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Familiares de vítimas da Covid-19 em Wuhan insistem para encontrar equipe da OMS

28/01/2021 14h16

Especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciaram nesta quinta-feira (28), na cidade chinesa de Wuhan, sua delicada investigação sobre a origem do coronavírus. O líder de uma associação de vítimas da infecção pulmonar insiste para encontrar a delegação da ONU.

Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim

O Ministério das Relações Exteriores chinês informou que os membros da OMS - cerca de 12 pessoas, por enquanto - poderão "participar de seminários e efetuar visitas", mas nenhum encontro com familiares de vítimas da Covid-19 foi agendado até o momento. O programa da delegação é milimetricamente controlado pelas autoridades chinesas. Pequim pretende se desonerar de qualquer responsabilidade nesta pandemia de proporções inéditas, que já infectou mais de 100 milhões de pessoas no mundo. 

Os especialistas da OMS não são psicólogos, mas as famílias enlutadas de Wuhan gostariam de contar a eles sua história, seu sofrimento, o que viram sobre o início da epidemia na China. Os virologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde pública enviados pela organização da ONU à capital da província de Hubei agora têm a tarefa de bancar os detetives e rastrear os vestígios do SARS-CoV-2, que já matou mais de dois milhões de pessoas no mundo.

Zhang Hai é um dos líderes de um grupo de cem famílias da rede WeChat que perderam parentes na primeira onda de casos no ano passado. O grupo, disse ele, foi dissolvido pela censura pouco antes da chegada dos especialistas estrangeiros. "Esta decisão mostra que as autoridades estão muito preocupadas, nervosas", afirma. "Eles temem que os familiares das vítimas possam se encontrar com a equipe da OMS e, sem qualquer aviso, desmantelaram nosso grupo WeChat durante a madrugada", relata.

Zhang Hai tem 51 anos. Ele perdeu o pai idoso por causa de uma pneumonia viral que apareceu nesta megalópole no coração da China no inverno passado. Como outras famílias de vítimas, por falta de exames no início da epidemia, o idoso não foi contabilizado no número de mortos pelo coronavírus na província de Hubei, que registra oficialmente 68.150 infectados e 4.636 óbitos pela Covid-19.

Balanço contestado

Há vários meses, essas famílias exigem sanções contra as autoridades locais, acusadas de terem minimizado a epidemia, em particular calando os médicos que denunciaram a situação caótica nos hospitais da cidade. Zhang Hai adverte sobre o risco de parcialidade nas trocas com cientistas chineses.

"Acredito que conversar com parentes das vítimas pode ajudar a OMS em sua busca pela verdade", disse Zhang Hai. Se os governantes de Wuhan não permitirem que os vejamos, esta visita será apenas de fachada. Os especialistas estrangeiros não devem se contentar em verificar o trabalho apresentado a eles por seus colegas chineses. Caso contrário, não poderemos explicar o que aconteceu aqui no inverno passado."

Há pouco mais de dez dias, um novo relatório publicado por pesquisadores chineses estimou que o impacto da pandemia poderia ser pior este ano do que em 2020

Familiares de vítimas da Covid-19 pedem às autoridades que divulguem o programa de visitas da OMS (locais e pessoas reunidas) e que os testemunhos dos residentes locais sejam levados em consideração.