Eurostar, o trem que atravessa o Canal da Mancha, corre o risco de falência por causa da pandemia
Símbolo da relação cordial entre a França e o Reino Unido, o Eurostar - trem que liga os dois países por meio de um túnel sob o Canal da Mancha - corre o risco de falir nos próximos meses. Em razão da pandemia de Covid-19, que diminuiu de forma drástica o número de viajantes, a empresa que administra o serviço afirma que não poderá continuar funcionando se não tiver uma ajuda suplementar dos governos francês e britânico.
"Uma catástrofe é possível", declarou na segunda-feira (18) o diretor-geral do Eurostar, Jacques Damas. Segundo ele, uma suspensão de pagamentos de suas dívidas pode acontecer no segundo trimestre deste ano, "quando tivermos gastado todo nosso dinheiro". "Se a crise piorar, isso pode acontecer ainda mais cedo", alertou.
O Eurostar perdeu 82% de seu faturamento no ano passado. Segundo seus administradores, a empresa viu seu resultado dividido por vinte entre o segundo e o quarto trimestre de 2020. "Resumindo, faturamos apenas 5% do habitual desde 1° de abril", desabafou Damas.
Segundo o executivo, o sistema Eurostar "sofre mais do que as companhias aéreas", pois é submetido ao acúmulo de regras sanitárias impostas nos diferentes países que atende (Grã-Bretanha, França, Bélgica e Holanda).
A situação piorou desde o início de 2021, com a nova variante do vírus da Covid-19 que circula no Reino Unido. Atualmente, apenas um trem faz o trajeto de ida e volta diariamente entre Londres e Paris e outro faz o trecho Londres-Bruxelas-Amsterdã, contra 18 trens em dias normais. E, mesmo assim, 80% dos vagões estão vazios.
A direção da empresa fez uma redução drástica dos gastos, colocou a maior parte do pessoal de licença e fez um empréstimo de ? 450 milhões (quase R$ 3 bilhões), além de ter obtido ? 210 milhões (R$ 1,3 bilhão) de seus acionistas. O Eurostar solicita agora ter acesso aos mesmos empréstimos oferecidos às companhias aéreas para enfrentar a crise sanitária, além de uma redução temporária dos pedágios cobrados pela circulação de seus trens.
Francesa na Inglaterra e inglesa na França
A SNCF, estatal francesa de transportes ferroviários, é proprietária de 55% da Eurostar, e 40% pertence a um consórcio composto por um banco canadense (30%) e um fundo britânico (10%). Os 5% restantes são da estatal ferroviária belga SNCB (5%). Segundo Damas, os acionistas atuais não podem fazer mais nada e a única solução é obter uma ajuda dos governos, principalmente da França e do Reino Unido.
O ministério britânico dos Transportes, que já foi solicitado, disse apenas que "discute de forma regular com o Eurostar desde o início da epidemia". Já do lado francês, o Ministério dos Transportes não quis comentar a situação. "Nós apoiaremos as empresas de transporte ferroviário e aéreo como fazemos desde o início", se contentou em dizer o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire.
O presidente da SNCF, Christophe Fanichet, ressalta o impasse que faz parte da história do Eurostar, cuja sede é em Londres, mesmo se a estatal francesa é majoritária. "É uma empresa francesa na Inglaterra, então ela não é ajudada pelos ingleses. E ao mesmo tempo não é ajudada pelos franceses, pois ela está situada na Inglaterra."
O Eurostar faz o trajeto entre Londres e Paris em menos de três horas, e pode alcançar a velocidade de 300 km/h. Em 2019, o serviço transportou mais de 11 milhões de passageiros.
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