Rússia financia expansão de usina nuclear em área sísmica da Hungria e irrita austríacos
A Hungria pretende expandir a usina nuclear de Paks, a única em funcionamento no país, em 2 mil MW com duas unidades de 1.200 MW cada. O projeto controverso foi oficializado em 2014 quando a Rússia fechou um acordo com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
O negócio envolve cerca de 10 bilhões de euros, valor do empréstimo de Moscou para viabilizar 80% do plano. O documento assinado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e Orbán, que é um dos apoiadores mais fervorosos de Putin na União Europeia, descreve a transação como uma "cooperação para uso pacífico da energia atômica".
Porém, um relatório recente da Agência Ambiental Federal da Áustria soou o alarme ao divulgar que a usina nuclear de Paks, construída na década de 1970, está localizada bem em cima de uma falha sísmica ativa, a 100 km ao sul da capital Budapeste.
Segundo a agência austríaca, "a potencial ocorrência de um deslocamento da superfície permanente no local não pode ser excluída de acordo com evidências científicas. A expansão da usina nuclear de Paks deve, no entanto, ser considerada inadequada". Quanto ao estudo apresentado pela empresa responsável pelo projeto, autoridades austríacas revelam que a licença de construção "omite informações importantes".
Gigante russa
A estatal russa de energia nuclear Rosatom será responsável pela construção de mais dois grandes reatores nucleares moderados à água (VVER) dentro da planta central da usina nuclear de Paks. Atualmente, a central opera com quatro reatores de água pressurizada VVER-440.
A Rosatom é uma corporação estatal russa que engloba mais de 250 empresas e instituições científicas, incluindo todas as firmas civis nucleares da Rússia, as instalações do complexo de armas nucleares, organizações de pesquisa e a única frota de propulsão nuclear do mundo com navios quebra-gelo e submarinos. A empresa ocupa posição de liderança no mercado mundial de tecnologias nucleares e implementa projetos em vários países.
A Autoridade de Energia Atômica da Hungria tem até o mês de setembro para aprovar a licença da Paks II. O governo húngaro espera que a construção comece no próximo ano e que o país possa iniciar o pagamento do empréstimo aos russos em 2031.
A União Europeia aprovou a expansão da usina nuclear de Paks em 2017. Porém, no ano seguinte, a Áustria processou a Comissão de Bruxelas, órgão executivo do bloco, por ter permitido o projeto. O caso ainda está pendente.
Atual relação entre Hungria e Rússia
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, é o líder europeu que mantém melhores relações com a Rússia. No poder desde 2010, Orbán é um admirador declarado de Putin e os dois se reúnem pelo menos uma vez por ano.
Os húngaros são extremamente dependentes do gás e petróleo russos. A Rússia fornece nada menos do que 80% do gás natural consumido na Hungria. Neste ano, a Hungria se ligou ao gasoduto Turk Stream, um projeto da gigante russa Gazprom destinado a transportar gás através do mar Negro para a Turquia e diversos países do bloco europeu.
Especialistas acreditam que o empréstimo contraído pelo governo de Budapeste para a expansão da usina nuclear de Paks vai aumentar a dependência energética dos húngaros em relação à Rússia. Orbán foi um dos poucos membros da União Europeia que criticou abertamente as sanções impostas a Moscou pela anexação da Crimeia e pela sua intervenção no conflito no leste da Ucrânia.
A Hungria foi ocupada e chego a ser aliada da URSS. No entanto, na era pós-soviética, os húngaros nunca se mostraram muito fãs da Rússia. A chegada de Órban ao poder, um líder nacionalista ultraconservador e adversário dos países do oeste do bloco, atenuou essa oposição, já que Orbán se mostra bastante confortável com sua estreita amizade com Putin.
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