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'Quero encher o saco dos não-vacinados', diz Emmanuel Macron

O presidente francês Emmanuel Macron admitiu que quer "encher o saco dos não vacinados [contra covid]" - Ludovic Marin/AFP
O presidente francês Emmanuel Macron admitiu que quer "encher o saco dos não vacinados [contra covid]" Imagem: Ludovic Marin/AFP

05/01/2022 07h14Atualizada em 05/01/2022 07h51

Em uma longa entrevista ao jornal Le Parisien desta quarta-feira (5), o presidente francês Emmanuel Macron admitiu que quer "'encher o saco' dos não vacinados". A frase repercutiu já na véspera e é destaque da imprensa francesa hoje.

"Os não vacinados, tenho muita vontade de incomodá-los", disse o presidente, empregando o verbo 'emmerder', considerado vulgar, que também significa "encher o saco".

O editorial de Le Parisien observa que com essa frase, Macron colocou uma cruz sobre os votos dos não vacinados, em torno de 5 milhões de pessoas. A repercussão da frase também suspendeu as discussões sobre o passaporte vacinal na noite de ontem na Assembleia.

Le Parisien deu capa e mais seis páginas nas quais Macron responde a perguntas do que seria uma amostra da população francesa: um agricultor, um corretor de imóveis, uma professora e uma enfermeira.

Macron fala sobre a Europa - a França preside o Conselho da União Europeia por seis meses -, promete que não vai aumentar os impostos e sobre a "vontade" de ser candidato às próximas eleições presidenciais, já em abril. Mas ao falar sobre os não vacinados, ele usou a frase que provocou um maremoto político.

"Não vou prendê-los ou vaciná-los à força. Mas que fiquem sabendo que a partir de 15 de janeiro, não vão mais poder ir ao restaurante, tomar um copo de vinho, um café, ir ao teatro, ao cinema", disse Macron a Le Parisien.

No momento, o governo centrista de Macron quer aprovar a transformação do passe sanitário em passaporte vacinal. Ou seja, apenas quem for vacinado poderá ter um documento que dá acesso a atividades socioculturais, como restaurantes, bares, espetáculos, cinemas. Um teste negativo recente ou comprovante de ter tido a doença não contam mais.

Corrida eleitoral

Para o jornal econômico Les Echos, Macron "despertou alvoroço entre a classe política e marcou de maneira espetacular, mas arriscada, sua entrada efetiva na campanha presidencial".

"A nova onda relança o presidente, mas ameaça o candidato", analisa o conservador Le Figaro. O jornal explica que, normalmente, janeiro marca a entrada a fundo de um candidato na campanha eleitoral, com grandes comícios de mobilização. Mas o momento é de incertezas, com comícios adiados e limites para aglomerações. "A nova onda de Covid atropela a gramática da eleição presidencial", diz Le Figaro.

"Será que estamos assistindo às premissas de uma crise política em relação à estratégia sanitária do governo, a cem dias da eleição presidencial? ", pergunta Le Monde.

Os rivais não esperaram para reagir, como conta Libération. O candidato dos ecologistas Yannick Jadot considera que Macron cometeu um erro político. Marine Le Pen, da extrema direita diz que Macron insiste em dividir a nação e tornar os não vacinados em cidadãos de segunda classe. Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda, retoma a orientação da OMS, de "convencer ao invés de condenar".

As discussões sobre o passe vacinal serão retomadas nesta tarde. Se aprovado, o documento passa a valer a partir do dia 15 de janeiro.