EUA: influência de Elon Musk sobre Donald Trump começa a irritar, inclusive do lado republicano
Nos Estados Unidos, os membros do Congresso tiveram que encontrar uma solução de última hora nesta semana para evitar a paralisação do governo federal. Esse caos surgiu depois que Trump criticou um projeto de lei orçamentária que havia sido apresentado e aprovado para impedir do chamado "shutdown". O presidente eleito interveio logo após Elon Musk ter criticado fortemente o texto bipartidário. Uma influência do empresário que muitos democratas, mas também republicanos, não veem com bons olhos.
Loubna Anaki, correspondente da RFI em Washington, com agências
"Presidente Musk", "segundo chefe", "cérebro de Trump" e até "o sósia de Trump"... É assim que algumas pessoas, em Washington e na televisão norte-americana, vem se referindo a Elon Musk. O chefe da Tesla foi escolhido por Donald Trump para pilotar o novo Departamento de Eficiência Governamental. Mas, na realidade, ele também é um conselheiro do presidente eleito e está presente em praticamente todas as reuniões e jantares decisivos para os preparativos do mandato.
Na terça-feira (17), democratas e republicanos acreditavam que não evitariam a paralisação orçamentária quando o presidente da Câmara de Representantes, o republicano Mike Johnson, anunciou que as duas partes tinham chegado a um consenso para aprovar um texto. Mas um simples post de Musk em sua rede social X, no qual escreveu "Matem o projeto de lei", estremeceu o Congresso.
O CEO da SpaceX e da Tesla criticava o texto, denunciando um nível de gastos que, segundo ele, levaria o país à "falência". Logo depois, a postagem contou com o apoio de Trump, que classificou o acordo como "ridículo e extraordinariamente oneroso". Uma oposição que fez com que os responsáveis pelo compromisso negociado por ambas as bancadas recomeçassem do zero. O episódio já dá uma ideia do que poderá ser a segunda presidência de Trump tendo Musk como conselheiro.
A influência do bilionário tem sido alvo de críticas dos democratas, que questionam como um cidadão não eleito pode exercer tanto poder. Alguns ironizam o fato de que Donald Trump seria reduzido ao papel de vassalo de Musk.
Até mesmo alguns republicanos, que se atreveram a desafiar as diretrizes do futuro presidente, declararam que estavam "trabalhando para o povo americano e não para Elon Musk". O chefe da Tesla é o homem mais rico do mundo e tem mais de 208 milhões de seguidores nas redes sociais.
Produtor de TV é nomeado enviado especial para o Reino Unido
A presença de Musk no governo é apenas uma, mas talvez a mais emblemática das escolhas surpreendentes de Trump para seu segundo mandato à frente da Casa Branca. O presidente eleito já nomeou Linda MacMahon, cuja principal experiência é ter sido executiva de eventos de luta livre, para o cargo de ministra da Educação, e Robert Kennedy Jr., adepto de teorias conspiratórias, como secretário de Saúde dos Estados Unidos.
Neste sábado (21), Trump anunciou a nomeação do executivo de televisão Mark Burnett, produtor do reality show estrelado pelo magnata "O Aprendiz", como enviado especial ao Reino Unido. "Com uma carreira de destaque na produção televisiva e nos negócios, Mark aporta uma mistura única de perspicácia diplomática e reconhecimento internacional a este importante papel", publicou Trump em sua plataforma, Truth Social.
O papel de Burnett, um dos principais aliados de Trump, será diferente ao do embaixador e não precisará de confirmação do Senado americano. "Mark trabalhará para melhorar as relações diplomáticas, concentrando-se em áreas de interesse mútuo, incluindo o comércio, as oportunidades de investimentos e os intercâmbios culturais", detalhou o republicano.
Nascido em Londres e ganhador de um prêmio Emmy, Burnett foi o criador de "Survivor", o reality show que se tornou um gigante da televisão americana, após sua estreia, no ano 2000. Ele também produziu outros programas de sucesso, como "Shark Tank" e "The Voice".
Seu maior sucesso foi "O Aprendiz", o programa americano exibido desde 2004 na rede NBC sob vários formatos durante 15 temporadas. A atração ajudou a tornar o nome de Trump familiar nos Estados Unidos antes de anunciar, em 2015, sua candidatura às eleições presidenciais.
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