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UOL Investiga T2E1: Clã Bolsonaro e as homenagens a policiais bandidos

Juliana Dal Piva

Colunista do UOL

23/09/2022 04h03

O podcast UOL Investiga estreia nesta sexta-feira (23) sua segunda temporada, chamada "Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro" —que você pode ouvir no arquivo acima, no YouTube do UOL e em todas as plataformas de podcast. Os quatro novos episódios já estão disponíveis.

Na segunda temporada, a colunista do UOL Juliana Dal Piva fala da relação da família Bolsonaro com agentes das forças de segurança que se tornaram milicianos e usaram seu treinamento para cometer crimes. Dezenas deles foram homenageados pelo clã ao longo de 20 anos. A jornalista traz ainda detalhes da relação da família Bolsonaro com Adriano Nóbrega, ex-policial militar morto em 2020 e apontado como chefe de assassinos de aluguel —Jair e Flávio inclusive fizeram visitas ao ex-capitão na prisão. Esta temporada tem também a história completa do roubo de uma moto do presidente em 1995, crime que mobilizou parte da polícia do Rio e simboliza vários problemas da segurança pública.

A primeira temporada, "A Vida Secreta de Jair", trouxe revelações sobre o envolvimento direto do presidente da República, Jair Bolsonaro, com a rachadinha —o esquema ilegal de entrega de salários de assessores quando exerceu seguidos mandatos de deputado federal.

No primeiro dos quatro novos episódios, Juliana Dal Piva conta que a família Bolsonaro já condecorou 16 policiais denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como integrantes de organizações criminosas. O cruzamento foi feito entre os nomes dos homenageados e as informações dos bancos de dados dos Tribunais de Justiça do país.

Esses homenageados foram presos e denunciados em oito das mais importantes operações de combate ao crime organizado, entre 2006 e 2022. As investigações, realizadas pela Polícia Federal, pelas corregedorias e pelo Ministério Público, revelaram quadrilhas montadas por policiais para a prática de extorsão, corrupção, sequestros, homicídios, entre outros crimes.

Além disso, 75 policiais homenageados desde 2001 responderam a processos criminais, principalmente por homicídios. Ou seja, de cada dez pessoas que Flávio e Carlos Bolsonaro homenagearam, uma respondeu a processo criminal na Justiça.

A assessoria do presidente e do senador disseram, por nota, que "à época das homenagens era impossível prever que alguns desses policiais pudessem desonrar a farda".

Você pode ouvir UOL Investiga em plataformas como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music e YouTube. Abaixo, você confere a íntegra do roteiro do episódio 1.

"UOL Investiga - Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro"

Episódio 1 - O clã e as homenagens a policiais bandidos

JULIANA DAL PIVA: Antes de começar, um aviso. Este episódio tem cenas fortes com descrições de violência e pode não ser adequado para todos os públicos.

JULIANA DAL PIVA: Tráfico. Polícia. Milícia. Política. Grupos de extermínio. Máfia. Impossível saber ao certo desde quando o Rio de Janeiro convive com essa roda viva que tem como consequência muita, muita violência.

Tem tempo que o Bolsonaro defende que a missão da polícia significa a morte. Matar o inimigo. Não prevenir a violência. Um confronto que pode significar até a morte dos próprios policiais. E essa ideia acabou virando a própria pauta política dele no Congresso Nacional e na Presidência da República.

O Bolsonaro ignora os crimes daqueles policiais que não atiram para salvar a própria vida. Os que matam como bandidos. Eu tô falando do policial que age fora da lei. Desde os anos 90, o Bolsonaro usou a tribuna da Câmara dos Deputados para defender isso: a política da morte. Em 2003, ele disse o seguinte.

JAIR BOLSONARO EM DISCURSO NA C MARA DOS DEPUTADOS EM 2003: "Dizer aos companheiros da Bahia, que agora há pouco veio um parlamentar criticar aqui os grupos de extermínios. Enquanto o Estado não tiver coragem pra adotar a pena de morte, esses grupos de extermínio, no meu entender, são muito bem-vindos. E, se não tiver espaço na Bahia, podem ir pro Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o apoio".

JULIANA DAL PIVA: Depois de convidar os grupos de extermínio pra vir pro Rio de Janeiro, o Bolsonaro defendeu, em 2008, que nem todo miliciano é bandido. E o que ficou conhecido no Rio de Janeiro como miliciano é justamente esses grupos de policiais que tomam controle de bairros e comunidades, extorquindo e matando moradores, exatamente como os grupos de extermínio.

JAIR BOLSONARO EM 2008: "Como se todos aqueles elencados como milicianos fossem bandidos. Não. É uma busca que dá popularidade, dá vulgaridade. Busca de voto pelo voto em cima da demagogia em chefes de família. Alguns são bandidos? Sim, são bandidos, mas no contexto todos não [são]".

JULIANA DAL PIVA: O Bolsonaro chegou a dizer que não podia generalizar os milicianos.

JAIR BOLSONARO EM 2008: "Quer atacar o miliciano, porque o miliciano passou a ser um símbolo da maldade pior do que os traficantes. Tem miliciano lá que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás. Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do Bombeiro, ele tem sua própria arma e, na sua comunidade, organizou sua segurança. Nada a ver com milícia ou exploração de gatonet ou venda de gás ou com transporte alternativo também".

JULIANA DAL PIVA: E não foi só ele. No Rio de Janeiro, o Flávio Bolsonaro também defendeu a mesma coisa, em fevereiro de 2007, quando ele ainda era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio.

FLÁVIO BOLSONARO EM DISCURSO NA ALERJ EM 2007: "Não se pode levar pro lado de simplesmente estigmatizar a milícia, em especial os policiais que estão envolvidos nesse novo tipo aí de policiamento, vamos dizer assim".

JULIANA DAL PIVA: O Flávio ainda disse nesse mesmo discurso que a sociedade tinha que ver o que seriam, nas palavras dele, "as vantagens" de ter esses grupos.

FLÁVIO BOLSONARO EM DISCURSO NA ALERJ EM 2007: "Em todas essas milícias sempre tem um, dois, três policiais que são da comunidade e contam com a ajuda de outros colegas de farda para somar força e estarem tentando garantir o mínimo de segurança nos locais onde eles moram. Há uma série de benefícios nisso".

JULIANA DAL PIVA: A missão da polícia é proteger a sociedade e um policial de verdade não faz parte de grupo criminoso.

Passaram mais de dez anos desses discursos do Bolsonaro, e ele não mudou muito de opinião sobre o que são as milícias ou sobre o que esses grupos representam. No dia 5 de fevereiro de 2018, ele falou o seguinte numa entrevista para a Jovem Pan.

JAIR BOLSONARO EM ENTREVISTA À JOVEM PAN EM 2018: "Tem gente que é favorável à milícia. Que é a maneira que eles têm... de se ver livre da violência. Naquela região onde a milícia é paga não tem violência".

JULIANA DAL PIVA: Você já deve ter ouvido o Jair Bolsonaro dizer que ele combate o crime.

JAIR BOLSONARO EM ENTREVISTA À JOVEM PAN EM 2018: "Vamos entupir as cadeias de bandidos. Entupir".

JULIANA DAL PIVA: E que a bandeira dele é a defesa dos policiais e das Forças Armadas, além da segurança pública. O Bolsonaro fala em combater os bandidos.

JAIR BOLSONARO EM DISCURSO EM 2019: "Pode, de madrugada, numa troca de tiros com marginal, se um policial dá mais de dois tiros, ele ser condenado por excesso? Um absurdo isso daí".

JULIANA DAL PIVA: Com frequência, o Bolsonaro defende que matar o que ele chama de bandido seria alguma espécie de solução pra reduzir a criminalidade. Mas qual criminalidade que ele está falando? Pela lei, o policial só pode atirar para defender a própria vida ou a de algum inocente. Matar simplesmente é homicídio, crime. E se defender grupos de extermínio e milicianos não foi o suficiente, em 2015, o Bolsonaro deixou ainda mais evidente a forma como ele pensa que deve ser a segurança pública. Nessa ocasião, ele criticou um relatório da Anistia Internacional no salão verde da Câmara dos Deputados.

JAIR BOLSONARO EM 2015: "Esse pessoal da Anistia, se um dia eu tiver um mandato presidencial, vocês não vão mais interferir na nossa vida interna aqui no nosso país. O marginal só respeita o que ele teme. Não vamos combater a violência soltando pombinhas em Copacabana ou abraçando a lagoa Rodrigo de Freitas. Temos que dar retaguarda jurídica para o policial militar poder agir, se for o caso, com violência e, se for o caso, matando. Como é a polícia americana. Eu tenho um projeto aqui na Câmara. Se alguém está roubando uma bicicleta, se eu atirar naquele vagabundo, eu não respondo por crime nenhum".

JULIANA DAL PIVA: Mal sentou na cadeira da Presidência, em 2019, o Bolsonaro cumpriu o que ele prometeu. Tentou emplacar várias vezes essa história de "retaguarda jurídica" que oficialmente foi chamada de excludente de ilicitude. É uma figura jurídica para ampliar as justificativas legais para os policiais que matam durante as operações.

No texto que o governo Bolsonaro tentou aprovar, tinha até respaldo para o policial alegar, de modo meio genérico, que matou alguém por medo, surpresa ou violenta emoção. Mas a medida não foi aprovada. Outra coisa que o governo Bolsonaro fez desde o início foram medidas para aumentar o acesso de toda a população a armas.

Mas essas medidas realmente reduzem a violência? O que o Bolsonaro defende protege os policiais ou só uma parte deles? Quando terminou a primeira temporada do podcast sobre a vida secreta de Jair, eu recebi várias mensagens. Em especial, uma pergunta se repetia muito: qual o envolvimento da família Bolsonaro com as milícias no Rio de Janeiro?

Essa pergunta está na cabeça de muitos brasileiros. Ela também ronda a minha. Até porque isso nunca foi investigado oficialmente. Os processos de milicianos no Rio mostraram alguns dados, mas não o suficiente para a gente saber ao certo como responder a essa pergunta. E o próprio Bolsonaro nunca se explicou direito sobre esse assunto.

JAIR BOLSONARO DURANTE A CAMPANHA À PRESIDÊNCIA: "Aquele que esquece o seu passado está condenado a não ter futuro".

JULIANA DAL PIVA: Eu concordo com o Bolsonaro. Passado e futuro estão relacionados. Nessa segunda temporada, eu vou levar você para revisitar a trajetória do militar renegado pelas Forças Armadas que virou presidente da República. Do capitão do Exército que atuava como um sindicalista reclamando melhores salários e se transformou em um deputado que defendeu um dos maiores assassinos de aluguel do Rio de Janeiro nos microfones do Congresso Nacional, a Casa do Povo.

Também vou contar para você sobre as relações que o Bolsonaro e os filhos construíram com esses policiais, servidores públicos que usaram o treinamento recebido nas forças de segurança e depois se tornaram milicianos. E vou trazer também, ainda nesse primeiro episódio, um quadro geral dos policiais que o clã premiou com medalhas e moções da cidade do estado do Rio ao longo de 20 anos. Essa foto cheia de homenageados tem pelo menos 75 policiais que responderam por processos de corrupção, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e homicídio.

Uma análise das ações e discursos do clã Bolsonaro em 30 anos da vida pública mostra que eles atuaram para defender uma parte da polícia, a dos homens de farda que se transformaram em criminosos, e um Bolsonaro que virou presidente defendendo a morte como política pública. Eu sou Juliana Dal Piva e esse é o UOL Investiga em sua segunda temporada: "Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro".

VINHETA: "Tem gente que é favorável à milícia". "Violência se combate com a violência". "E, se for o caso, matando". "Esses grupos de extermínio, no meu entender, são muito bem-vindos". "Não se pode estigmatizar a milícia". "Isso é ser radical? Isso é ser racional".

JULIANA DAL PIVA: Foi em meados de novembro de 88 que um homem alto e de perfil atlético entrou pela portaria do Palácio Pedro Ernesto. O prédio histórico de 1923 abriga a Câmara Municipal. Fica na praça da Cinelândia, no centro do Rio. A eleição para vereador tinha acabado no dia 15 de novembro.

O Brasil vivia dias difíceis, mas também de esperança com o fim da ditadura e uma nova Constituição recém-aprovada. Aquele homem que entrou no palácio não era muito dado a formalidades. Costumava usar calça jeans e camisa polo ou mesmo uma camiseta e oscilava gargalhadas espalhafatosas, com uma expressão meio carrancuda. Tinha o cabelo aparado nas laterais e levemente mais comprido no topo. Fazia tipo uma onda, quase uma franja jogada para o lado esquerdo.

Eu estou falando do Jair Bolsonaro, claro. Ele tinha acabado de conquistar uma vaga como vereador pelo Partido Democrata Cristão, o PDC. Ele conseguiu 11 mil e 62 votos naquela eleição e fez uma campanha com o slogan Salvem o Rio e Brasil acima de tudo.

JAIR BOLSONARO COM SLOGAN DE 2018: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

JULIANA DAL PIVA: Só que ele tinha passado os dois anos anteriores, entre 86 e 87, envolvido em polêmicas. Escreveu um artigo para a revista Veja com reclamações sobre o salário dos militares e acabou preso por indisciplina por 15 dias. Depois, ensaiou um plano para soltar bombas em instalações do Exército, também como protesto contra os baixos salários da tropa. O Bolsonaro chegou a ser condenado pelo Conselho de Justificação do Exército. Mais tarde, ele foi absolvido em um julgamento polêmico no Superior Tribunal Militar.

Só que essas confusões tinham de algum jeito acabado com a carreira militar do Bolsonaro. A cúpula do Exército tinha marcado o nome dele e aí o Bolsonaro assumiu o papel que ele já estava procurando: o de um político. Quando Bolsonaro se filiou ao PDC, ele tinha dito que ele queria ser vereador para combater a corrupção e ia defender a moralidade pública. No dia 29 de novembro de 1988, o Jornal do Brasil registrou as primeiras impressões do Bolsonaro como vereador eleito.

Eu vou pedir para a jornalista Elenilce Bottari ler um trecho da reportagem do JB. Ela cobriu segurança pública no Rio de Janeiro por 30 anos e me acompanhou nas investigações dessa segunda temporada do podcast.

ELENILCE BOTTARI LÊ TRECHO DE REPORTAGEM: "A moralidade da Câmara Municipal é uma das suas maiores preocupações. Revoltado com o empreguismo que caracteriza o Legislativo municipal, Bolsonaro pretende unir-se a vereadores que estão dispostos a acabar com as mordomias e com os funcionários fantasmas. Bolsonaro afirmou: 'Os novos vereadores têm que começar pelo próprio gabinete. Acho um absurdo que cada um tenha a seu dispor 18 assessores. Minha primeira atitude na Câmara será elaborar um projeto que diminua em 50% o número de vereadores'.

Na semana passada, Bolsonaro esteve na Câmara fazendo um reconhecimento de terreno. Não teve boa impressão e afirmou: 'Vi muita gente lotada nos gabinetes e muita sujeira também'. Além do mais, saiu frustrado. Acostumado à rígida disciplina militar e pouco familiarizado com a prática legislativa, Bolsonaro foi atrás das normas regimentais que pautassem a sua atuação de vereador. Não achou nada e saiu decepcionado. O grande sonho do capitão é tornar-se deputado federal para, em suas próprias palavras, 'poder lutar por algumas reivindicações elementares da tropa'".

JULIANA DAL PIVA: No ano seguinte, 89, o Bolsonaro tomou posse e se envolveu em mais confusões. Em 28 de março de 90, o Bolsonaro resolveu invadir a sala do Departamento de Pessoal da Câmara para exigir a apresentação da folha de pagamento dos funcionários. Quando ele entrou na sala, ele assustou as pessoas. A maioria saiu e alguns até caíram no choro. Sim, choraram. A Elenilce vai ler para você como o jornal O Globo registrou o episódio.

ELENILCE BOTTARI LÊ TRECHO DE REPORTAGEM: "Insatisfeito com as sucessivas negativas do presidente da Mesa Diretora, Roberto Cid, do PDT, de fornecer cópia da folha de pagamento da Câmara Municipal, o vereador Jair Bolsonaro, do PDC, ocupou ontem o departamento de pessoal das 13h às 13h30, dizendo se protegido pelo Regimento Interno da Câmara - que, segundo ele, garante acesso de vereadores a todas as dependências da Casa -, Bolsonaro cobrou da Diretora de Pessoal, Maria Lucia Kamache, a apresentação da folha. Depois de falar pelo telefone com Cid, Maria Lucia, chorando, pediu ao vereador que saísse da sala. Só foi atendida, no entanto, depois que Bolsonaro examinou o documento que pedira à Mesa".

JULIANA DAL PIVA: Você consegue imaginar o Bolsonaro defendendo transparência? E justamente de salário de funcionário da Câmara do Rio? Eu achei essa notícia quando eu estava pesquisando pra segunda temporada do podcast. E ela deixa nítido um dos primeiros sinais de mudança nas ações e no discurso do Bolsonaro de 2022. Se, em 90, ele fez gente chorar exigindo transparência, agora que é presidente, vários dados básicos sobre o governo dele foram colocados sob sigilo. Para saber quem o Bolsonaro recebe no Palácio da Alvorada, por exemplo, vai demorar cem anos.

JAIR BOLSONARO EM ENTREVISTA AO PODCAST "FLOW" EM AGOSTO DE 2022: "O que a imprensa começou a perturbar? Eu tenho a minha agenda, que é pública, lá no Palácio da Presidência. Se você for me visitar, tá lá, tá lá. Agora eles começaram a querer ter acesso a quem ia visitar no Alvorada e, de acordo com as pessoas que me viram no Alvorada, a imprensa faz uma matéria sobre aquilo e o que eu recebo na minha casa eu não devo satisfação a ninguém. Você, na tua casa, não deve satisfação a ninguém".

JULIANA DAL PIVA: Mas a maior das mudanças do Bolsonaro tem a ver com a radicalização no discurso da violência. Com o tempo, o que vai dar popularidade para o Bolsonaro são as defesas que ele fez da ideia de que o policial tem que matar. Lá no fim dos anos 1980, ele ainda tava tentando descobrir como que faz política. Não tinha internet e a campanha era pela TV, pelo rádio ou por correspondência. Só que o tempo de TV e rádio pra um candidato a deputado é bem pequeno. Então, o Bolsonaro mandava cartas.

A Elenilce achou nos arquivos do SNI, o Serviço Nacional de Informação, uma cartinha que o Bolsonaro mandou em 28 de junho de 1989. Aliás, essa é outra coisa que eu preciso te contar. Nessa época, o SNI, que foi uma agência de inteligência criada na ditadura, ainda não tinha fechado e vigiava o Bolsonaro igualzinho espionava vários dirigentes de esquerda. Aí, como o Bolsonaro tinha o sonho de ser deputado federal e devia estar pensando na eleição de 1990, ele começou a fazer os primeiros movimentos de aproximação em direção aos policiais.

ELENILCE BOTTARI LÊ CARTA DE BOLSONARO EM CAMPANHA: "Companheiros, começamos a nossa caminhada com o artigo da revista Veja de 3 de setembro de 1986, chegando ao mandato de vereador da Câmara do Rio. Desde nossa posse, em 1º de janeiro corrente, buscamos, pautamos buscar nossa conduta voltada aos interesses da classe que aprendemos a amar ao longo da nossa vida militar. Divulgamos aos nossos companheiros de farda, os 'sem direitos', resguardada a disciplina que conduz todos nós no míster que escolhemos, a opção pela pátria, através da carreira militar. A nível de legislativo municipal, buscamos orientar nosso trabalho na busca de soluções que atendam às necessidades, não só da população em geral, como especialmente da família militar, através de indicações e de projeto de lei que autoriza o transporte de recrutas nos coletivos municipais rodoviários".

JULIANA DAL PIVA: Essas indicações que o Bolsonaro menciona na carta são uma referência aos projetos para equiparação de salário entre PM, o Corpo de Bombeiros e as Forças Armadas. Mas nesse começo era tudo meio assim, no improviso. Bolsonaro nem chegou a terminar o mandato de vereador e acabou eleito deputado federal em 90.

Aí em Brasília no ano seguinte, em 91, ele continuou muito ligado na pauta dos salários. Um ano depois, o Bolsonaro liderou um protesto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No meio da tarde de 27 de abril de 1992, cerca de 2.000 mulheres se concentraram ao lado da Catedral de Brasília e saíram andando em direção ao prédio do Estado-Maior das Forças Armadas. A revista Manchete chamou elas de "Exército de Bolsonaro". Elas caminhavam cantando uma paródia da Canção do Soldado.

As mulheres e o Bolsonaro chegaram na frente do prédio do Estado-Maior e pararam diante de um pelotão de soldados armados. Um palanque foi improvisado em cima de um carro e o Bolsonaro subiu nele para discursar. De cima do capô, Bolsonaro chamou o Fernando Collor de Mello, que era o presidente da República, de "corrupto" e "imoral". Você consegue imaginar? Hoje o Collor é um dos maiores apoiadores do Bolsonaro.

JAIR BOLSONARO: "Com muita satisfação, está integrando essa comitiva o nosso senador Fernando Collor. Também um homem que luta pelo interesse do Brasil e também em especial do seu estado".

JULIANA DAL PIVA: Outros xingamentos que o Bolsonaro fez nessa manifestação em 1992 foram pros comandantes das Forças Armadas. Nenhum deles foi poupado: "Banana", "incompetente", "omisso". Mas vamos voltar para a atuação política do Bolsonaro.

Naquela época, ele era visto pelos militares mais graduados como um oportunista se aproximando da tropa. Essa é a análise do general Santos Cruz. Ele foi ministro do Bolsonaro em 2019 e era amigo do presidente, mas acabou demitido do ministério em seis meses porque começou a discordar do modo como Bolsonaro estava conduzindo o governo.

Eu conversei com o general no apartamento dele em Brasília, no final de 2021.

GENERAL SANTOS CRUZ EM ENTREVISTA A JULIANA DAL PIVA: "O Bolsonaro, ele viu no Rio de Janeiro a oportunidade daquele público militar no Rio de Janeiro, que é chamado de família militar. Militares têm esse costume de chamar de família militar, que no Rio de Janeiro é muito grande.

Então, por quê? Quem é que tá no Rio de Janeiro? O Rio de Janeiro foi capital, né? A Marinha, 80% da Marinha é toda no Rio. O pessoal da reserva do Exército no Rio são milhares. 50, 60 mil. E as famílias, mulher, filho, neto, pensionista? O Rio de Janeiro é infestado de Vila Militar. Tem uma outra central de aposentados em Copacabana. Tem uma outra em Niterói, cada uma com 30, 40 mil".

JULIANA DAL PIVA: "E aí é um bom potencial de voto".

GENERAL SANTOS CRUZ: "De voto. Aí você tem mais a Marinha com 80% da Marinha, da ativa e mais da reserva. E pensionista, PM, bombeiro. Essa turma toda. Então o discurso dele era pra esse pessoal. Que ele nunca fez nada de concreto, né? Você não tem nenhuma medida concreta que ele tenha proposto de benefício salarial ou de benefício de legislação, né? Mas sempre fez o show de porta de quartel. Ele sempre fez esse show. Então ele não se especializou em realmente fazer coisas concretas".

JULIANA DAL PIVA: Mesmo outros amigos até mais próximos admitem que lá atrás o Bolsonaro nem pensava em política de segurança pública. Aliás, esses amigos têm críticas sobre isso até hoje. Um deles é o ex-deputado Alberto Fraga. Ele era um dos melhores amigos do Bolsonaro, senão o único amigo dele do tempo da Câmara dos Deputados.

JULIANA DAL PIVA: "Tudo bom? Boa tarde! Eu sou Juliana. Marquei um horário com o deputado Fraga".

RECEPCIONISTA: "Ah, sim. Pode entrar".

JULIANA DAL PIVA: Eu conversei com o ex-deputado no escritório do antigo Democratas em Brasília, em novembro de 2021. Foi um pouco antes de completar a fusão do Democratas com o PSL, que gerou o partido União Brasil.

ALBERTO FRAGA EM ENTREVISTA A JULIANA DAL PIVA: "Eu até reclamei que ele não fez nada até agora como presidente da República. Teve mais de 95% dos votos das Polícias Militares e bombeiros. E Bolsonaro não fez um, vamos dizer assim, não fez nenhum projeto, nenhuma coisa para os policiais militares. E isso realmente, infelizmente, ele deixou a desejar, né? Na verdade, eu sou crítico da atuação do Bolsonaro, por incrível que pareça, na área da segurança pública".

JULIANA DAL PIVA: Eu conversei com o ex-deputado no escritório do antigo Democratas em Brasília, em novembro de 2021. Foi um pouco antes de completar a fusão do Democratas com o PSL, que gerou o partido União Brasil. O Fraga estava sentado na frente de um mural cheio de fotos dele no Congresso. Várias eram com o Bolsonaro. Por isso eu perguntei como eles se conheceram.

JULIANA DAL PIVA: "Você se lembra quando foi que o senhor conheceu o presidente Bolsonaro?".

ALBERTO FRAGA: "Lá na Escola de Educação Física do Exército. Nós fizemos educação física juntos. Eu era tenente da PM e ele, tenente do Exército. E foi em 1982. Foi quando eu casei também".

JULIANA DAL PIVA: "Ambos ali, ainda ele militar e o senhor na PM".

ALBERTO FRAGA: "Ele militar e eu também na ativa, os dois na ativa. Nos conhecemos lá na Escola de Educação Física. Estudávamos juntos algumas matérias, éramos competidores, vamos dizer assim, porque os melhores corredores de fundo, de 10 mil metros, era eu e ele, né? Então tinha prova que ele me ganhava, tinha a prova que eu ganhava dele. Mas nós dois éramos? Daí surgiu o apelido Cavalo".

JULIANA DAL PIVA: "O Cavalão?".

ALBERTO FRAGA: "O Cavalão. E eu sempre chamo ele de Cavalão, como ele me chama de Pancrácio".

JULIANA DAL PIVA: "Pancrácio?".

ALBERTO FRAGA: "Pancrácio. Pancrácio eram os antigos lutadores de boxe na Grécia".

JULIANA DAL PIVA: "Aquela foto que tem ali em cima é do tempo da escola?".

ALBERTO FRAGA: "É, exatamente".

JULIANA DAL PIVA: "Da turma da escola. É o que é esse dia? Foi um evento? O senhor lembra?".

ALBERTO FRAGA: "Ah, isso aí a gente ia fazer.. era aula de pista, né? Aula de pista".

JULIANA DAL PIVA: "Aí nesse período vocês perderam um pouco de contato?".

ALBERTO FRAGA: "Só nesse período de 90... De 82 até... Aí teve aquela confusão. Lembra o negócio do?".

JULIANA DAL PIVA: "Dele, de quando ele saiu do Exército. Das reclamações dele dos salários".

ALBERTO FRAGA: "Eu troquei algumas informações, trocamos alguns telefonemas e tal, mas nada assim, muito próximo. Depois, quando ele chegou em Brasília, eu morando em Brasília, que a gente se aproximou mais".

JULIANA DAL PIVA: "Primeiro mandato dele?".

ALBERTO FRAGA: "É, em 1991. Aí em 1996 mais ou menos, eu fui trabalhar na Câmara como assessor parlamentar das Polícias Militares de todo o Brasil. E era a pessoa que eu sempre procurava para nos ajudar. Era o Bolsonaro. Em 1998, eu me elegi".

JULIANA DAL PIVA: O ex-deputado Alberto Fraga, inclusive, lembra que o Bolsonaro ficava muito dentro do próprio gabinete e não era assim tão atuante, nem mesmo nas causas da área de segurança.

ALBERTO FRAGA: "Mas ele ficava no gabinete. Eu era muito mais atuante na Comissão de Segurança. Quando eu precisava dele: 'Ô, Cavalão, venha votar aqui'. Aí ele corria. O gabinete dele era no Carandiru, né? Ali na?".

JULIANA DAL PIVA: "Carandiru?".

ALBERTO FRAGA: "Carandiru era o anexo, aquele anexo lá, aquele que não tem banheiro... O anexo três, né? Então... Aí ele vinha votar que era pertinho. Mas ele sempre gostou mais de ficar era no gabinete. Ele não era de ficar em encontros sociais".

JULIANA DAL PIVA: "Tanto que ele, na verdade, apresentou um projeto, né, esse tempo todo. Assim ele fazia... Ele ia um pouco, né, dentro do que estava acontecendo na Câmara, mas ele não era de propor".

ALBERTO FRAGA: "Ele não... Tanto é que ele não tem muitos projetos aprovados, né? Era uma dificuldade dele. Ele também não era de procurar ninguém para pedir ajuda. Não fazia isso".

JULIANA DAL PIVA: O Bolsonaro e o Fraga agora estão distantes. A mulher do Fraga morreu de covid em 2021 e o ex-deputado ficou muito chateado com o presidente porque o Bolsonaro não esteve presente naquele momento tão difícil para o Fraga.

JULIANA DAL PIVA: "E como que tá, deputado, sua relação com o presidente? Estou olhando aqui, sua foto ali... Desde lá de baixo vocês têm várias fotos da sua amizade com o presidente, tem várias fotos do senhor com o Bolsonaro. Como está aí essa relação de vocês?".

ALBERTO FRAGA: "Não, quando minha esposa faleceu, eu me afastei do Bolsonaro, né? Mas, assim, eu não rompi com o Bolsonaro. Eu me afastei porque eu achei que, pelo grau de amizade que a gente tinha, eu achava que ele deveria ter sido um pouco mais amigo, num momento de dor que eu passei, né? É claro que eu entendo que um presidente da República tem muitos afazeres, mas, na hora de abraçar um amigo diante da dor, eu acho que se dá um jeito. E eu não notei nenhum gesto por parte dele, né? Eu achei... Fiquei muito triste com aquilo. Eu estava internado também de covid...".

JULIANA DAL PIVA: O Fraga disse que o Bolsonaro estava tentando se reaproximar e que contra o Lula ele ia votar no Bolsonaro. Só que continuava assim, magoado. Tinha críticas à atuação dele na questão do combate à covid. Mas, voltando ao que o Fraga contou, do tempo em que os dois estavam na Câmara. Você ouviu como eles chamavam o lugar onde ficava o gabinete do Bolsonaro na Câmara dos Deputados? Carandiru.

Coincidentemente, é depois do massacre do Carandiru que o Bolsonaro começa a fazer as manifestações públicas a favor das operações policiais que terminam em muitas mortes, tantas a ponto de serem chamadas de chacina ou de massacre. O Massacre do Carandiru aconteceu em 2 de outubro de 1992. Uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo, como era chamado o Carandiru, deu início ao tumulto no pavilhão nove. Depois, a PM invadiu o lugar e deixou 111 presos mortos.

TRECHO DO GLOBO REPÓRTER DE 1992: "Mais de cem homens executados em apenas 13 horas. A maior chacina de presos em todo o mundo. O fato mais terrível da violenta crônica policial brasileira".

CACO BARCELLOS EM TRECHO DO JORNAL NACIONAL DE 1992: "Ainda segundo os presos, o grande massacre foi aqui no terceiro andar. Só nesta cela, sete pessoas morreram".

PRESO: "Tinha um pano que eles abriram e enfiaram a metralhadora aqui e mataram todo mundo".

JULIANA DAL PIVA: O primeiro discurso mais duro do Bolsonaro que eu achei é de outubro de 1992.

JAIR BOLSONARO EM DISCURSO EM OUTUBRO DE 1992: "Outro problema, seu presidente, como o Carandiru, em São Paulo. Não quero defender a PM em São Paulo também, mas também acho que a invasão e o que ocorreu lá foi apenas um ato enérgico por parte da PM. Se não podem entrar, não se pode determinar que homens entrem com um buquê de rosas para negociar com bandidos, marginais. Com pessoas que não são cidadãos, que não merecem o menor respeito da nossa parte".

JULIANA DAL PIVA: Nesse mesmo discurso, Bolsonaro ainda disse que, se fosse ele, nem cumpriria uma ordem se não estivesse armado com uma metralhadora.

JAIR BOLSONARO EM DISCURSO EM OUTUBRO DE 1992: "Parabenizo a PM, que até o presente momento... Não a PM, a cúpula, mas a tropa como um todo, que até o presente momento não tomou nenhuma iniciativa. Espero que ela não seja acusada de omissa. Acaso eu fosse um soldado, um cabo, um capitão da PM, jamais cumpriria uma ordem superior dada a mim para invadir sem estar com a arma na mão engatilhada. Jamais, e muito menos com apenas uma arma contendo cinco ou seis tiros no tambor. Tem que entrar realmente de metralhadora, porque é o tratamento que eles merecem".

JULIANA DAL PIVA: Depois o Bolsonaro intensificou esse discurso sobre o Carandiru. Em 1998, um Bolsonaro mais acostumado ao jogo político falou em outro tom, muito mais violento.

JAIR BOLSONARO EM 1998: "É lamentável essa proposta para indenizar os familiares daqueles que morreram em Carandiru. Até repetindo, a PM de São Paulo perdeu uma grande oportunidade de abrir mais vagas em outros presídios. Tivesse matado logo 15 mil e poucos que estavam lá dentro, ninguém ia sentir sua falta".

JULIANA DAL PIVA: Essas fala sobre o Carandiru são um marco importante para o Bolsonaro. Tanto que o Flávio Bolsonaro até registrou num livro que escreveu sobre o pai. O Flávio só não falou que, no início, o Jair Bolsonaro tinha sido mais contido. Mas espera um pouco. Eu já volto com o UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro.

INTERVALO

JULIANA DAL PIVA: Nas pesquisas para essa temporada do podcast, a gente tentou identificar quando é que foi que o Bolsonaro começou a defender a ideia de abre aspas bandido bom é bandido morto. Fecha aspas. E andando aqui e ali me contaram uma coisa que é pouco conhecida: o nome do criador do bordão violento, o José Guilherme Godinho, conhecido como delegado Sivuca.

DELEGADO SIVUCA: "Mas sequestrador tem que morrer. Olha, o latrocina tem que morrer. O traficante tem que morrer. O sequestrador tem que morrer. O estuprador tem que morrer. Sabe por quê? Porque são bandidos. E bandido bom é bandido morto e enterrado em pé pra não ocupar muito espaço".

JULIANA DAL PIVA: Em 1986, o delegado Sivuca se candidatou a deputado estadual do Rio de Janeiro. Ele chegou a ser deputado por três mandatos. Mas a história dele vem muito antes disso. O delegado Sivuca foi da Polícia Especial e da guarda pessoal do ex-presidente Getúlio Vargas. Em 1964, a morte do detetive Milton Le Cocq fez com que um grupo de policiais criasse a Scuderie Le Cocq, que foi um dos primeiros grupos de extermínio do Rio de Janeiro. O delegado Sivuca foi um dos fundadores da Scuderie Le Cocq.

Naquela época, isso tudo era glamourizado e esse grupo era chamado de "Os 12 Homens de Ouro da Polícia Civil". Eles foram especialmente escalados pela Cúpula da Segurança Pública do Rio de Janeiro para eliminar criminosos, mas também travestis e moradores de rua. Tudo de modo ilegal e criminoso. A primeira vítima do grupo foi Manuel Ferreira, que tinha o apelido de Cara de Cavalo e era suspeito da morte do detetive. O Manuel morreu assassinado com 62 tiros. A Scuderie Le Cocq existiu por muito tempo, até o ano de 2000. E chegou a ter 7.000 integrantes quando estava no auge.

O Sivuca morreu de covid em agosto de 2021, aos 91 anos. Quem também tem carteirinha da Scuderie Le Cocq é o Ronnie Lessa, que era vizinho do Bolsonaro lá no condomínio da Barra da Tijuca e é acusado pela morte da vereadora Marielle Franco. Mas essa história eu vou te contar mais adiante. Te contei a história do Sivuca para lembrar que esse discurso de matar bandido não é de hoje e nem de ontem. O Bolsonaro é uma espécie de herdeiro dessas ideias, mas o olho por olho não elimina a violência.

SOCIÓLOGO DANIEL HIRATA: "O Bolsonaro é um impulsionador desses enunciados que tentam vincular a violência policial à resolução dos problemas na área de segurança pública".

JULIANA DAL PIVA: Esse que você ouviu é o sociólogo Daniel Hirata. Ele é professor da Universidade Federal Fluminense e coordenador do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos. O Daniel estuda a violência e a expansão das milícias.

SOCIÓLOGO DANIEL HIRATA: "Toda a literatura internacional e a vasta bibliografia nacional sobre o tema, ou seja, análises baseadas em dados de evidência, apontam para a direção contrária. Isso já foi demonstrado inúmeras vezes".

JULIANA DAL PIVA: A experiência do Daniel e de outros pesquisadores nessa área mostra que, quando o policial abusa da violência no dia a dia, esse mesmo policial vai acabar usando desse poder para cometer crime também.

SOCIÓLOGO DANIEL HIRATA: "A brutalidade policial ela é... Em primeiro lugar, ela atua nesses lugares produzindo uma lógica de funcionamento que tende a expandir os grupos armados, né? Por que que isso acontece? Porque, quando nós temos forças policiais que abusam do uso da força oficial, quando você tem uma disposição ilimitada sobre as vidas das pessoas, essa vida ela é passível também de ser negociada, transacionada, em um mercado ilegal de proteção. Ou seja, a partir do momento que você tem forças policiais que são brutais, que matam e que não há nenhuma responsabilidade sobre isso, né? Ou seja, você tem uma carta branca para fazer o que você quiser. Isso é totalmente passível, e foi isso que aconteceu no Rio de Janeiro ao longo dos anos, né? Enfim, você passa a transacionar a vida como uma mercadoria, ou seja, é todo o jogo que se faz ao redor do arrego, né? O arrego é um pagamento pecuniário que garante uma menor repressão das forças da ordem e, portanto, das mortes também. Então, a brutalidade policial ela age sobre as forças policiais de uma maneira inversa ao que se imagina. Enfim, ela estimula não só o desrespeito aos direitos humanos, à vida humana, à dignidade da vida humana, mas também a corrupção policial, que é uma das fontes de origem das chamadas milícias".

JULIANA DAL PIVA: O tempo foi passando e o que deu pra começar a notar é que esses discursos do Bolsonaro foram se tornando mais e mais duros. E, à medida que isso acontece, o Bolsonaro também começa a se aproximar da polícia, porque para ele ainda era muito difícil frequentar a cúpula das Forças Armadas. O Bolsonaro só conseguia transitar nos generais da reserva e na tropa. A Elenilce, que me acompanhou nessa temporada, cobriu segurança pública muito tempo e ela própria viu o Jair e o Flávio em formaturas, enterros e eventos militares. E, para tentar entender como essa aproximação do Bolsonaro com a polícia aconteceu, eu e ela fomos procurar vários policiais dessa época.

CORONEL ROBSON: "Meu nome é Robson. Sou coronel da reserva da Polícia Militar, onde me conhecem por coronel Robson, e também sou pesquisador, antropólogo".

JULIANA DAL PIVA: "Robson, quanto tempo você ficou na polícia?".

CORONEL ROBSON: "Na polícia em torno de 30 anos. É o máximo que nós podemos ficar".

JULIANA DAL PIVA: Robson passou na prova da PM em 1985, dois anos antes de um outro personagem que a gente já falou bastante aqui, o Fabrício Queiroz. Mas os dois seguiram caminhos muito diferentes dentro da polícia e ao longo desse podcast você vai entender. O coronel Robson estudou estatística e gostava de matemática. A gente conversou num restaurante no Largo do Machado, na zona sul do Rio.

CORONEL ROBSON: "É, eu morava na Baixada Fluminense. Havia todo um problema... A problemática era a falta de emprego, desemprego? A taxa era muito alta ainda, e hiperinflação, né? Então a insegurança era muito grande. Eu fazia uma faculdade de estatística na ENCE, que é a universidade do IBGE, né? O [Instituto] Nacional de Estatística. Eu acho que uma das melhores do Brasil. E fui procurar esse lado. Em determinado momento, já trabalhava. Trabalhava em Nova Iguaçu, morava em Nilópolis e estudava aqui no Bairro de Fátima. Então ficava igual um zumbi. Estudava... Até sábado tinha aula".

JULIANA DAL PIVA: Essa formação diferente fez o Robson crescer dentro da corporação. Estudou direito, depois fez mestrado em antropologia e agora está fazendo doutorado. Ele comandou o Batalhão de Choque, coordenou as Unidades de Polícia Pacificadora e depois foi chefe do Estado-Maior da PM no Rio de Janeiro. Vez ou outra ele encontrou o Bolsonaro, mas o Robson sempre foi mais estudioso. Preferiu planejar a segurança pública a partir de inteligência e não era dado a esses discursos violentos. Por isso, ele não deu liga com o Bolsonaro.

CORONEL ROBSON: "Nunca, enquanto eu estive na polícia, mesmo quando estive no comando da corporação, nunca teve uma aproximação dele formal com o comando da corporação. Nunca vi Bolsonaro, por exemplo, mesmo como deputado, procurar a corporação para alguma emenda parlamentar, por exemplo, que pudesse beneficiar... Quisesse conhecer os projetos da corporação. Nunca. Isso é mais da boca para fora. Assim, de fato concreto, não. Mas eu imagino, por exemplo... O Bolsonaro... A característica do Bolsonaro é atuar no submundo da política, como ele atuou e, evidentemente, se aproximar desse submundo também, até das instituições, no caso da polícia. Da mesma forma como ele atuava no submundo, de uma forma muito clandestina, que agora está vindo à tona todas essas atividades criminosas, né? Em relação à rachadinha, desvio de gasolina, essas coisas que é do submundo, não é uma coisa... Nem é uma grande corrupção, né? Por exemplo, enquanto o Bolsonaro fazia os seus rolos na política, o Queiroz fazia os seus rolos ali? São essas coisas mal contadas, esses malfeitos que não são esclarecidos. Essa é uma marca que identifica, que aproxima esses personagens, né? Então, evidentemente, Bolsonaro não iria procurar um coronel da polícia com determinado perfil, que pra ele não é interessante".

JULIANA DAL PIVA: E o Robson não foi o único que contou sobre essa distância do Bolsonaro da cúpula da polícia e da Secretaria de Segurança. Ou seja, das pessoas que pensavam na segurança pública. O Robson só foi um dos poucos que topou gravar.

Uma outra maneira do Bolsonaro de se aproximar dos policiais foi por meio das homenagens, moções e medalhas da Câmara Municipal do Rio ou da Alerj. A partir de 2001, o Bolsonaro usa os filhos, o Carlos e o Flávio, para homenagear uma série de pessoas. Sobretudo policiais e militares.

JAIR BOLSONARO EM FEVEREIRO DE 2020: "Eu é quem pedi para meu filho condecorar. Para que não haja dúvida. Ele era um herói. O meu filho recém-eleito. Eu determinei. Eu determinei. Pode trazer para cima de mim essa aí. O meu filho condecorou centenas de policiais. Meu filho, não. Se vocês tiverem um mínimo de zelo e consultar na Alerj moções, medalhas, raros são os deputados que não deram centenas de condecorações. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia? Por uma moção? Isso aconteceu 15 anos atrás. Pessoas mudam. Para o bem ou para o mal, mudam".

JULIANA DAL PIVA: Eu já te contei na temporada anterior como o Bolsonaro escalou o Carlos e o Flávio para entrar na política. E tudo bem se você não ouviu a primeira temporada porque o que você mais precisa saber, para entender essa história, eu vou repetir aqui. Depois que o Bolsonaro se elegeu deputado federal, ele colocou a Rogéria, a primeira mulher dele, para concorrer como vereadora. Só que em 1997 ele se separou dela pra ficar com a Ana Cristina. O divórcio fez o Bolsonaro perder o controle sobre o mandato da Rogéria e, como eu vou te contar numa história mais adiante, ele mandava muito ali. Dava até expediente no gabinete nas sextas-feiras. O mandato da Rogéria na Câmara do Rio era importante pro clã Bolsonaro aumentar a renda da família. Quando a Rogéria e o Bolsonaro se separaram, isso dividiu a renda.

O mandato também representava o poder e a ocupação de um espaço político. Teve uma vez que o Bolsonaro até disse que ia sarneyzar o Rio de Janeiro, numa referência clara à família do político José Sarney, do Maranhão. E aí o Bolsonaro coloca o Carlos para disputar contra a própria mãe em 2000. E o Carlos vence. Dois anos depois, é a vez do Flávio. Com três mandatos, ele tinha 60 funcionários à disposição e o esquema da rachadinha se ampliou.

Você deve ter ouvido que o Carlos e a Cristina estão sendo investigados por rachadinha, igual o Flávio e o Queiroz. E, além dos esquemas de rachadinha, pouco tempo depois, os filhos do Bolsonaro começaram a pedir uma série de moções de homenagem aos policiais. Nos últimos meses, no trabalho de reportagem para este podcast, a gente recolheu informações sobre todas as moções e medalhas que o Flávio e o Carlos entregaram desde que entraram para a política. Nós pegamos todos os dados dos sites da Câmara Municipal do Rio e da Assembleia Legislativa. Depois jogamos os nomes dos homenageados nos bancos de dados dos Tribunais de Justiça do país. Em seguida, nós também estudamos os casos mais emblemáticos.

As primeiras homenagens são de 2001 e começam justamente no primeiro mandato do Carlos. Até 2018, 707 pessoas foram homenageadas. Isso inclui tanto as moções como as medalhas. Algumas dessas pessoas foram premiadas mais de uma vez. Assim, alguém ganha uma moção e depois uma medalha. É o caso do Adriano da Nóbrega. Eu vou te contar bastante a história dele no segundo episódio desse podcast. Agora, o que mais me chamou atenção foi que nesse grupo a gente achou 75 policiais que responderam por processos criminais.

Então, de cada dez pessoas que o Flávio e o Carlos homenagearam, uma respondeu por processo criminal na Justiça. A lista dos crimes que esses policiais responderam é enorme. Ameaça, associação criminosa, improbidade, extorsão, fraude, homicídio, jogo do bicho, organização criminosa, peculato, receptação, violência doméstica e muitos outros. O crime de homicídio foi o que a gente mais achou nos arquivos dos tribunais. Trinta e seis policiais foram homenageados pelo clã em processos sobre a morte de 39 pessoas. E esses processos não são apenas sobre a morte de traficantes e bandidos.

Tinha gente ali que nunca passou pela polícia. Participar dessas operações violentas era um critério para se aproximar do Bolsonaro e ganhar medalha. Em 57 homenagens, a palavra morte foi citada como justificativa para o reconhecimento. Sim, são muitos números. Eu vou deixar eles na descrição desse episódio. E as principais histórias por trás deles, a gente vai te contar ao longo dessa temporada. Antes, eu quero te lembrar que, todas as vezes que a família Bolsonaro foi questionada sobre as homenagens a policiais com ficha suja, a resposta sempre foi na linha de que não é possível saber o futuro de um policial.

FLÁVIO BOLSONARO EM FEVEREIRO DE 2020: "Não adianta querer me vincular à milícia porque não tem absolutamente nada com milícia. Condecorei o Adriano [da Nóbrega] há mais de 15 anos, há mais de 15 anos. Como é que eu posso adivinhar o que ele faz de certo e errado? Hoje, depois de 15 anos, vão insistir com isso".

JULIANA DAL PIVA: Mas não é bem assim. A gente já falou até aqui que as políticas defendidas pelo Bolsonaro não combatem o crime. Para que que elas servem então? Para a multiplicação de votos, para criar currais eleitorais nas cidades. Já sabemos que esse é o principal interesse de políticos quando homenageiam e defendem policiais e até milicianos. E, para garantir esses resultados, esses políticos estão dispostos até mesmo a fechar os olhos para as atrocidades que esses homenageados promovem nas comunidades de onde saem esses mesmos votos.

Mas o que ganham esses policiais ao eleger esses candidatos? A certeza de que, depois de eleitos, esses políticos continuarão de olhos bem fechados. Eu vou te mostrar ao longo dessa temporada que essas premiações não são usadas para decorar paredes. Elas acabam sendo usadas por esses policiais como prova de bons antecedentes nos processos onde esses mesmos homenageados respondem por diversos crimes. Então, para os Bolsonaro, as homenagens representaram voto e poder.

A minha colega Elenilce conseguiu conversar com o Emir Larangeira. Ele é coronel da reserva e ex-comandante do 9º Batalhão, que fica na região de Rocha Miranda, na zona norte do Rio. Em 1991, o coronel foi eleito deputado estadual e chegou a ser acusado por uma testemunha de ser chefe dos Cavalos Corredores, que foi um grupo de extermínio apontado pelo assassinato de 21 moradores de Vigário Geral. Mas o coronel foi inocentado durante as investigações e não chegou a ser denunciado no processo. A gente queria entender essas relações entre os políticos e os policiais. O coronel opinou.

ELENILCE BOTTARI: "O que é normalmente o envolvimento do político, né, a interferência que todo mundo reclama de políticos na polícia?".

CORONEL EMIR LARANGEIRA: "Eu acho que é voto, né?".

ELENILCE BOTTARI: "Sim, pra eles, é voto. Mas e para o policial?".

CORONEL EMIR LARANGEIRA: "Para o policial, é poder, ele quer poder, pô. Ele ajuda um político atrás do poder. Eu, por exemplo, quando quero poder, eu sou candidato, como estou fazendo agora. Entendeu? Ou então eu ficaria quieto".

ELENILCE BOTTARI: "Mas você acha que a política ela é boa para polícia, não?".

CORONEL EMIR LARANGEIRA: "Não, não. É péssima. Eu sou PM. Nesta condição de PM, eu não estou nem aí, eu homenageio quem eu quiser e, se amanhã ou depois, o cara se envolver em uma bronca, eu não me sinto mal, porque eu também sou PM, tá entendendo? Essa condição de PM me deixa numa situação cômoda em relação a isso. Eu posso errar. Eu posso... Às vezes, a gente faz uma avaliação totalmente absurda de alguém. Eu acho que o que aconteceu com o Flávio Bolsonaro... Eu sempre digo o seguinte: tudo o que acontece com o presidente foi porque aconteceu com o filho dele... O presidente Jair Bolsonaro, eu acho que, se ele conheceu alguns desses PMs, foi porque o filho levou, essa é a verdade. Eu não sei quem homenageou quem. Também não sei porque esse grupo é um grupo humano que não passou por mim, né? E acho que quem tem que dar uma boa explicação para vocês aí é o próprio Flávio Bolsonaro, que homenageou, né? Supostamente foi ele".

JULIANA DAL PIVA: O professor Daniel Hirata também analisou essa proximidade por meio das homenagens.

SOCIÓLOGO DANIEL HIRATA: "Olha, nós tivemos até um certo período no Rio de Janeiro, condecoração por bravura, né? Ou seja, os policiais, eles tinham os seus rendimentos a partir, né, enfim, do reconhecimento da brutalidade das suas ações. Posteriormente, isso foi substituído por um pequeno período, né, enfim, em que as metas eram restabelecidas a partir de indicadores criminais. Era necessário baixar, né, esses indicadores criminais e não matar mais gente para que os rendimentos dos policiais fossem aumentados. Então há uma longa tradição no Rio de Janeiro de favorecimento ou de exaltação, né, enfim, do uso descontrolado da força. A família Bolsonaro, ela vem desta mesma lógica. Eles realmente estão empenhados em que o uso da força esteja cada vez mais desregulado do ponto de vista do Estado.

Brutalidade policial, corrupção policial, fazem parte de um mesmo círculo vicioso, né, enfim, que inclusive é alimentado pela pela falta de responsabilização legal. Nós temos dados em que mais de 99% dos inquéritos sobre mortes perpetradas por policiais eles são arquivados a pedido do próprio Ministério Público. Então você tem brutalidade, corrupção e falta de responsabilidade, impunidade, enfim, que cria um círculo vicioso que alimenta as próprias milícias. É esse que é o problema maior do Rio de Janeiro, que é o que via de regra muita gente não consegue compreender é que esses elementos favorecem o crime, não a ordem no Rio de Janeiro, né? E, no limite, são inclusive ameaças ao próprio Estado de Direito".

JULIANA DAL PIVA: A violência alimenta a corrupção policial. Isso foi uma coisa que nessa caminhada a gente ouviu muito nos últimos meses. Em geral, o policial assassino, miliciano, essa banda podre da polícia, que não é a maioria, mas que existe, nunca é só violenta. É corrupta também. E uma desculpa antiga que se mistura a isso é a ideia de normalizar os policiais que fazem bico de segurança. O próprio Bolsonaro começou a tratar isso como uma coisa normal. Algumas vezes ele mencionou isso em entrevistas aos jornais. Só que, ao fazer segurança privada, o policial está quebrando a hierarquia e a disciplina militar, que são as bases da força. E isso também é algo que o Bolsonaro estimulou ao longo da carreira dele. Em 1994, soltaram uma bomba de pequeno porte dentro do quartel general do Exército, em Brasília. Ninguém ficou ferido, mas causou um susto enorme. A bomba de fabricação caseira era um protesto pelos salários. Sabe o que o Bolsonaro disse ao comentar esse episódio?

JAIR BOLSONARO EM DECLARAÇÃO AO JORNAL O GLOBO LIDA POR ELENILCE BOTTARI: "Só não quero que soltem mais bombas nos quartéis. Mas sou a favor de que se soltem bombas fora deles, sem ferir ninguém, é claro. É a única maneira de chamar a atenção, já que ninguém faz nada. Temos mesmo que começar uma guerrilha".

JULIANA DAL PIVA: Naquele mesmo ano, o Bolsonaro também deu uma entrevista para o jornal O Globo sobre a campanha eleitoral. Uma das coisas que ele disse e que me lembra muito as coisas que ele fala hoje em dia é o seguinte: abre aspas é melhor sobreviver no regime militar a morrer nessa democracia brasileira. Fecha aspas. No final, o Bolsonaro comentou o problema da segurança no Rio e disse o seguinte.

JAIR BOLSONARO EM DECLARAÇÃO AO JORNAL O GLOBO LIDA POR ELENILCE BOTTARI: "O Rio precisa de autoridade. Hoje, por exemplo, todos os morros estão dominados pelo Comando Vermelho e tem propaganda do Garotinho. Onde eles não estão, não tem. O importante é recuperar a PM. Uma pessoa ganhando R$ 270 por mês não pode ter disposição para combater a criminalidade. Os salários deveriam ser iguais ou parecidos com os das Forças Armadas. Assim se expandiria o espaço para jovens mais gabaritados e não apenas, lamentavelmente, a escória da sociedade".

JULIANA DAL PIVA: Na cabeça do Bolsonaro, os jovens de origem humilde que se alistavam não eram bons o suficiente. Além disso, como ganhavam pouco, eles tinham que fazer bicos de segurança para se sustentar. Só que essa lógica, na prática, alimenta um problema. Muitos que seguiram esse caminho de arrumar um por fora nunca mais pararam e passaram a usar o treinamento da polícia para servir o crime. Essa é a história de como o capitão Adriano da Nóbrega começa no crime e vai parar num grupo de policiais chamado Guarnição do Mal.

Todos eles foram homenageados pelo Carlos e pelo Flávio em novembro de 2003. Nesse mesmo mês, eles tiraram a vida de um rapaz no Rio de Janeiro e foram acusados de torturar mais três pessoas. Os detalhes da relação do clã Bolsonaro com o Adriano eu vou te contar no próximo episódio, inclusive das vezes que o presidente Jair Bolsonaro foi na cadeia visitar o Adriano.

Este episódio usou áudios da Câmara dos Deputados, da CPI das Milícias, da TV Alerj, do programa "Pânico", da Jovem Pan, do evento do pacote anticrime, do YouTube de Eduardo Bolsonaro, do Domingo Espetacular, da TV Record, da TV Brasil, do Globo Repórter e do Jornal Nacional, da TV Globo.

O UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro é apresentado por mim, Juliana Dal Piva. A reportagem e pesquisa foram feitas por mim, Juliana Dal Piva, pela Elenilce Bottari e pela Naomi Matsui. A Elenilce também fez algumas narrações desse episódio. O roteiro foi escrito por mim, Juliana Dal Piva, e pela Elenilce Bottari, com revisão da Juliana Carpanez.

O desenho de som e a montagem são do João Pedro Pinheiro. A produção é da Natália Mota. O design é do Eric Fiori. A direção de arte é da Gisele Pungan e do René Cardillo. A coordenação é da Juliana Carpanez, da Lúcia Valentim Rodrigues e do Graciliano Rocha. O projeto também conta com Alexandre Gimenez e Antoine Morel, gerentes de conteúdo, e Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL. Agradecimentos a Pedro Cappeti, Flávio Costa, Igor Mello e Claudia Cotes.