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Opositora de Belarus é detida tentando atravessar para a Ucrânia

Maria Kolesnikova, líder da oposição ao governo de Aleksandr Lukashenko, em Belarus - VASILY FEDOSENKO/REUTERS
Maria Kolesnikova, líder da oposição ao governo de Aleksandr Lukashenko, em Belarus Imagem: VASILY FEDOSENKO/REUTERS

08/09/2020 08h09

A opositora bielorrussa Maria Kolesnikova foi presa na manhã de hoje na fronteira com a Ucrânia, de acordo com informações de um membro do serviço aduaneiro de Belarus. Ela havia desaparecido na véspera, gerando especulações sobre seu paradeiro.

Informações contraditórias circularam, inclusive de que ela já estivesse na Ucrânia, até a confirmação da prisão por funcionários da alfândega entre os dois países. A informação foi divulgada pela televisão pública bielorrussa. Do lado ucraniano, fontes confirmaram que dois outros opositores cruzaram a fronteira.

Maria Kolesnikova foi levada ontem por homens mascarados no centro de Minsk. Dois outros representantes da oposição desapareceram em seguida, de acordo com seus apoiadores.

"Kolesnikova está agora sob custódia. Não posso dizer exatamente onde ela se encontra, mas ela foi detida devido às circunstâncias em que o grupo tentava deixar o território bielorrusso", disse Anton Bichkovsky, da alfândega da Belarus.

Segundo a agência de notícias oficial Belta, Maria Kolesnikova foi de carro até a fronteira com a Ucrânia, juntamente com outros dois ativistas. O motorista acelerou quando um guarda de fronteira tentou intervir. "Kolesnikova estava fora do veículo. Na verdade, ela foi empurrada para fora e o carro continuou para o lado Ucraniano", acrescentou a agência, citando informações fornecidas no local pelos guardas.

Alemanha e Reino Unido pediram respostas ontem, depois do desaparecimento de Kolesnikova e seus aliados.

Exílio

Kolesnikova é a última liderança da oposição ainda presente em Belarus, já que outros opositores foram para o exílio alegando estarem ameaçados.

Em entrevista concedida à RFI na sexta-feira (4), Maria Kolesnikova disse que pretendia ficar no país.

"Eu nunca quis deixar a Belarus. Eu fico aqui e estou pronta para ir até o fim! Tomei essa decisão em 12 de maio, quando me lancei na campanha para as eleições presidenciais, ao lado do candidato Viktor Babariko, já preso", afirmou. "Eu estava totalmente ciente das possíveis consequências. Mas não podemos dizer que é possível se preparar para isso. Hoje, todo cidadão bielorrusso que sai para a rua corre o risco de ser preso, sujeito a violência ou tortura", denunciou.

Em imagens gravadas durante o protesto desse domingo, vê-se, homens encapuzados à paisana e armados com cassetetes circulando pelo centro da cidade e perseguindo manifestantes.

O Conselho de Coordenação da oposição foi criado para garantir uma transferência pacífica de poder, depois que a principal rival de Alexander Lukashenko, Svetlana Tikanovskaya, rejeitou a alegação do atual presidente de ter vencido as eleições presidenciais de 9 de agosto, com 80% dos votos.

Manifestações acabam com centenas de prisões

Dezenas de milhares de manifestantes participaram de um protesto no domingo (6) pelas ruas de Minsk para exigir a saída do presidente Alexander Lukashenko, quase um mês após a sua contestada reeleição. A manifestação pelo quarto fim de semana consecutivo resultou em pelo menos 633 prisões, segundo as autoridades bielorrussas.

"Mais uma vez, uma marcha com quase cem mil pessoas tomou as ruas de Minsk. E essas pessoas estão determinadas a continuar", explica o jornalista franco-bielorrusso Andrei Vaitovich, em entrevista à RFI. "Após 3 ou 4 dias de repressão brutal, elas não vão esquecer e não perdoarão. Essa é a mensagem dos manifestantes", completa.

Sanções da União Europeia

A União Europeia pretende sancionar 31 membros da administração bielorrussa, incluindo o ministro do Interior, devido a fraudes que, segundo o bloco, mancharam a reeleição do presidente Alexander Lukashenko, além da forte repressão aos protestos que se seguiram no país.

"Primeiramente, listamos 14 nomes, mas muitos Estados acharam que não seria suficiente. Então, chegamos a um consenso sobre outros 17. São altos-funcionários ou responsáveis pela eleição, pela violência e pela repressão ", afirmou um membro da diplomacia europeia.

Exercício militar

Em meio ao clima de incerteza, tropas russas e sérvias são esperadas em Minsk para manobras militares em conjunto, entre os dias 10 e 15 de setembro, informou a agência de notícias RIA nesta terça-feira.

Alexander Lukashenko, que antes das eleições usava palavras duras para denunciar as tentativas de "desestabilização" por Moscou, agora denuncia uma "conspiração" ocidental e faz de tudo para se aproximar da Rússia, sua mais próxima aliada e parceira econômica.