imprensa local.

"Abrimos as portas para eles, mas não vamos sacrificar a segurança de ninguém", disse o presidente equatoriano, Lenin Moreno, no Twitter. O presidente equatoriano foi rápido em anunciar a criação de uma permissão especial para entrar no país para os venezuelanos.

Diante da onda de reações contra a comunidade de venezuelanos no Equador, as ONGs de Direitos Humanos solicitaram a adoção de medidas protetivas, como o Fórum Criminal Venezuelano que, por meio de seu diretor Alfredo Romero, exigiu proteção do Estado equatoriano.

"Acho que a declaração do presidente de Lenin Moreno é totalmente inadequada. Parece que a causa do que aconteceu é a imigração venezuelana, pois são tomadas medidas contra os venezuelanos ", denunciou Romero.

"O agressor, neste caso, é um cidadão estrangeiro, o que poderia provocar uma generalização que só trará mais violência. É o momento de lembrar que o nosso povo também é migrante", disse nesta segunda-feira (21) o vice-presidente Otto Sonnenholzner. O funcionário - de ascendência alemã e libanesa - pediu à população por rádio e televisão que "aja com os demais como gostaríamos que agissem conosco".

Ficha criminal exigida a partir de agora

No entanto, também anunciou novas disposições para os venezuelanos entrarem em seu país. "A partir de hoje e em vista de o governo venezuelano separar o seu país da Comunidade Andina, será necessário que todos os seus cidadãos apresentem ficha criminal", disse. Diante da diáspora de venezuelanos, Quito apenas exigia a identidade para deixá-los entrar.

O feminicídio em Ibarra e o estupro de uma mulher por três amigos provocaram protestos no país nesta segunda-feira. "Queremos dizer ao Estado e à sociedade que não vamos promover um discurso de ódio, não vamos permitir que em nosso nome façam e digam discursos xenófobos", declarou Anaís Córdova, do coletivo Vivas nós queremos, em uma manifestação que reuniu milhares de pessoas em Quito.

Para o sociólogo Galo Díaz Pérez, a onda de violência está concentrada em Ibarra (onde ocorreram os fatos) e não se instalou na maior parte do país: "No Equador, reagimos com maturidade e mente aberta, indicando que se trata de um problema isolado, um ato criminoso execrável, e isso não representa nem reflete a atitude do Equador com a Venezuela e os irmãos venezuelanos", estima.

Segundo a ONU, desde 2015 2,3 milhões de venezuelanos fugiram do país. Segundo o Equador, 300 mil deles estão em seu território. Até o momento, 97.000 venezuelanos obtiveram o visto equatoriano.