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Polícia de Hong Kong prende cinco executivos após batida em jornal pró-democracia

Redação do Apple Daily, depois que a polícia de Hong Kong prendeu o editor-chefe e quatro executivos do jornal pró-democracia - Anthony Wallace/AFP
Redação do Apple Daily, depois que a polícia de Hong Kong prendeu o editor-chefe e quatro executivos do jornal pró-democracia Imagem: Anthony Wallace/AFP

Florence de Changy

Correspondente da RFI em Hong Kong*

17/06/2021 06h32

Uma nova operação da polícia de Hong Kong hoje, na sede do jornal pró-democracia Apple Daily, terminou com a prisão de cinco executivos, entre eles, o editor-chefe Ryan Law. O diário estava há vários meses na mira das autoridades.

Segundo a polícia, os executivos foram detidos "por conspiração com um país estrangeiro ou com elementos externos que colocam em risco a segurança nacional", um crime definido pelo artigo 29 da nova lei que entrou em vigor em 30 de junho de 2020 no território semiautônomo. Além disso, as autoridades judiciais congelaram 18 milhões dólares de Hong Kong (equivalente a R$ 11,72 milhões) em ativos pertencentes ao diário.

O Apple Daily transmitiu a operação ao vivo em sua conta no Facebook. As imagens mostraram cerca de 500 policiais bloqueando o complexo e entrando no prédio. Na sede do diário, eles apreenderam várias caixas de documentos. Computadores e cadernos de anotações também foram confiscados.

Os cinco principais diretores do jornal foram detidos em suas casas às 7h da manhã, pelo horário local. Uma fonte policial confirmou que os executivos fazem parte da empresa Next Digital, que controla o diário. As residências deles também foram vasculhadas, mas, até o momento, eles não foram formalmente indiciados.

Documentos apreendidos

Segundo fontes policiais ouvidas pela imprensa local, as prisões estariam relacionadas a matérias contra o regime chinês publicadas pelo Apple Daily. No entanto, o ministro da Segurança de Hong Kong, John Lee, se recusou a apontar quais conteúdos teriam violado a lei.

"Não atacamos a liberdade de imprensa ou o trabalho jornalístico. Focamos na conspiração que ameaça a segurança nacional e nos jornalistas que, através de seu trabalho, ameaçam a segurança nacional", disse John Lee.

Em uma mensagem direcionada aos leitores, o jornal afirmou que a liberdade de imprensa estava "sob um fio" em Hong Kong, mas todos os membros do diário "permanecem em pé e determinados". Já o sindicato dos jornalistas do Apple Daily classificou a operação policial como "uma violação gratuita da liberdade de imprensa" que prova "a maneira com a qual o poder da polícia se empoderou do enquadramento da lei".

Na mira da China

Essa foi a segunda vez em menos de um ano que o Apple Daily foi alvo de uma operação policial. O jornal sempre deixou clara sua posição contra a interferência de Pequim em Hong Kong, entrando facilmente na mira da repressão chinesa.

O bilionário Jimmy Lai, de 73 anos, dono da publicação, foi acusado de conspiração após uma batida realizada em agosto do ano passado no diário. Crítico severo do partido comunista chinês, o magnata está preso desde dezembro de 2020 por participação nas manifestações pró-democracia que sacudiram Hong Kong em 2019.

Vários países ocidentais denunciam que a tomada do poder por Pequim em Hong Kong colocou, definitivamente fim ao princípio "um país, dois sistemas" que vigorava desde a retrocessão da ex-colônia britânica pelo Reino Unido, em 1997. Esse princípio deveria garantir uma autonomia importante ao território até 2047, o que foi desrespeitado pela China.

* Com agências