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De olho em eleitor moderado, Chile volta às urnas para eleger presidente

José Antonio Kast, de extrema-direita, e Gabriel Boric, de esquerda, disputam segundo turno no Chile - Claudio Reyes e Martin Bernetti/AFP
José Antonio Kast, de extrema-direita, e Gabriel Boric, de esquerda, disputam segundo turno no Chile Imagem: Claudio Reyes e Martin Bernetti/AFP

Camilla Viegas

Em Santiago (Chile)

17/12/2021 13h09

Milhares de chilenos voltam às urnas no próximo domingo (19) para escolher o novo presidente do Chile, no segundo turno das eleições presidenciais.

Os dois candidatos que disputam o cargo representam ideias opostas: Gabriel Boric, de esquerda, e José Antonio Kast, de extrema-direita, disputam os votos em um processo eleitoral marcado pela polarização.

Quem chegar ao Palácio de La Moneda governará um país com uma nova constituição, em pleno processo de elaboração e marcado pela inflação crescente nos últimos dois anos, decorrente dos protestos sociais de 2019 e da pandemia da covid-19.

Gabriel Boric (Convergência Social), 35 anos, e José Antonio Kast (Partido Republicano), 55 anos, brigam por cada voto desde que os resultados do primeiro turno foram oficializados.

Em novembro, mais de 7,1 milhões de eleitores, de um total de 15 milhões, compareceram às urnas para o primeiro turno.

Com uma pequena diferença, Kast ficou em primeiro lugar, conquistando 27,91% dos votos contabilizados, seguido por Boric, que conquistou 25,82% dos votos. Na prática, 146.755 votos separaram os dois candidatos no primeiro turno.

Desde o começo da campanha, várias pesquisas buscaram estabelecer o cenário de intenção de votos dos chilenos mas, por decisão do Serviço Eleitoral do Chile, os resultados dos últimos estudos só poderiam ter sido publicados até o último dia 4 de dezembro.

A última pesquisa Plaza Pública Cadem mostrou um cenário favorável ao candidato Gabriel Boric, que tem 40% das intenções de voto, enquanto José Antonio Kast obteve 35%. Votos brancos, nulos ou pessoas indecisas somaram 25%.

Da mesma forma, a última pesquisa Pulso Ciudadano perguntou às pessoas em quem votariam no próximo domingo e as respostas revelaram que Boric conquistaria 40% da preferência dos votos e Kast teria 24%.

Pessoas que responderam que votarão nulo, que não sabem, ou que não votarão, somaram 35%.

Eleição histórica

Esta é uma eleição histórica para o país porque nenhum dos candidatos conseguiu mais de 28% dos votos no primeiro turno, o que significa que ambos permanecem na disputa pelos eleitores mais moderados para obter a vitória.

Além disso, desde a redemocratização do Chile, iniciada com as eleições populares em 1989, as eleições presidenciais foram marcadas pela máxima de que o candidato vencedor do primeiro turno se consolidava como o vencedor do segundo turno. A tradição poderá mudar pela primeira vez em 32 anos.

O segundo turno foi marcado pelos inúmeros compromissos, reuniões e comícios dos candidatos e apenas dois debates contaram com a presença de Boric e Kast: um realizado dia 10, pela Archi (Associação de Radiodifusores do Chile); e outro dia 13, organizado pela Anatel (Associação Nacional de Televisão).

O clima morno marcou o último encontro. Apesar da troca de farpas habitual e das constantes interrupções de ambos, o debate foi mais ameno do que os anteriores.

Um dos momentos mais tensos foi quando Kast sugeriu que os dois fizessem exames para detectar o uso de drogas.

Boric respondeu mostrando o exame realizado em novembro e disse: "eu sabia que você ia falar disso novamente, então já trouxe o resultado, porque não quero fazer parte de um show".

Os pactos para alcançar o eleitor de centro

Diante do debate de ideias, os candidatos buscam conquistar o eleitor de centro, especificamente aqueles que votaram em candidatos mais moderados no primeiro turno: Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão), Marco Enríquez-Ominami (Partido Progressista) e Sebastián Sichel (independente).

"Tanto Boric quanto Kast têm tratado de falar não somente para sua base eleitoral, mas têm ampliado sua convocatória para incorporar pontos de Yasna Provoste, de Parisi e de Sichel", explica Cristóbal Bellolio, doutor em Filosofia Política pela University College London (Reino Unido) e, atualmente, professor da Universidade Adolfo Ibáñez (Chile)

"Nesse sentido, parece bastante normal e razoável que ambos estejam moderando duas posições", pontua.

Boric fez o que foi denominado de "Acordo de Implementação Programática", no qual adicionou as sugestões de Yasna Provoste e Marco Enríquez-Ominami ao programa dele.

Segundo o comitê do candidato, foram pequenas adições, já que o programa em si não sofreu mudanças drásticas.

"Dia 19 de dezembro votarei por Gabriel Boric. Temos o dever de continuar trabalhando pelo reencontro dos democratas", disse Provoste no final de novembro.

Marco Enríquez-Ominami declarou apoio ao candidato de esquerda, pontuando que "Boric representa a esperança do não retrocesso".