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Em meio a atrasos e promessas não cumpridas, europeus se reúnem para acelerar vacinação no bloco

Atraso no calendário de vacinação é uma dor de cabeça para os governos e o executivo do bloco europeu, que prometeram ter 70% da população imunizada até o final do verão - Pexels
Atraso no calendário de vacinação é uma dor de cabeça para os governos e o executivo do bloco europeu, que prometeram ter 70% da população imunizada até o final do verão Imagem: Pexels

Letícia Fonseca-Sourander

Correspondente da RFI em Bruxelas

25/02/2021 06h42

Líderes europeus voltam a se reunir por videoconferência hoje para discutir a aceleração da vacinação no bloco e mais restrições contra a covid-19. A situação epidemiológica na Europa é grave, diante do surgimento de novas variantes do coronavírus e dos cortes na entrega das doses prometidas pela AstraZeneca ao bloco.

O atraso no calendário de vacinação contra a covid-19 é uma dor de cabeça para os governos e o executivo do bloco europeu, que prometeram ter 70% da população imunizada até o final do verão. Com isso, os planos nacionais dos 27 países da UE terão que ser reprogramados. O maior problema é o corte na produção e entrega das vacinas, principalmente da farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca.

Segundo a agência de notícias Reuters, "a AstraZeneca só vai conseguir fornecer cerca de metade das 180 milhões de doses prometidas à União Europeia para o período entre abril e junho". A notícia caiu como uma bomba no 13º andar do Berlaymont, prédio sede da Comissão Europeia em Bruxelas e que abriga o escritório de sua presidente, Ursula von der Leyen.

Depois de semanas de duras críticas por causa da lentidão da imunização no bloco, Ursula von der Leyen afirmou esta semana que a União Europeia está se aproximando do ritmo do programa de vacinação do Reino Unido, um dos mais bem sucedidos do mundo. A prioridade continua sendo acelerar a vacinação na UE. De acordo com as últimas estatísticas, 27% dos britânicos já receberam a primeira dose e, no bloco europeu, apenas 6% da população foi imunizada.

Os contratos assinados por Bruxelas com seis laboratórios farmacêuticos ficaram comprometidos porque a capacidade de produção dos fabricantes foi drasticamente reduzida. Para cumprir os contratos europeus, a AstraZeneca poderá recorrer à produção na Índia. Na videoconferência de hoje, os dirigentes do bloco devem insistir na capacidade de aumentar a produção de vacinas na UE, levando já em conta as novas variantes do coronavírus.

Passaporte de vacinação

Líderes europeus devem discutir se é viável criar passaportes de vacinação para as pessoas que já foram vacinadas contra a covid-19 no continente. Apesar de lento, o programa de imunização na Europa avança e países como Espanha, Itália e Grécia - cujas economias estão diretamente ligadas ao turismo - apoiam a ideia. Em países como França e Alemanha há mais resistência à obrigatoriedade da vacina.

Na França, o sentimento antivacina é particularmente forte e o governo julga "prematura" a criação do passaporte de vacinação. Segundo um artigo recém publicado na prestigiosa revista científica britânica Lancet, há receio de que a criação de um passaporte de vacinação possa vir a se tornar uma forma de maior controle e monitoramento da circulação de pessoas e seus estados de saúde. Porém, analisa o texto, "projetos semelhantes poderiam facilitar uma circulação mais segura e as questões de privacidade não são únicas, nem insuperáveis".

Infração e mais restrições

A Comissão Europeia advertiu os governos da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria e Suécia de terem ido "longe demais" ao impor restrições unilaterais de fronteiras para combater a Covid-19. Ao controlar seus territórios, esses países limitaram a livre circulação de pessoas e bens, e agora deverão justificar as medidas nos próximos dez dias.

Para o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, "ainda podem ser necessárias medidas restritivas em viagens não essenciais para conter a propagação do vírus". No entanto, Bruxelas, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estão discutindo o futuro reestabelecimento das viagens aéreas. As ideia de viagens mediante a apresentação de passaportes de vacinação levantaria questões legais: as últimas pessoas a serem imunizadas poderiam argumentar que tiveram suas liberdades de circulação prejudicadas.

A OMS e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) não divulgaram nenhuma orientação sobre se quem já recebeu as duas doses da vacina contra a Covid-19 poderá ainda carregar o coronavírus e infectar terceiros. Também não foi esclarecido se as pessoas poderiam ser reinfectadas e por quanto tempo elas conseguiriam manter a imunidade.