Relatório do Senado francês alerta para "interferências estrangeiras" e apela para reforço na cibersegurança

A poucas horas da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a segurança interna é uma prioridade do Estado. Entre as preocupações da França está a interferência estrangeira. O Senado publicou um relatório esta semana para combater as "influências externas mal intencionadas". O documento relata ataques contra o país e formas de combatê-los.

O relatório do Senado é inequívoco: há uma necessidade urgente da França se armar mais nesta "Guerra Fria 2.0". O documento defende uma profunda "revolução" de mentalidades no país face às "influências estrangeiras mal intencionadas" e face a uma "neo-guerra fria", pedindo uma mobilização de toda a nação para ampliar essa luta. Tal como outras democracias, o país está na mira de Estados autoritários com recursos colossais.

Uma comissão de inquérito do Senado publicou, no dia 25 de julho, o seu relatório intitulado "Luta contra influências estrangeiras mal intencionadas: pela mobilização de toda a nação face à neo-guerra fria", após seis meses de trabalho e audiências de 120 personalidades, incluindo cinco ministros.

O relatório propõe um roteiro de 47 recomendações a serem implementadas em diferentes setores. Entre estas propostas estão: "fortalecer" a Viginum, organização francesa que luta contra as interferências digitais estrangeiras, atribuindo-lhe "o estatuto de agência do Estado com autonomia de gestão e colocada sob a tutela da secretaria-geral de Defesa e Segurança Nacional (SGDSN)", e reforçar os seus recursos humanos, materiais e jurídicos. Recomenda também a criação de um "observatório" destas influências estrangeiras "que reúna as partes interessadas da sociedade civil e os atores públicos envolvidos".

Perigo das redes sociais

"Estima-se que existam cerca de €1 bilhão investido pela 'galáxia russa'. Por outro lado, é provável que existam dois milhões de chineses que trabalham nestas questões de interferência ou controle das redes sociais", explica o socialista Rachid Temal, relator da comissão de inquérito.

As redes sociais são um playground privilegiado para a desestabilização estrangeira. Ainda esta semana, um vídeo foi massivamente transmitido por contas pró-Rússia, no qual um suposto combatente do Hamas ameaça os Jogos Olímpicos com atos terroristas. Uma falsa encenação desmascarada pela Info Verif, serviço da RFI de checagem de informação e de combate às fake news.

Mas o combate a estes ataques não pode ser apenas responsabilidade dos meios de comunicação, como salienta Dominique de Legge, presidente da comissão.

"A educação nacional e o mundo da cultura devem tomar consciência do perigo. Não é uma questão apenas para especialistas, diz respeito a todos os franceses. Este é todo um trabalho educativo que talvez não tenhamos feito o suficiente até agora".

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O relator Rachid Temal também insistiu na necessidade de "vencer a batalha da narrativa. [...] Devemos dizer de maneira muito clara o que o nosso país e a nossa democracia consideram como valores".

Ao mesmo tempo, as capacidades de cibersegurança devem ser reforçadas. O relatório apela a uma reavaliação dos recursos das Forças Armadas, destacando a multiplicação crescente das ameaças.

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