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Catar conta sua história em novo museu concebido por Jean Nouvel

28/03/2019 16h52

O Museu Nacional do Catar foi inaugurado na noite dessa quarta-feira (27). Assinado pelo arquiteto francês Jean Nouvel, o prédio de mais de 52.000 m² abriga a história do emirado que investe na cultura como ferramenta para compensar a dependência do petróleo e do gás, em um momento em que enfrenta o boicote de seus vizinhos.

O Museu Nacional do Catar foi inaugurado na noite dessa quarta-feira (27).

Com informações de Isabelle Chenu, enviada especial a Doha

A cerimônia de inauguração do novo museu foi marcada por muita pompa e contou com a presença de celebridades do mundo todo. Do ator Johnny Depp à modelo Naomi Campbell, passando pela estilista Victoria Beckham ao técnico de futebol José Mourinho, a lista de famosos era longa. Artistas como Jeff Koons ou Aï Weiwei, ou ainda personalidades políticas como o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e sua mulher Carla Bruni também responderam presente ao convite do xeque Tamim bin Hamad, emir do Catar desde 2013, e sua irmã, Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa Al-Thani, que dirige a Qatar Museums Authority (QMA) e é vista como a mulher mais importante do mundo das artes.

Todos queriam ver o resultado desse projeto estimado em mais de US$ 400 milhões, que enfrentou alguns obstáculos antes de sair do papel. O museu, que deveria ser inaugurado em 2016, foi afetado pelo boicote econômico imposto no ano seguinte pela Arábia Saudita, Emirados Árabes e Barein, ex-aliados do Catar. Os vizinhos acusavam Doha de se aproximar do Irã, potência regional xiita e rival histórica de Riade, e de apoiar grupos islâmicos radicais.

O emirado sempre negou as acusações, mas as tensões atrasaram a inauguração. “O Catar se tornou muito mais forte desde 2017. Os cidadãos defenderam sua dignidade e a verdade, o que reforçou o país”, lançou o emir durante a cerimônia de abertura.

Rosa gigante

O prédio composto por pétalas curvas parece uma rosa gigante plantada perto do palácio real. A estrutura forma enormes sombras que tornam o edifício eficiente do ponto de vista energético.

Já do lado de dentro, é possível conhecer a história do emirado, formado por um pequeno povo nômade que se tornou, em poucos anos, uma potência, primeiro graças ao cultivo de pérolas e, mais tarde, à extração do petróleo e do gás. Os idealizadores defendem que o museu celebra esse passado beduíno, mas o projeto também reflete a riqueza e a ambição do emirado, que tenta se diferenciar dos vizinhos apesar do isolamento atual.

Nos 7.000 m² de espaço para exposições permanentes são projetados filmes com testemunhos poéticos que evocam as belezas naturais e esse passado nômade. Muitos documentos também retraçam o reinado da família Al-Thani, que dirige o país há 150 anos.

O arquiteto Jean Nouvel, que também assinou o prédio do Louvre de Abu Dhabi em 2017, disse que não estava a serviço de um regime. “Eu trabalho para povos, e não para uma pessoa que está no poder em um determinado momento”, declarou o ganhador da edição 2008 do Pritzker, o equivalente ao Prêmio Nobel da Arquitetura.