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EUA: Câmara falha na tentativa de eleger presidente e organiza nova votação

Câmara dos Representantes, nos EUA - REUTERS/Jonathan Ernst
Câmara dos Representantes, nos EUA Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst

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Correspondente da RFI em Nova York

05/01/2023 08h03

Pelo segundo dia consecutivo, nesta quarta-feira, após novas rodadas de votação, a Câmara dos Representantes dos Estados não conseguiu confirmar um vencedor na corrida para presidente da Casa. O processo será retomado nesta quinta-feira (5).

Foram três tentativas de eleição na terça e outras três na quarta-feira (4). Nesta quinta-feira, ocorrerá a sétima votação. A Câmara dos Representantes continua, desta forma, sem presidente, após o republicano Kevin McCarthy falhar em alcançar a maioria necessária.

Pela primeira vez, em 100 anos, o partido com a maioria dos deputados não conseguiu eleger na primeira votação o presidente da casa - conhecido no país como speaker (orador). Esse evento, que marca a abertura do ano legislativo e mostra o poder de quem conseguiu eleger mais representantes, se transformou em constrangimento. No centro desse impasse está o deputado da Califórnia, Kevin McCarthy, líder dos republicanos, Ele precisava de 218 votos para se eleger, mas conseguiu apenas 201, na sexta tentativa.

O poder dos ultraconservadores

McCarthy acumula seis derrotas, mas considera o adiamento da votação para esta quinta uma pequena vitória. Desta forma, ele tenta ganhar tempo e negociar com os 20 republicanos que estão votando contra ele - que representam 10% do total de deputados. Eles são os considerados hoje a ultra e extrema direita dentro do Partido Republicano.

A ala se fortaleceu em 2009, com o chamado movimento do Tea Party, ainda mais conservadora que o trumpismo. Tanto que o ex-presidente Donald Trump, nesta quarta, escreveu em suas redes sociais pedindo para os deputados apoiarem McCarthy, mas os parlamentares opositores insistiram em continuar o embate.

O grupo pede que McCarthy se comprometa a seguir uma série de regras definidas por eles. As exigências incluem uma maior participação dos ultraconservadores em comissões da Câmara e a intensificação das investigações contra o governo de Joe Biden.

Abre ainda a possibilidade para que um grupo pequeno de deputados possa destituir o presidente da Casa a qualquer momento de seu mandato, caso não estejam contentes com a direção dada pela presidência da Câmara, além de outras concessões. McCarthy tem cedido às pressões, feito promessas, mas elas ainda não foram suficientes para convencer os colegas.

Propostas

Mais uma rodada de propostas foi negociada na noite desta quarta-feira, de acordo com a imprensa americana, que também divulgou que McCarthy já teria desistido de controlar as verbas do comitê de arrecadação do partido. McCarthy, apesar de também ser conservador, estaria usando as doações dadas ao partido para impulsionar candidaturas de moderados nas primárias.

Ele teria se dado conta de que fortalecer os mais conservadores estaria encolhendo o partido. Os ultraconservadores também alegam que McCarthy é conhecido por não cumprir acordos. Mas, o partido está tão dividido que está difícil achar, entre os 222 deputados, um nome que obtenha maioria.

Sem presidente, sem posse

O presidente americano, Joe Biden, também se manifestou nesta quarta. "Isso não é problema meu, mas é uma vergonha. Espero que consigam se organizar", disse. O atual presidente será o principal alvo dos republicanos que, com a maioria na Câmara, prometem abrir investigações contra o governo e travar a pauta da Casa Branca.

Mas falta de consenso paralisa a Câmara, os deputados nem puderam tomar posse, que estava marcada para terça (3). Isso só poderá acontecer após a escolha do presidente.

Os deputados precisam votar quantas vezes forem necessárias até que o novo presidente seja escolhido. A última vez que ocorreu uma situação parecida foi em 1923, quando a seleção demandou nove rodadas. Já em 1856, a escolha demorou dois meses.

O deputado George Santos, filho de brasileiros, que foi eleito nas últimas eleições sai beneficiado na demora do processo, mas está envolvido em escândalos sobre mentiras em seu currículo. Ele admitiu ter inventado experiências profissionais e formação superior e enfrenta uma investigação federal sobre a origem de suas finanças.

Democratas e alguns republicanos também pedem investigação por parte da Câmara. Mas, para que isso aconteça, é preciso primeiro escolher o presidente.