Proprietários de imóveis em Paris evitam renovar contratos de aluguel para lucrar com hospedagem na Olimpíada

Proprietários de apartamentos e casas em Paris estão preferindo não renovar contratos com inquilinos para poderem alugar seus imóveis a turistas durante os Jogos Olímpicos de 2024 - um fenômeno que acentua ainda mais o problema da falta de moradia na capital francesa. Por trás da manobra, está a possibilidade de altos lucros graças aos preços exorbitantes das hospedagens durante o evento.

Daniella Franco, da RFI

A capital francesa enfrenta um problema de habitação há várias décadas. Além da escassez de imóveis em boas condições para acolher os parisienses, os preços dos aluguéis sobem a cada ano.

Com a aproximação de Paris 2024, os proprietários descobriram uma oportunidade de lucrar com os preços astronômicos dos aluguéis por temporada. De acordo com dados do Observatório dos Aluguéis na Região Parisiense, o valor por mês é de, em média, € 1 mil (R$ 5,4 mil).

No entanto, a diária dos apartamentos disponíveis em plataformas de hospedagem na capital francesa entre 26 de julho e 11 de agosto é de € 886 (R$ 4,8 mil), em média, segundo um balanço da plataforma Lycaon Immo, especializada no mercado imobiliário francês.

Nos bairros mais nobres de Paris, os valores são ainda maiores. No 1° distrito da capital, no coração da cidade, o preço médio da diária chega a € 1.630 (R$ 8.900).

Dentro da lei

Para liberar os imóveis durante os jogos, a estratégia dos proprietários vem sendo não renovar os contratos de aluguel com os inquilinos parisienses. Pela lei, apenas o locatário tem o direito de encerrar um contrato antes do prazo final, mediante aviso prévio.

No entanto, quando um contrato chega ao fim, o proprietário pode não renová-lo. Para isso, algumas regras precisam ser cumpridas: o inquilino deve ser notificado desta decisão com seis meses de antecedência, em imóveis alugados sem mobília, e três meses antes no caso dos mobiliados. Ainda assim, a decisão do proprietário precisa obedecer a um dos três casos: necessidade de dispor do imóvel para moradia própria, para a venda ou devido a um motivo "legítimo e grave".

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Segundo o jornal Libération, os casos de não renovação de contratos de aluguel em Paris estão mais comuns desde março. Essa situação tem obrigado jovens a retornarem a viver na casa dos pais ou à "coabitação forçada", entre pessoas sem relação ou afinidade, diz o diário.

No entanto, com o preço de aluguéis nas imobiliárias tendo de obedecer a uma cartilha que limita os valores, os imóveis disponíveis vêm migrando para as plataformas de hospedagem. Em sites como o Airbnb, o proprietário pode escolher a tarifa que deseja - o que levou os preços a dispararem.

Diárias salgadas nos hotéis

Nos hotéis da grande região parisiense, a situação não é diferente. O preço médio da diária é de € 1.033 (R$ 5,46 mil), segundo a associação francesa de consumidores UFC-Que Choisir.

O valor corresponde a três vezes a média do preço normal de uma noite em um hotel na capital francesa. O aumento nas tarifas, em alguns casos, é de mais de 200%.

A UFC-Que Choisir denuncia o que considera uma prática abusiva do setor hoteleiro e lembra que o aumento astronômico nos preços das diárias vem espantando os turistas de Paris. No entanto, o setor faz pouco caso das críticas e mira nos lucros: cerca de 16 milhões de pessoas são aguardadas em Paris para os Jogos Olímpicos.

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