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França: enfermeiros em greve fazem vídeo seminus em protesto contra precariedade

Enfermeiros em greve fazem vídeo seminus em protesto contra precariedade - Reprodução/YouTube
Enfermeiros em greve fazem vídeo seminus em protesto contra precariedade
Imagem: Reprodução/YouTube

Da agência RFI, em Paris (França)

23/01/2020 16h30

Após inúmeras manifestações para chamar a atenção sobre a precariedade da categoria na França, um grupo de enfermeiros e outros profissionais do setor da saúde lançou uma campanha de vídeo na qual homens e mulheres aparecem seminus.

Os funcionários dos hospitais públicos afirmam que suas reivindicações de melhorias não são ouvidas pelo governo e que a iniciativa foi a única maneira de serem vistos.

Intitulado "A défaut d'être entendus, peut-être serons nous vus" ("Já que não somos ouvidos, talvez seremos vistos", em tradução livre), o vídeo de um minuto mostra um grupo de enfermeiros, homens e mulheres, alinhados, com torso nu. Um fio preto, representando a linha de um eletrocardiograma, passa sobre os corpos, reproduzindo os batimentos cardíacos, com altos e baixos. O fundo sonoro de um exame do coração se acelera, até sinalizar uma parada cardíaca. (Assista ao vídeo abaixo)

A cena é intercalada por imagens de corpos em um necrotério, cobertos por um lençol, deixando à mostra apenas os pés com uma etiqueta. Mais de 100 mil pessoas viram a versão original do vídeo apenas nesta quinta-feira (23).

A iniciativa foi lançada por um coletivo que reúne os hospitais da região de Annecy, no sudeste da França.

"Depois de meses de alertas, de encontros com a ministra [da Saúde, Agnès Buzyn], de manifestações, de slogans, de demissões, hoje nos colocamos literalmente nus para defender o hospital público", explicam os idealizadores em um comunicado. "Quando fizemos o clipe, não foi por prazer. Foi por uma sensação de frustação e impotência. Não sabemos mais o que fazer", declarou Florent Besse, membro do coletivo.

As principais reivindicações são um aumento de 4% no orçamento dos hospitais e um aumento de 300 líquidos por mês nos salários. Eles também pedem o fim do fechamento de leitos e a contratação de pessoal.

Hospital "morrendo"

Essa não é a primeira campanha que tenta chocar a opinião pública para chamar a atenção sobre a situação dos funcionários dos hospitais públicos.

Um coletivo da região de Calvados, no noroeste francês, divulgou um vídeo no início do mês no qual um jovem enfermeiro aparece dentro de um saco plástico usado para colocar cadáveres após acidentes. O protagonista lança: "Se vocês não fizerem nada, olhem o que me espera", antes de ter o zíper da embalagem fechado por um membro do Samu.

A ministra francesa da Saúde anunciou em novembro um plano para melhorar as condições de trabalho nos hospitais públicos, mas as medidas apresentadas foram vistas como insuficientes pela categoria, que se mobiliza há dez meses, com greves recorrentes. Uma nova jornada de mobilização está prevista para 14 de fevereiro.