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Talibã volta a exigir uso de véu integral, de preferência a burca, por mulheres

Talibã ordenou o uso em público de um véu integral, de preferência a burca, para mulheres - Hector Retamal/AFP
Talibã ordenou o uso em público de um véu integral, de preferência a burca, para mulheres Imagem: Hector Retamal/AFP

07/05/2022 09h40Atualizada em 07/05/2022 09h54

O Talibã deu neste sábado (7) um novo passo nas restrições das liberdades das mulheres no Afeganistão, impondo a elas o uso em público de um véu integral - de preferência a burca, símbolo da opressão feminina no país.

Em um decreto divulgado à imprensa em Cabul, o líder supremo do Talibã e do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, ordenou que as mulheres cobrissem totalmente seus corpos e rostos quando saírem em público, acrescentando que a burca - o véu que esconde inclusive os olhos - é a melhor opção para isso. O decreto indica que as mulheres devem usar "um tchadri (outro nome para a burca), porque é tradicional e respeitoso".

"As mulheres que não são nem muito jovens nem muito velhas devem cobrir o rosto, exceto os olhos, de acordo com as recomendações da Sharia, para evitar qualquer provocação quando encontrarem um homem" que não seja um membro próximo de sua família, explica o texto. Se não tiverem motivos para sair, "é melhor que fiquem em casa", assinala o decreto.

Punições ao chefe de família

O documento também lista as punições a que estão expostos os chefes de família que não impuserem o uso do véu integral às mulheres do lar.

Desde que o Talibã voltou ao poder, em meados de agosto de 2021, o temido Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício emitiu várias recomendações sobre como as mulheres deveriam se vestir. Mas este é o primeiro edital sobre o assunto promulgado em nível nacional.

Os talibãs já haviam exigido que as mulheres usassem pelo menos um hijab, um lenço cobrindo a cabeça, mas revelando o rosto, e recomendavam fortemente o uso da burca. Os fundamentalistas impunham a vestimenta durante seu primeiro mandato no poder, entre 1996 e 2001.

Neste primeiro regime, os talibãs privaram as mulheres de quase todos os direitos, de acordo com uma interpretação ultrarrigorosa da Sharia, a lei islâmica. Agentes do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício reprimiam qualquer uma que fosse pega sem burca.

Promessas negadas

Nesta segunda gestão, após 20 anos de ocupação pelos Estados Unidos e seus aliados, o Talibã prometeu ser mais flexível. Mas a promessa durou pouco e tem resultado em cada vez mais privações dos direitos das mulheres, que haviam desfrutado de duas décadas de liberdades no país. Elas haviam voltando à escola e às universidades e podido se candidatar a empregos em todos os setores de atividade, por mais que Afeganistão permanecesse socialmente conservador.

Agora, entretanto, as mulheres são praticamente impedidas de trabalhar nos serviços públicos e proibidas de viajar para o exterior ou realizar longos deslocamentos dentro do país, a menos que estejam acompanhadas por um membro da família do sexo masculino.

Em março, o Talibã fechou escolas para meninas acima de 12 anos, poucas horas após uma reabertura anunciada havia muito tempo. Essa reviravolta inesperada, justificada pelo fato de que "a educação das meninas deve ser feita de acordo com a lei da Sharia", escandalizou a comunidade internacional.

O Talibã também impôs a separação de mulheres e homens em parques públicos em Cabul, com dias de visita impostos para cada sexo.

As mulheres chegaram a tentar reivindicar seus direitos, com protestos em Cabul e nas principais cidades afegãs, depois do retorno ao poder do Talibã. Mas os fundamentalistas reprimiram o movimento, prenderam muitos ativistas e mantiveram vários deles detidos por semanas.

A burca é uma peça de vestuário tradicional afegã, amplamente usada nas partes mais remotas e conservadoras do país. Mesmo antes do retorno ao poder do Talibã, a grande maioria das mulheres afegãs usava véu, mas muitas optavam por apenas um lenço solto na cabeça.

*Com informações da AFP