Como operação dos EUA contra 'piratas' desafia o Irã e pode ampliar conflito em Gaza

Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (19) uma operação militar no Mar Vermelho para combater os rebeldes houthis, do Iêmen, que vêm atacando as embarcações. A operação, chamada Guardião da Prosperidade, tem como objetivo proteger o trânsito de navios mercantes no Mar Vermelho, alvo de "piratas" houthis.

O anúncio, que já era esperado, foi feito pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, em Bahrein, um dos países que integrará a força-tarefa. Austin esteve em Israel um dia antes de oficializar a missão junto a outros 40 ministros da Defesa por videoconferência e pedir apoio à iniciativa.

Até agora, além do Bahrein, a Grã-Bretanha, Canadá, França, Itália, Holanda, Noruega, Seicheles e Espanha, e os Emirados Árabes Unidos prometeram apoiar a missão.

A criação de uma força-tarefa multinacional para salvaguardar o trânsito de navios mercantes pelo mar Vermelho, de onde grandes transportadoras foram obrigadas a desviar suas rotas para evitar ataques de rebeldes houthis do Iêmen.

Muitos países árabes dependem fortemente do comércio que flui através do Mar Vermelho, desde o Canal de Suez, no norte, até ao Estreito de Bab-al-Mandeb, com o qual o Iémen confina, no sul. A nova operação militar poderia ampliar o conflito no Oriente Médio.

Guerra civil

Os houthis formam parte do chamado "Eixo da Resistência", termo que agrupa vários aliados no mundo árabe, como o Hezbollah e o Hamas. O grupo rebelde é uma das partes envolvidas na guerra civil do Iêmen iniciada em 2014. Apoiados pelo Irã, os houthis também teriam ligação com o Hamas.

Na semana passada, antes do anúncio da nossa força-tarefa americana, o Ministro da Defesa do Irã, Mohammed Reza Ashtiani, alertou contra a formação da aliança marítima, afirmando a predominância do Irã sobre o Mar Vermelho e rejeitando qualquer manobra de forças externas na região. "O Mar Vermelho é nossa região, nós a controlamos, e ninguém pode manobrar nela", declarou.

Em Tóquio, o principal negociador nuclear e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Irã, Ali Bagheri Kani, enfatizou a importância das forças de resistência para a estabilidade na região.

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Ele sugeriu que estaria havendo uma mudança potencial no cenário estratégico, político e de segurança na região após a guerra em Gaza. Por essa razão, a resistência não poderia ser negada como um mecanismo chave no mapa regional. Esta declaração levantou preocupações sobre a possibilidade de envolvimento direto do Irã em uma guerra com os Estados Unidos.

Alteração na rota de mercadorias

As empresas transportadoras têm tentado desviar seus navios da região. "Nós temos fé que uma solução que nos permita voltar a utilizar o canal de Suez e a transitar o mar Vermelho e o golfo de Áden será introduzida em um futuro próximo. Mas, neste momento, é difícil determinar exatamente quando isso vai ocorrer", declarou em nota dinamarquesa Maersk nesta terça.

Tanto a empresa Maersk quanto a MSC, tiveram seus navios desviados da região que responde por cerca de 50% do mercado mundial de transporte marítimo. Outras nove grandes empresas, como a alemã Hapag-Lloyd e a taiwanesa Evergreen, tiveram que seguir o mesmo caminho.

O preço do barril de petróleo subiu 1,83% nesta segunda A gigante energética britânica BP, por exemplo, suspendeu o trânsito de seus petroleiros na região. Esta é a rota mais curta entre os produtores do golfo Pérsico e a Europa, que deverão ser desviados para outras vias na África, adicionando em média uma semana às viagens.

Além do reflexo imediato nos custos de operação, existe o temor de que um prolongamento da situação afete diretamente os preços do petróleo e de outros produtos. O transporte de petróleo cru desviado de Suez poderia ficar até 25% mais caro num primeiro momento.

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A situação do Egito

O canal é a via de escoamento de 9% do comércio internacional de petróleo e gás liquefeito do mundo. Somente no ano passado, o Egito teve um lucro recorde de R$ 50 bilhões com navios que transitaram pelo Canal de Suez, representando cerca de 2% do seu Produto Interno Bruto.

Além disso, cerca de 12% do comércio global passa pelo canal entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, especialmente os navios porta-contentores.

A única reação oficial do Egito até agora, porém, foi uma declaração na segunda-feira da Autoridade do Canal de Suez, dizendo que estava monitorando a situação.

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