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Pós-Brexit: Reino Unido deve se preparar para uma saída da UE sem acordo, adverte Boris Johnson

3.jun.2020 - Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson - Chris J Ratcliffe / Getty Images
3.jun.2020 - Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson Imagem: Chris J Ratcliffe / Getty Images

16/10/2020 09h02

Após um primeiro dia de negociações com representantes dos 27 países da UE, considerado "decepcionante" por Londres, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se pronunciou hoje sobre o impasse em relação ao pós-Brexit. Segundo ele, o Reino Unido deve se preparar para a saída do bloco sem acordo.

Em entrevista à TV britânica, o premiê não poupou críticas à União Europeia. "A UE se recusou a negociar seriamente", afirmou. Para Johnson, a menos que não haja "uma mudança fundamental" da parte dos líderes europeus, o Reino Unido optará pelo "no deal".

"Eles abandonaram a ideia de um acordo de livre comércio. Não parece haver nenhum progresso da parte de Bruxelas. Então, o que dizemos para eles é: venham conversar no caso de uma mudança fundamental", reiterou.

Na quinta-feira, Londres havia considerado decepcionante a conclusão do primeiro dia de debates sobre a questão, durante a reunião de cúpula em Bruxelas. A UE afirmou que "os passos necessários" para um entendimento entre as duas partes é responsabilidade do Reino Unido.

O principal negociador do Reino Unido sobre o Brexit, David Frost, não escondeu seu desgosto na quinta-feira (15), no final do primeiro dia de reunião. "Decepcionado com as conclusões sobre as negociações Reino Unido/UE", escreveu no Twitter. "Também estou surpreso com a sugestão de que, para chegar a um acordo, toda a movimentação futura deverá vir da parte do Reino Unido", reiterou.

Diante da falta de compreensão entre as duas partes no primeiro dia de diálogos, já se esperava que Boris Johnson se pronunciasse em prol do "no deal" (sem acordo). A decisão, se for levada adianta, poderá ser devastadora para as economias já fragilizadas pela pandemia. Outra ameaça que enfrentam os negociadores é o prazo: no dia 1° de janeiro de 2021, as regras comerciais europeias em vigor deixam automaticamente de ser aplicadas no Reino Unido.

Na quinta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, também reconheceu que os dois lados precisam estar dispostos a negociar de forma que seja possível chegar a uma conclusão. A líder lembrou que os países da UE pediram ao Reino Unido que continuasse disposto a assumir compromissos por um acordo. "Claro, isso também significa que temos que assumir compromissos", reconheceu.

Progressos "insuficientes"

Londres e Bruxelas tentam, desde o início de 2020, chegar a uma conclusão sobre como funcionará sua relação a partir de 2021. Esse "entendimento" ainda deve ser ratificado por Londres e pelos 27 governos europeus antes do final do ano. Por isso, os negociadores correm contra o tempo.

Na quinta-feira, em Bruxelas, líderes europeus expressaram sua preocupação "porque os progressos realizados em temas de interesse da UE ainda são insuficientes para se chegar a um acordo". Por isso, não pediram apenas ao principal negociador, o francês Michel Barnier, que continue a discutir "nas próximas semanas", mas também evocaram a determinação da UE de ter "uma parceria o mais próxima possível" do Reino Unido.

Em coletiva de imprensa, Barnier propôs iniciar uma nova rodada de negociações em Londres na próxima semana, em uma tentativa de alcançar um acordo ainda neste mês. "Queremos dar todas as chances de sucesso a essas discussões", afirmou, ressaltando que a UE está disposta a dialogar "até o último momento".

As três principais preocupações da Europa para fechar um acordo giram em torno de regras de concorrência e o acesso às águas britânicas para as frotas de pesca da UE. De acordo com Barnier, a UE estava pronta para um "esforço razoável" sobre a questão dos direitos de pesca.

Em relação ao enquadramento jurídico da ruptura, o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que o Reino Unido deveria aplicar o Acordo de Retirada plenamente "e ponto final", em referência às mudanças unilaterais implementadas por Johnson. No entanto, o negociador europeu comentou que o abismo que separa as duas partes ainda é muito grande para haver um entendimento à vista.