Elite bolsonarista crê que grana dá direito de agredir Moraes e democracia
Os xingamentos ao ministro Alexandre de Moraes e a agressão física sofrida por seu filho por bolsonaristas no aeroporto de Roma, nesta sexta (14), reforçam que uma parte da elite de extrema direita, que tem mais acesso à informação sobre as consequências de atos como esse, continua propagando ódio e intolerância por acreditar que seu dinheiro a protege.
Entre os que estão sendo investigados pela Polícia Federal estão os empresários Roberto Mantovani Filho e Alex Zanatta, de Santa Bárbara D'Oeste (SP). "Não foi nada de tão extraordinário", disse Mantovani ao jornal O Estado de S.Paulo sobre a agressão. A declaração normaliza o ataque, como se atacar um ministro do STF e bater em sua família fosse algo corriqueiro.
O bolsonarismo, como movimento autoritário, negacionista, misógino, armamentista, miliciano e golpista, é naturalmente violento, independentemente da classe social do indivíduo que o professe. Contudo, o naco da elite brasileira que dele faz parte age como se tivesse um salvo-conduto para exercer a estupidez devido à sua posição economicamente privilegiada.
Durante a pandemia de covid-19, ricos bolsonaristas vieram a público dizer absurdos sobre as medidas de combate ao coronavírus - remédio amargo que salvou vidas. O empresário Júnior Durski, por exemplo, afirmou, em 2020, que "não podemos [parar] por conta de cinco ou sete mil pessoas que vão morrer". Com Bolsonaro sabotando o isolamento, apoiado por declarações como a dele, morreram mais de 700 mil.
Outro exemplo é Luciano Hang, investigado tanto por financiamento de milícias digitais de extrema direita quanto por apoio à realização de atos antidemocráticos, como os de 7 de setembro de 2022. Reportagem da Agência Pública apontou que sua empresa, a Havan, enviou caminhões para ajudarem nos bloqueios de rodovias contra a vitória de Lula. Ele mesmo incentivou golpistas publicamente ao dizer que "o Brasil precisa de mais gente como todos vocês, que vão para a luta, não aceitam o errado como verdadeiro".
Questionados sobre seus atos, ricos bolsonaristas sempre recorrem à liberdade de expressão como justificativa. Ou melhor, exigem tolerância para a sua intolerância, esquecendo que isso, inexoravelmente, leva à eliminação dos tolerantes e da tolerância.
Uma das diferenças entre o grupo privilegiado e a base mais humilde dos seguidores do ex-presidente é o farto acesso à informação. Dificilmente, a elite pode alegar ignorância ou ter sido alvo de manipulação. No caso deles, a adesão ao bolsonarismo tende a ocorrer não apenas pelo alinhamento ideológico, mas também pela constatação de que essa aliança garante privilégios. Foi assim com outros movimentos autoritários e totalitários ao longo do último século.
Por sua importância no papel de organizar a massa de manobra, empresários da banda radical do agronegócio e ricos comerciantes do interior estão sendo investigados pela Polícia Federal. Evidências mostram que eles financiaram a logística e a estrutura para os atos golpistas de 8 de janeiro. Há os que nem foram a Brasília, apenas mandaram os peões.
Muitos agiram por acharem estar respaldados por sua conta bancária e influência política. Traduzindo: a impressão de que rico raramente vai preso. Mas exatamente a ação diligente de Alexandre de Moraes, tanto no Tribunal Superior Eleitoral quanto no Supremo Tribunal Federal, está apagando essa percepção. E os que financiaram a tentativa de golpe entendem que podem ser punidos.
Isso dobra a revolta contra o ministro por parte dos ricos bolsonaristas, que, por outro lado, não abandonaram o sentimento de que estão acima da lei. E cenas como a agressão do aeroporto em Roma vão se repetir com esse somatório de fatores. Porque a cúpula do bolsonarismo continuará jogando seus seguidores, ricos e pobres, contra as instituições. Por isso, nunca foi tão importante punir Bolsonaro por seus crimes.
Em tempo: ao longo dos anos, já fui derrubado e espancado na rua, levei garrafada na cabeça, alvo de frutas podres, perseguido até a porta da minha casa, recebi ameaças de morte frente a frente por conta do que escrevi. A agressão física por parte da extrema direita não é algo apartado das campanhas de ataques digitais, mas sua consequência natural. Nos ataques físicos que recebi de ricos, identifiquei uma arrogância em especial. Por exemplo, em uma esquina de São Paulo, um carrão abriu o vidro e de dentro uma mulher me cuspiu e xingou tempos atrás. Para ela, aquilo era a coisa mais normal do mundo.