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Macron adverte sobre risco "Le Pen" e reconhece envolvimento insuficiente na reforma da Previdência

Presidente francês disse que preferiu fazer a reforma neste primeiro ano do segundo mandato, "senão ficaria mais difícil depois". - Benoit Tessier/Reuters
Presidente francês disse que preferiu fazer a reforma neste primeiro ano do segundo mandato, "senão ficaria mais difícil depois". Imagem: Benoit Tessier/Reuters

24/04/2023 09h00

Em uma longa entrevista ao Le Parisien — comentada por toda a imprensa francesa —, o presidente Emmanuel Macron faz um balanço do primeiro aniversário de sua reeleição, celebrado nesta segunda-feira (24). Depois de enfrentar três meses de protestos e ser vaiado nas viagens que faz pelo país, Macron reconhece que deveria ter se envolvido mais no debate sobre a reforma da Previdência, para dar os esclarecimentos necessários sobre seus objetivos de governo.

"O importante é que o país avance", diz o presidente francês, reconhecendo que deve se envolver mais diretamente no debate público. Macron foi entrevistado por um grupo de onze leitores do jornal, representando vários extratos da sociedade — um aposentado, uma estudante, um agricultor, uma funcionária pública, um vendedor, uma agente cultural, um executivo, entre outros leitores. Todos foram recebidos no Palácio do Eliseu, onde discutiram longamente sobre as políticas e decisões do presidente da República.

Questionado sobre sua insistência na reforma que elevou a idade de aposentadoria para 64 anos, apesar da oposição de 70% dos franceses, Macron disse que preferiu fazê-la neste primeiro ano do segundo mandato, "senão ficaria mais difícil depois". Ele justificou a medida para reduzir o déficit previdenciário, e "o Estado ter margem de manobra para investir em grandes projetos, principalmente de reindustrialização" do país, após três décadas de fechamento de fábricas.

"Talvez o erro tenha sido não estar presente o suficiente para dar substância à reforma e levá-la adiante eu mesmo", acrescentou Macron, ao detalhar, no entanto, que ainda tem "confiança" na primeira-ministra Élisabeth Borne. Macron acredita que a revolta e a angústia dos franceses poderão se atenuar, se houver maior criação de empregos.

Sobre a inflação, que aflige milhares de famílias, Macron afirma que a alta nos preços, principalmente dos alimentos, irá perdurar até o fim do verão no hemisfério norte. Os preços só devem recuar a partir de setembro.

Indagado sobre as pesquisas que apontam a líder da extrema direita Marine Le Pen à frente nas intenções de voto para a próxima eleição presidencial, Macron reagiu: "Marine Le Pen chegará [ao poder] se não soubermos responder aos desafios do país e se estabelecermos o hábito de mentir ou negar a realidade", declarou.

Reindustrialização versus extremismo de direita

Na opinião do presidente francês, "não é sendo populista ou demagógico que se vencerá o partido Reunião Nacional [de Marine Le Pen], mas com projetos de reindustrialização - ecológicos -, preservando a ordem e trabalhando pela melhoria dos serviços públicos".

A líder de extrema direita é vista como a principal beneficiada pelo turbilhão desencadeado na França após a decisão de Macron de elevar a idade de aposentadoria e o tempo de contribuição para 43 anos, o que deu lugar a três meses de greves e protestos.

Na avaliação do Le Figaro, Macron dá continuidade, com esta entrevista, à sua ofensiva para virar a página da crise gerada pela reforma previdenciária.

Em seu editorial, Le Parisien considera fundamental que o chefe de Estado faça daqui para a frente o que fez com este grupo de leitores: ouvir os anseios da população e debatê-los, para evitar que riscos silenciosos sejam evitados na França. A advertência se refere a uma eventual eleição de Marine Le Pen na presidência em 2027.