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Por que as pessoas se ajoelham durante os protestos antirracistas nos EUA?

Manifestantes erguem os braços para protestar e pedir por justiça para George Floyd, morto pela polícia em Mineápolis, nos EUA - Dan Kitwood/Getty Images
Manifestantes erguem os braços para protestar e pedir por justiça para George Floyd, morto pela polícia em Mineápolis, nos EUA Imagem: Dan Kitwood/Getty Images

04/06/2020 16h46

Desde o início dos protestos após a morte de George Floyd, novo símbolo da discriminação racial nos Estados Unidos, um mesmo gesto se repete: manifestantes, policiais e até o ex-presidente Joe Biden se ajoelharam. Colocar um joelho no chão tornou-se uma forma de mostrar respeito pelos pedidos por justiça e pelo fim do racismo policial.

Em 2016, já no contexto de manifestações do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), o jogador de futebol americano Colin Kaepernick negou-se a ficar em pé durante a execução do hino norte-americano em um jogo da NFL. O gesto de protesto pretendia chamar a atenção para a violência policial contra negros.

"Não vou ficar de pé e mostrar orgulho da bandeira por um país que oprime negros e pessoas de cor", disse o quarterback que assistiu sentado ao hino. "Para mim, isso é mais importante que o futebol e seria egoísta da minha parte não olhar para isso. Há corpos nas ruas e pessoas tirando licença remunerada e se livrando de punição por assassinato".

Alguns jogos depois, Kaeparnick passou a ficar de joelhos durante o hino nacional, dizendo que este seria uma posição em respeito aos militares veteranos, que haviam se incomodado com a imagem do jogador sentado diante da bandeira.

Considerado mais respeitoso, o gesto tornou-se um ícone e passou a se repetido por outros jogadores em protesto contra a violência policial.

A ação, no entanto, tomou outra proporção quando, em 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resolveu criticar os atletas por suas manifestações. Como parte de seu discurso nacionalista, Trump sugeriu que o público boicotasse os jogos da NFL pelo desrepeito aos símbolos nacionais.

"Se os fãs da NFL se recusarem a ir aos jogos até que os jogadores deixem de faltar com respeito à nossa bandeira e a nosso país, veríamos uma rápida mudança. Que sejam demitidos ou suspensos", publicou o presidente em seu Twitter.

A partir de então, ajoelhar-se tornou-se não apenas símbolo de protestos contra o racismo mas um símbolo claramente anti-Trump. O movimento #takeaknee (ajoelhe-se), de apoio ao direito de protesto, saiu do mundo do futebol e passou a ser reproduzido por celebridades, como os cantores Stevie Wonder e Pharrell Williams.

Gesto retoma luta por direitos civis

Para o historiador especialista em Estados Unidos, Thomas Snégaroff, o gesto faz referência às preces públicas em manifestações pacíficas lideradas por Martin Luther King durante a luta por direitos civis nos EUA nos anos 1960. "Este gesto de prece foi logo interpretado como o símbolo da não violência", explicou o historiador ao jornal Le Monde.

A foto de Martin Luther King com um dos joelhos no chão durante uma oração pública no Alabama em 1965 foi publicada pelo centro de memória em seu nome em 2017, como parte do movimento #takeaknee (ajoelhe-se).

"Muitos são 'mais dedicados à ordem do que à justiça', ofendidos por ajoelharem-se durante o Hino e não pelo racismo ou pelo linchamento moderno. #Ajoelhe-se", dizia a mensagem.

Mais uma camada em 2020

Após a morte de George Floyd diante das câmeras sob o joelho do policial Derek Chauvin, o ato de ajoelhar-se ganhou mais uma camada de simbologia.

Além de sinal de respeito pela dor de quem perdeu alguém e pela luta por justiça social, dobrar um dos joelhos faz referência a essa imagem de terror que mostra um homem negro sendo morto por asfixia pela opressão do corpo de um policial.

O gesto repetido pelas ruas dos Estados Unidos agora muitas vezes incorpora um punho erguido para o alto, como o gesto de luta usado pelos Panteras Negras nos anos 1960.