Macron é hostilizado em visita a Mayotte após passagem de ciclone que devastou território mais pobre da França

Emmanuel Macron deixou Mayotte ao meio-dia desta sexta-feira (20), depois de visitar algumas das áreas mais afetadas do arquipélago após a passagem do ciclone Chido. A visita do presidente francês foi marcada por tensões durante um encontro com a população. Os moradores criticam a demora na chegada em ajuda e as condições de distribuição de mantimentos e água. Macron alegou que se o território não fizesse parte da França, a situação estaria bem pior. As declarações criaram polêmica.

Em Tsingoni, uma comuna sem litoral a oeste de Grande-Terre, a principal ilha do arquipélago do Oceano Índico, os moradores reclamaram da escassez. "Queremos água, queremos água", pediram os habitantes. Longe da capital Mamoudzou, a ajuda, a água, a eletricidade e os alimentos estão demorando muito para chegar.  

Um morador, Badirou Abdou, conta que helicópteros "jogaram garrafas no campo de futebol". "Felizmente, somos um povo sábio que não empurra uns aos outros, mas essa não é a melhor maneira de fazer isso", criticou ele.

Foi "a maneira mais rápida" de a água chegar, "mas vamos fazer melhor nos próximos dias", respondeu Emmanuel Macron, acrescentando que as forças de segurança civil foram mobilizadas para "limpar" as estradas.  

"Enviamos os militares para desobstruir as estradas e tudo será distribuído", disse o presidente Macron, reconhecendo que "melhores informações" eram necessárias porque a falta de informações "gera ansiedade". Quanto ao restabelecimento das linhas telefônicas, ele disse que "vai levar tempo", mas prometeu a instalação de "sistemas de satélite" na ilha.

O presidente francês anunciou sua intenção de "reconstruir" o arquipélago de Mayotte e reafirmou a chegada de água e alimentos até a noite de domingo (22). Ele reconheceu a legitimidade da ansiedade da população, mas ficou exasperado com as acusações da população. 

"Somos uma nação" e "Mayotte e França, até o fim'", escreveu o chefe de Estado em francês no idioma local no X ao decolar para Djibuti, onde deve compartilhar uma ceia de Natal com as tropas francesas após uma visita de dois dias ao departamento mais pobre do país.  

 

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Imigração em Mayotte

Antes de decolar, Macron realizou uma reunião da unidade interministerial de crise por videoconferência, para "transmitir ao governo e às administrações as ações úteis a serem tomadas", de acordo com o Eliseu. "Não conseguiremos resolver os problemas fundamentais de Mayotte se não resolvermos o problema da imigração ilegal", disse o presidente aos jornalistas na manhã de sexta-feira. 

A médio prazo, ele pretende aumentar para quase o dobro o número de pessoas deportadas, que chegou a 22 mil em 2023. Cerca de um terço da população de Mayotte, ou seja, mais de 100 mil habitantes, incluindo imigrantes ilegais da vizinha Comores, vive em moradias precárias.  

Um dos objetivos da "lei especial" prometida pelo presidente para "reconstruir" Mayotte é "acabar" com as favelas e "eliminar" esses assentamentos "indignos" e "perigosos". O novo primeiro-ministro, François Bayrou, estabeleceu um prazo potencial de dois anos para essa reconstrução. 

"Mayotte é uma ilha onde investimos enormemente, mas ela está simplesmente sujeita à pressão migratória que está causando seu colapso", declarou Macron diante das acusações de falta de engajamento do Estado francês com o departamento ultramarino. 

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Recepção tensa na ilha

Na quinta-feira, durante um primeiro dia intenso de visitas à região devastada em 14 de dezembro pelo ciclone mais violento dos últimos 90 anos, Macron já havia visto a extensão dos danos e a escala da angústia. Durante longas horas, o presidente foi confrontado com a impaciência, a raiva e o desespero dos mahorais. "Macron renuncie!", "você está falando besteira", "água, água, água", gritavam jovens e mães na noite de quinta-feira.  

"Não coloque as pessoas umas contra as outras! Se você colocar as pessoas umas contra as outras, estamos ferrados, porque você está feliz por estar na França. Porque se não fosse a França, vocês estariam 10.000 vezes mais na merda!", gritou o presidente para a multidão. "Não há nenhum lugar no Oceano Índico onde as pessoas recebam tanta ajuda", defendeu-se Macron.  

Seus comentários provocaram uma forte reação de seus oponentes em Paris. "A deputada ecologista Sandrine Rousseau qualificou a atitude de Macron de "arrogante". Já o vice-presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), Sébastien Chenu, disse que "com esse tipo de expressão, os mahorais sempre têm a sensação de serem tratados separadamente".

Na manhã de sexta-feira, Macron disse que a multidão que o confrontou na noite anterior era formada por "ativistas políticos do RN". "Temos que ser cuidadosos", falou o presidente, insinuando uma instrumentalização política.   

De acordo com os números provisórios, 31 pessoas morreram e cerca de 2.500 ficaram feridas. "É provável que haja muito mais vítimas", reconheceu Macron, ressaltando que uma missão havia sido criada para verificar o número de mortos.  

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(com AFP e agências)

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