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Quais as vantagens para o Brasil se a Argélia entrar nos Brics?

10/08/2022 09h02

Maior produtor de gás natural da África, a Argélia tem mostrado interesse em integrar os Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Estes países com economias em desenvolvimento são equivalentes a quase um terço do PIB mundial. Essa possível aproximação maior entre Brasil e Argélia é vista como algo positivo por especialistas ouvidos pela RFI.

Paloma Varón, da RFI

"O Brasil tem hoje uma relação muito tênue com a Argélia em termos comerciais e de investimentos. A entrada da Argélia nos Brics tenderia a aproximá-los e talvez promover atividades de cooperação entre os dois países em diversas áreas, como no caso da agricultura e na produção de outras commodities. A participação da Argélia neste grupo certamente implicaria uma aproximação maior entre os dois países o que é uma coisa positiva", analisa Ribeiro.

Para o especialista em comércio exterior e economia internacional, o perfil diferente da Argélia seria um ganho para o grupo, que já é bastante heterogêneo:

"O grande papel que o Brics tem exercido até o momento tem a ver com dar um pouco mais de peso a cada um desses países em termos de discussões em nível multilateral e também atividades de cooperação entre eles. Cooperação tecnológica, na área agrícola, que o Brasil tem muito a oferecer, mas também muito a aprender. Outra característica destes países é que são grandes produtores de commodities, o Brasil e a Rússia, com certeza, mas também a África do Sul e a própria China", explica o especialista.

Cooperação econômica sai reforçada

As recentes declarações do presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, sugerem a aproximação da Argélia com Moscou e Pequim na sequência do apelo à cooperação lançado pelo presidente russo, Vladimir Putin, durante a última cúpula dos Brics, em junho deste ano.

De acordo com Ribeiro, a entrada da Argélia poderia trazer para os Brics o benefício de um país com perfil diferente, mas que ao mesmo tempo poderia trazer novos elementos para esta cooperação. E, para a Argélia, o de aumentar o peso do país na arena internacional.

O economista especializado em Argélia, Alexandre Kateb, concorda que o país ganharia maior relevância global ao se aliar ao grupo dos Brics.

"Isso permitiria à Argélia reforçar o seu papel diplomático e aumentar suas oportunidades econômicas nas instituições que começam a ser criadas pelos Brics, principalmente para facilitar as trocas comerciais, as transações financeiras entre os países do grupo e o estabelecimento de um sistema alternativo ao dólar no plano internacional", analisa Kateb.  

Argélia cumpre com os requisitos, mas pode ter de esperar

Que a Argélia é um forte candidato a fazer parte do Brics, isso é consenso entre os especialistas. A questão que se coloca agora é quando, visto que o R da sigla, a Rússia, está em guerra. 

"O momento atual é complicado. Eu acho que a adesão de um país ao Brics no momento não deve acontecer por causa dessa incerteza gerada pela guerra, mas é algo que pode acontecer depois que a guerra terminar. Muito do que vai acontecer com o grupo vai depender de qual vai ser a conformação de forças no mundo após o final do conflito, quer dizer, como é que esta guerra vai terminar, qual vai ser o acordo que vai ser feito. Na verdade, isso vai depender muito de como vai ficar a situação da Rússia após o final desta guerra, como ela vai se encaixar novamente na ordem mundial", completa Ribeiro.