Topo

Esse conteúdo é antigo

Entenda como Rússia influencia Alemanha a não fechar centrais nucleares

13.fev.2022 - O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier - Jens Schlueter/AFP
13.fev.2022 - O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier Imagem: Jens Schlueter/AFP

26/07/2022 10h56

Promessa feita na era Merkel, a Alemanha havia anunciado o fechamento de todas as usinas nucleares do país no mais tardar até 2022. Mas a crescente escassez do fornecimento de gás russo ao país traz de volta a polêmica em torno da energia nuclear, que em princípio seria em breve abandonada, e que agora tem o prolongamento de sua utilização novamente considerado.

O governo alemão declarou nesta segunda-feira (25) que decidiria "nas próximas semanas" sobre uma possível extensão das centrais nucleares, programadas para serem fechadas definitivamente no final do ano, com base em uma nova avaliação atualmente em andamento.

Se o país decidir prolongar a vida útil de suas três usinas nucleares ainda em funcionamento, isso constituiria uma nova faceta para o setor de energia alemão, com um impacto político muito forte.

Há algumas semanas, Berlim também anunciou que a Alemanha aumentaria o uso do carvão em sua cadeia de produção energética - matéria-prima que deverá desaparecer até 2030 - para compensar o declínio do fornecimento de gás russo.

Para tomar uma decisão, o governo alemão está agora esperando o resultado de "um teste de estresse em andamento" para determinar o atual nível de segurança das centrais nucleares, informou uma porta-voz do governo.

Um primeiro teste em março concluiu que as três usinas nucleares ainda em funcionamento na Alemanha não eram necessárias para garantir a segurança energética da maior economia da Europa. Atualmente, estas respondem a 6% da produção líquida de energia da Alemanha.

O legado Merkel

Foi a ex-chanceler conservadora Angela Merkel que, sob pressão pública, engajou a Alemanha em uma retirada da energia nuclear após o desastre de Fukushima, em 2011.

Os ambientalistas, membros da coalizão de governo do chanceler social-democrata Olaf Scholz, há muito vêm argumentando contra qualquer mudança de rumo nesse sentido, pois a luta contra a energia atômica tem sido parte do DNA dos Grünen (como são chamados os "Verdes" na Alemanha) desde sua criação, há mais de 40 anos.

Mas, desde o início da guerra na Ucrânia, a situação energética do país só tem piorado.

O aumento dos custos de energia e o medo de uma escassez de gás russo - a Gazprom anunciou nesta segunda-feira que reduziria o fornecimento para apenas 20% dos níveis normais através do gasoduto Nord Stream - estão levando a própria família política de Merkel a reexaminar o tabu sobre a energia nuclear.

A situação pede que as usinas restantes permaneçam em operação por mais tempo do que o planejado. "Aqueles que decidiram ficar com a energia nuclear", como a França, "não são necessariamente mais estúpidos" do que os alemães, declarou recentemente o líder dos ecologistas, Friedrich Merz.

A pressão está aumentando mesmo dentro da coalizão governamental, a partir dos liberais do FDP. "A vida útil das usinas nucleares deve ser prolongada até a primavera de 2024. Este é o período em que corremos o risco de ficar sem energia", argumentou Michael Kruse, um líder deste partido de direita, em Bild.

Mesmo entre os ecologistas e social-democratas, a conversa sobre a energia nuclear está se tornando menos intransigente.

Verdes menos intransigentes

Neste domingo (24), a influente vice-presidente do Bundestag (o Congresso alemão), a ecologista Katrin Göring-Eckardt, julgou que no caso de uma emergência real, a ideia de terminar de queimar as barras de combustível das usinas nucleares ainda em operação, o que permitiria prolongar sua vida útil, continuava sendo uma opção. Não fazê-lo, disse ela, poderia levar a dificuldades para instituições críticas, como hospitais.

Esta possibilidade também foi apresentada por representantes sociais-democratas e verdes de Munique e da Baixa Saxônia, onde estão localizadas as usinas Isar 2 e Emsland. A terceira usina, Neckarwestheim 2, está em Baden-Württemberg.

Até mesmo a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, a ecologista Annalena Baerbock, revelou que a "situação de emergência" no país significava "ter que pensar em todas as soluções".

Por outro lado, sua colega Franziska Brantner, secretária de Estado alemã para o Clima, advertiu que, ao tomar sua decisão, Berlim "levaria em conta a difícil situação em que a França se encontra, porque muitas, muitas usinas nucleares não estão operando", devido a problemas técnicos.

(Com informações da AFP)